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A revolução que almirante Reis julgou falhada e o levou ao suicídio

Assinala-se esta quinta-feira o 107.º aniversário da Implantação da República em Portugal. Ironia do destino, o homem que delineou a revolução, e que dá hoje nome a ruas e a avenidas, não chegou a viver um segundo que fosse do Portugal republicano.

A revolução que almirante Reis julgou falhada e o levou ao suicídio
Notícias ao Minuto

08:00 - 05/10/17 por Melissa Lopes

País República

Foi há 107 anos que, da varanda da Praça do Município, em Lisboa, e perante uma multidão em êxtase, foi proclamada a República. Não terá sido uma surpresa. Foi antes o desfecho da degradação do poder monárquico no país, contaminado, claro, pelos ares republicanos franceses e espanhóis. A revolução que pôs fim à monarquia começou na noite de 3 para 4 de outubro.

O Exército, a Marinha e o Partido Republicano estiveram envolvidos. No entanto, o êxito da missão foi muitas vezes posto em causa, levando até a que o chefe da revolução, almirante Reis [Cândido dos Reis], acreditando que tudo tinha falhado, se tenha suicidado, menos de um dia antes da proclamação da República.

De resto, a maioria das unidades militares comprometidas no movimento não chegou a revoltar-se e muitos oficiais do exército, julgando tudo perdido, haviam abandonado a 'missão'.

No dia 3 de outubro, ao saber-se que o então chefe do governo, Teixeira de Sousa, tinha sido avisado do golpe republicano e pusera de prevenção as tropas leais à causa monárquica, a maioria dos chefes republicanos propôs um adiamento do golpe. Cândido dos Reis opôs-se. Após a reunião dos implicados militares na Rua da Esperança, Cândido dos Reis tomara a decisão de não adiar, mais uma vez, a insurreição. A revolta era para continuar.

Contudo, deparou-se com várias contrariedades, que o levaram a perder a "esperança" no movimento. Depois de uma tentativa falhada de pôr em funcionamento uma das embarcações, Cândido dos Reis saltou para bordo de outro vapor, "onde logo despiu o sobretudo e pôs na cabeça o boné agaloado", acompanhado por diversos outros oficiais da Armada. Foi então que surgiu a notícia de que estava "tudo perdido, tudo perdido!... Infantaria 16 saiu para a rua e está a fuzilar o povo que foi assaltar o quartel". Desesperado, Cândido dos Reis volta a vestir o sobretudo e o chapéu de coco e ordena aos oficiais da Armada que o acompanham que "vão para suas casas", lê-se num artigo de arquivo da Fundação Mario Soares. 

Dirige-se aos Banhos de S. Paulo [onde é hoje a sede da Ordem dos Arquitetos], onde estava montado o quartel general dos revolucionários, exclamando "Já não há portugueses!". Interpelado por Afonso Costa, que o julgava a bordo dos navios sublevados, respondeu que tinha perdido a esperança no movimento. "Não sei o que hei-de fazer", desabafou, acrescentando que tinha o pressentimento de que estava "tudo perdido". 

Decide refugiar-se em casa das irmãs. Vê as movimentações da cavalaria da Guarda Municipal - "Estranho isto. Em vez de agitação revolucionária, só se vê polícias e tropas de prevenção". E conclui: "Para uma esquadra, não! Ah! Isso, não!...". Vem a aparecer morto nessa madrugada. Suicídio ou, como se suspeitou, assassínio? A tese de suicídio venceu a de homicídio dadas as suas conhecidas crises de entusiasmo, seguidas de profundas crises de depressão. Era, além disso, hipocondríaco. O seu cadáver deu entrada na morgue pelas 8 da manhã. No dia seguinte, dá-se a Implantação da República. 

O triunfo do republicanismo, uma inevitabilidade do tempo

Por volta de 1870, o republicanismo era, para muitos, a única solução para o problema político português. O exemplo europeu, com a república implantada em Espanha, em 1868, e dois anos mais tarde em França, frutificam na sociedade lusa a existência de uma geração de universitários politicamente preparada e uma pequena classe média em ascensão. O poder monárquico estava, portanto, com os dias contados, até porque o rei não encontrava ninguém disposto a correr riscos por sua causa.

Assim, e dado o triunfo da revolução, às 9 horas de 5 de outubro, Eusébio Leão, José Relvas e outros dirigentes do partido republicano proclamam a república, diretamente da janela da câmara, com a Praça do Município repleta de uma multidão que os aplaude. De pronto, a família real embarca em direção a Gibraltar para o exílio.

Os 107 anos do republicanismo em ambiente de euforia no PS e de cortar à faca no PSD

O dia de hoje, 5 de outubro, o segundo da era de Marcelo Rebelo de Sousa, vai ser festejado num ambiente pós eleitoral de euforia para o Partido Socialista e num cenário de completa rutura no PSD. O partido de Passos Coelho teve o pior resultado de sempre nestas eleições autárquicas, o que levou vários socias-democratas de peso a quererem 'empurrar' Passos Coelho para fora da liderança. E conseguiram. Passos Coelho já tomou a decisão, não se vai recandidatar a um próximo mandato. Enquanto isso, já se 'ouvem' os passos de Rui Rio, bem como ecoam os de outros 'pesos pesados' do partido.

Do lado do PS, por seu turno, vive-se um ambiente de leveza e de euforia. Se o PSD teve o pior resultado de sempre nas autárquicas, o PS teve o melhor. A conquista autárquica, conjugada com os sucessos governamentais, colocam o PS nas nuvens. Fá-lo-ão descer à terra, claro, as últimas negociações com os partidos que sustentam o Governo para elaborar a proposta de Orçamento do Estado. Um capítulo sempre áspero para esta solução governativa.

É neste contexto, e um dia depois do primeiro debate quinzenal desta legislatura, que é comemorado o 5 de Outubro. Na agenda de António Costa, a cerimónia comemorativa terá lugar às 11 horas na Praça do Município, em Lisboa. Segue-se depois, pelas 15 horas, a inauguração da 'Arte em São Bento - Serralves 2017', na residência oficial do primeiro-ministro. A exposição é aberta ao público, e de forma gratuita, a partir das 15h30.  Meia hora depois, o primeiro-ministro e o ministro da Cultura entregam a medalha de Mérito Cultural à Orquestra Jazz de Matosinhos, que dará depois um concerto. 

O Presidente da República, por seu lado, condecorará ,com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, António Barreto e, a título póstumo, D. Manuel Martins e Maria de Lurdes Pintassilgo, numa cerimónia que se realiza às 13h00 no Palácio de Belém.               

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