Na próxima segunda-feira, 18 de dezembro, assinala-se o Dia Internacional dos Migrantes, data proclamada há 17 anos pela Organização das Nações Unidas (ONU). Numa altura em que as crises humanitárias que se vivem, por exemplo, na Líbia, no Bangladesh ou, sem esquecer apesar de já não fazerem capas de jornais, nas portas da Europa, discutir o acolhimento de refugiados e migrantes é de enorme importância.
É precisamente para “apelar à sensibilização e promoção da hospitalidade” que o Mercado de Culturas, na freguesia de Arroios, em Lisboa, vai receber um evento organizado pelo Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS), em que se pretende debater as respostas sociais que podem contribuir para uma melhor política de acolhimento, bem como o contributo que os próprios migrantes e/ou refugiados podem dar aos países de acolhimento.
O tema escolhido para o evento é “Da hostilidade à hospitalidade” e não é por acaso que o mesmo se realiza em Arroios, certamente uma das freguesias mais multiculturais de Portugal. Como afirma André Costa Jorge, diretor do JRS, “hostilidade e hospitalidade são dois conceitos foneticamente semelhantes, mas que não podiam ser mais antitéticos”.
Quando pensamos em hostilidade, o nome de Donald Trump surge quase de imediato. Exemplo disso, é a política de veto migratório do presidente norte-americano a vários países, sobretudo muçulmanos, como Irão, Líbia, Síria, Iémen ou Somália. No entanto, não precisamos de sair da Europa para ver exemplos de hostilidade.
Em plena crise de refugiados, como acabou por ser denominada a vaga de fuga de pessoas de zonas de guerra e conflito, a maior desde a Segunda Guerra Mundial, às portas da Europa ergueram-se muros, perseguiram-se refugiados, isto enquanto Itália e Grécia ficaram sem capacidade para receber tantas pessoas. Os restantes países da União Europeia, sendo a Alemanha uma das poucas exceções, não demonstraram vontade suficiente para acolher os milhares que procuravam refúgio, como denunciaram e denunciam, sucessivamente, as Nações Unidas e diversas organizações de defesa dos direitos humanos. Recentemente, a Amnistia Internacional acusou mesmo os governos europeus de serem “conscientemente cúmplices” de abusos sobre migrantes e refugiados retidos na Líbia.
"A hospitalidade como valor fundamental"
Para combater esta hostilidade e desconstruir ideias negativas da sociedade face aos migrantes e aos refugiados, o evento de segunda-feira pretende fazer uma reflexão e, em oposição, salientar “a importância de trazer para o espaço público a ideia da hospitalidade como valor fundamental a defender e a colocar em ação nas nossas sociedades”, afirma André Costa Jorge. “As constantes violações dos direitos humanos face aos migrantes levam-me, enquanto responsável pelo Serviço Jesuíta aos Refugiados, a fazer uma breve reflexão sobre a hostilidade exercida sobre estas pessoas”, justifica.
© Serviço Jesuíta para os Refugiados
Apesar de Portugal demonstrar vontade de receber mais refugiados – o Governo disse mesmo estar disponível para receber mais mil refugiados – ainda há um longo caminho a percorrer. Até ao momento, o nosso país recebeu, segundo um relatório de novembro da Comissão Europeia, 1.507 refugiados recolocados da Grécia e de Itália, um número muito aquém dos 2.951 com que se comprometeu com as instituições europeias.
A juntar a isto, são de salientar algumas dificuldades burocráticas que tornam o acolhimento mais difícil. Não obstante, a Comissão Europeia pretende manter o regime de recolocação da União Europeia, adotado em julho de 2015, num acordo com a Turquia. No total, 25.739 refugiados foram reinstalados na Europa segundo este programa, números do mesmo relatório da Comissão.
Estas serão algumas questões que serão debatidas no Mercado das Culturas, onde estarão presentes André Costa Jorge, diretor do JRS Portugal, Paulo Almeida Sane, especialista em assuntos europeus Vasco Pinto Magalhães, padre jesuíta membro do conselho de direção da revista Brotéria, Paula Guimarães da GRACE e da Fundação Montepio, ou Johnson Semedo, fundador da Academia do Johnson.
Depois do debate na mesa redonda, que começa às 15h00, seguem-se dinâmicas de grupo, entrevistas e cocktails. O evento prolonga-se pelo resto da tarde. Acima de tudo, pretende-se estimular o diálogo de forma a que todos e todas, independentemente da cultura ou religião, se possam conhecer melhor.