Foi no ano de 2000 que José Amoroso viria a conhecer uma modalidade que mudaria para sempre a sua forma de ver o desporto. Tudo aconteceu em Bruges, na Bélgica, onde o agora professor adjunto do IP Leiria, se encontrava a estudar no âmbito do programa de intercâmbio Erasmus e onde um disco passou a ganhar mais importância do que uma bola.
Atleta federado de várias modalidades, incluindo andebol e voleibol de praia, José encontrou na Bélgica um desporto que o deixou impressionado em vários aspetos. Falamos do Ultimate Frisbee.
“Ao observar as técnicas de lançamento, acabei por ficar rendido pelo voo do disco e a precisão de passe e espetacularidade que o jogo evidencia”, conta ao Notícias Ao Minuto o professor, que ficou ainda “fascinado pela ausência de árbitro” e com “a avaliação da equipa adversária através da folha de espírito de jogo (SOTG – Spirit of the game)”.
Regresso a Portugal faz-se com o 'frisbee na mala' para (quiçá) novos lançamentos
Regressado a Portugal, o jovem estudante não quis deixar para trás a modalidade, que considera “extraordinariamente diferenciadora ao nível da autoconsciência” e está mesmo a tentar torná-la parte do programa nacional de Educação Física.
“É um desporto diferente ao nível do ecleticismo, da multilateralidade e da inclusão. Tratando-se ainda de uma modalidade em que o material não é dispendioso e é de fácil acesso”, defende José Amoroso, que realça também o facto de esta promover “a equidade de género”, uma vez que é jogado por equipas mistas, e de o "prémio do primeiro classificado da competição ser de tamanho inferior ao prémio da equipa com maior espírito de jogo”.
"Um desporto diferente ao nível do ecleticismo, da multilateralidade e da inclusão"© José Amoroso
“[Estes] são por si novos indicadores do que o Desporto necessita para voltarmos ao tempo do Pierre de Coubertin, em que excelência, a amizade e o respeito eram palavra de ordem e que hoje aparecem um pouco esquecidos ou mesmo alterados”, atira.
Paixão pele Frisbee leva ao lançamento de... uma obra
A luta para tornar o sonho realidade, e que conta já com 18 anos, tem sido percorrido aos poucos e, acredita José, “está cada vez mais perto de ser real”. Faz parte deste caminho o lançamento do livro ‘Programa Ultimate e Desportos de Disco nas Escolas – 2015/2016’, da autoria do próprio.
A obra é “o culminar de parcerias com o Desporto Escolar, com o Plano Nacional de Ética Desportiva” e foi “criado para ajudar os meus colegas de Profissão e sempre com o objetivo de dignificar uma profissão muitas vezes desvalorizada no mundo académico, onde a matemática e o português" imperam.
Pretende-se que livro seja um manual de apoio para professores © José Amoroso
Para José Amoroso é necessário colocar a Educação Física em “pé de igualdade” com outras disciplinas, para um “crescimento mais saudável e harmonioso por parte dos alunos”. Em 2005 certificou uma ação de 25 horas no conselho científico de Braga, acreditada, para que desta forma conseguisse mostrar a modalidade nas escolas, como matéria alternativa. E a resposta tem sido positiva.
O que ainda falta fazer
A passo e passo, José vê o sonho cada vez mais perto mas continuam a surgir sempre adversidades, sobretudo num país que, segundo o próprio, “apresenta várias dores de crescimento”. Tudo começa por um programa nacional em que os professores assinam um contrato e a “obrigatoriedade” de cumprir (com o programa) que o Grupo de Educação Física de uma escola planeia no início de cada ano letivo.
O Presidente da Associação Portuguesa de Ultimate e Desportos de Disco (APPUD) e embaixador PNED tem-se multiplicado em funções de forma a dar a conhecer a modalidade a muito mais pessoas. Para isso, criou o ‘Leiria Flying Objects – LFO’, realizou uma tese de mestrado sobre a modalidade, tem-se reunido com Professores e Responsáveis pelo Desporto Escolar e irá realizar um Encontro Escolas no dia 2 de maio de 2018, no Estádio Magalhães Pessoa em Leiria.
O que ainda continua a faltar? "Nesta fase encontra-se nas mãos do poder político e cabe aos decisores deste país perceberem se será uma mais-valia. sendo que, a APUDD necessita de apoio de um, ou vários, patrocinadores que potenciem a sua concretização/proliferação", explica-nos.
Para José Amoroso, o percurso tem sido feito com "vários problemas, várias derrotas e pequenas conquistas", mas continua sempre a acreditar que este "trabalho pro bono dignificará o desporto e contribuirá seguramente para um desenvolvimento mais harmonioso, mais consciente e numa visão de educação não formal, muito direcionada para os valores morais".