"O Sr. Manuel Clemente é veículo litúrgico em rota de colisão com a vida"

Em declarações ao Notícias ao Minuto, Carlos Esperança, presidente da Associação Ateísta Portuguesa (AAP), comentou o documento publicado por D. Manuel Clemente em que é referido que os casais recém-casados, após um divórcio, deve optar pela abstinência sexual.

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Inês André de Figueiredo
09/02/2018 08:10 ‧ 09/02/2018 por Inês André de Figueiredo

País

Carlos Esperança

D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa, defendeu que casais que se encontram "em situação irregular", isto é, que se voltaram a casar após um divórcio, devem ter uma "vida em continência na nova relação".

Em reação a tais palavras proferidas num documento divulgado na quinta-feira pelo jornal Público, Carlos Esperança, presidente da Associação Ateísta Portuguesa (AAP), deixa duras críticas ao bispo da diocese de Lisboa, ressalvando que este “não é seguramente tão dotado quanto os seus antecessores” e recordando que para haver posições tão reacionárias é necessário “recuar ao cardeal Cerejeira”.

“A recomendação, expressa num documento canónico, é um paradoxo na Igreja que atribui ao casamento, como função primordial, a prossecução da espécie. E não se vê, sem inseminação artificial, prática que abomina, como é possível a reprodução enjeitando o método tradicional e o mais popular”, começa por explicar Carlos Esperança ao Notícias ao Minuto.

O presidente da AAP vai mais longe: “se o ilustre purpurado tivesse amado uma só vez, o que não me atrevo a admitir, talvez fosse mais compreensivo com a prática que execra e, quem sabe, em vez de a condenar, a praticasse”.

E é (também) metaforicamente que Carlos Esperança reage à defesa de D. Manuel Clemente. “Um casamento sem relações sexuais é como o voo de um crocodilo, que, se acaso voa, voa muito baixinho”. “O Sr. Manuel Clemente, perdoe-me Eminência, não passa de um veículo litúrgico em rota de colisão com a vida. Pode ser uma glória para a Igreja, mas é uma nódoa no prémio Pessoa”, atira Carlos Esperança. “Fazia-lhe bem um orgasmo”, insinua, em jeito de ironia.

Além do documento que foi alvo de muitas críticas, o ateu garante ainda que lhe são “indiferentes os sacramentos que a Igreja católica reserva aos crentes ou ao seu rateio”, mas assegura que não é “alheio à hipocrisia de quem liderou os interesses eclesiásticos na chantagem ao Governo, na defesa de subsídios públicos para as escolas privadas”.

“O purpurado a quem o Presidente da República em volúpia beija o anelão, sem respeito pelas funções que exerce, pôs o país a rir. Foi talvez a única coisa boa que já fez, capaz de unir ateus e crentes, agnósticos e devotos da concorrência, céticos e ingénuos, num festival de riso”, critica.

Esta quinta-feira, saliente-ss, o padre Mário Pais Oliveira já havia falado sobre o tema ao Notícias ao Minuto, assegurando que “tanto disparate não merece comentário”. 

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