D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa, defendeu que casais que se encontram "em situação irregular", isto é, que se voltaram a casar após um divórcio, devem ter uma "vida em continência na nova relação".
Em reação a tais palavras proferidas num documento divulgado na quinta-feira pelo jornal Público, Carlos Esperança, presidente da Associação Ateísta Portuguesa (AAP), deixa duras críticas ao bispo da diocese de Lisboa, ressalvando que este “não é seguramente tão dotado quanto os seus antecessores” e recordando que para haver posições tão reacionárias é necessário “recuar ao cardeal Cerejeira”.
“A recomendação, expressa num documento canónico, é um paradoxo na Igreja que atribui ao casamento, como função primordial, a prossecução da espécie. E não se vê, sem inseminação artificial, prática que abomina, como é possível a reprodução enjeitando o método tradicional e o mais popular”, começa por explicar Carlos Esperança ao Notícias ao Minuto.
O presidente da AAP vai mais longe: “se o ilustre purpurado tivesse amado uma só vez, o que não me atrevo a admitir, talvez fosse mais compreensivo com a prática que execra e, quem sabe, em vez de a condenar, a praticasse”.
E é (também) metaforicamente que Carlos Esperança reage à defesa de D. Manuel Clemente. “Um casamento sem relações sexuais é como o voo de um crocodilo, que, se acaso voa, voa muito baixinho”. “O Sr. Manuel Clemente, perdoe-me Eminência, não passa de um veículo litúrgico em rota de colisão com a vida. Pode ser uma glória para a Igreja, mas é uma nódoa no prémio Pessoa”, atira Carlos Esperança. “Fazia-lhe bem um orgasmo”, insinua, em jeito de ironia.
Além do documento que foi alvo de muitas críticas, o ateu garante ainda que lhe são “indiferentes os sacramentos que a Igreja católica reserva aos crentes ou ao seu rateio”, mas assegura que não é “alheio à hipocrisia de quem liderou os interesses eclesiásticos na chantagem ao Governo, na defesa de subsídios públicos para as escolas privadas”.
“O purpurado a quem o Presidente da República em volúpia beija o anelão, sem respeito pelas funções que exerce, pôs o país a rir. Foi talvez a única coisa boa que já fez, capaz de unir ateus e crentes, agnósticos e devotos da concorrência, céticos e ingénuos, num festival de riso”, critica.