A ministra da Cultura disse no Parlamento que a não redução do IVA dos bilhetes para os espetáculos tauromáquicos “não é uma questão de gosto, mas sim uma questão de civilização”.
Mas para Miguel Sousa Tavares, a “civilização, o civismo e o gosto é tudo subjetivo”, pois o significado que tem para umas pessoas pode não ter para outras.
E, por isso, considera que está a “crescer uma perseguição às touradas” fomentada por André Silva, o deputado do PAN que “sozinho aterroriza todo o Parlamento”.
“Ele mete mais medo do que um touro selvagem na arena”, refere o comentador, lembrando que “qualquer ditadura imposta em nome do gosto de uma maioria é sempre uma ditadura e é perigosa”.
Sousa Tavares refere ainda a “importância” da tauromaquia no que à “cultura e economia” diz respeito, lembrando que “há muita gente que vive disto” e que este é um setor que “dá emprego a muita gente”.
Nesta senda, o comentador garantiu que não é aficionado, mas que fica revoltado com o facto de as corridas de touros serem transmitidas na televisão já noite dentro.
“Dizem que é para não impressionar os menores com a crueldade do espetáculo, mas os menores veem coisas muito piores em horas normais na televisão até mesmo nos videojogos e nas redes sociais”, diz Sousa Tavares referindo-se a uma corrida transmitida na RTP que terminou pelas 02h00.
E sobre este tema, o escritor afirma que esta limitação televisiva “não é para proteger os menores da crueldade do espetáculo, é porque a corrida foi de tal maneira bonita que têm medo que os jovens gostem da tourada”.
“Essa é a verdade, foi um ato de censura. É assim que começa, uma maioria impõe a sua ditadura do gosto e é assim que nascem os bolsonaros. Não é esta uma decisão típica de bolsonaros também?”, remata.
Greve dos juízes: “Não se pode ter sol na eira e chuva no nabal”
Miguel Sousa Tavares não compreende a greve anunciada pelos juízes. Aliás, diz mesmo que é algo que lhe faz “confusão” porque são um “órgão de soberania” e “da mesma forma que não concebemos que o Presidente da República ou o primeiro-ministro ou os deputados façam greve, então também não podemos conceber que os juízes façam”.
“Acho que a greve é inconstitucional nesse ponto de vista”, refere, defendendo que se os juízes “têm um estatuto de independência dos outros poderes" e, por isso, não se consideram funcionários públicos então não se podem considerar funcionários públicos para “fins sindicais”.
“Não se pode ter sol na eira e chuva no nabal”, destaca.