Moção de censura: "Hoje, o ilusionismo socialista chegou ao fim"
A líder do CDS oficializou a moção de censura ao Governo e justificou a iniciativa contra com o "caos" que se instalou no país, com a insatisfação e contestação social a aumentar. Assunção Cristas acusou o Governo de colocar o partido à frente do país e de estar "preso às ideologias radicais dos parceiros" e desafiou os partidos (PSD incluído) a clarificar a sua posição.
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Política Assunção Cristas
À hora anunciada, 16h00 em ponto, Assunção Cristas confirmou a apresentação de uma segunda moção de censura ao Governo. A decisão foi comunicada a partir da sede do partido, depois de o núcleo duro do CDS-PP ter estado reunido a preparar o texto.
“Esta legislatura começou com a economia a crescer, com o desemprego em queda e com o ambiente internacional extraordinariamente favorável. Perante uma oportunidade única para reformar, o Governo fez escolhas setoriais, em vez de investir no interesse nacional”, começou por justificar a líder centrista, sustentando a segunda moção de censura apresentada contra o Executivo de Costa.
Assunção Cristas acusa o Governo de estar "permanentemente preocupado com a sobrevivência política da sua criação" e de ter colocado "o partido à frente do país" .
"Prometeu tudo a todos, comprou a paz social enquanto existiu dinheiro, mas não fez as reformas que eram necessárias e empurrou os problemas com a barriga na esperança de que o tempo as resolvesse", afirmou, prosseguindo nas críticas ao Executivo.
"Preso às ideologias radicais dos parceiros que lhe permitem manter o poder, o Governo foi revertendo muito, fazendo pouco e tentando com um a gestão hábil de expetativas e de comunicação criar a ideia de que tudo estava melhor, apostando nas meias verdades, na tradição da velha escola socrática", contestou.
Para a líder dos centristas, ao mesmo tempo que o Governo "afirmava o discurso do virar a página da austeridade, cresceram os impostos diretos (…), e as cativações aumentaram para níveis nunca antes vistos, ao mesmo tempo que falava na importância do investimento público e na melhoria dos serviços, Portugal ficou com o investimento público em mínimos históricos e os serviços entraram em colapso".
Mas "hoje, o ilusionismo socialista chegou ao fim. Já não há propaganda capaz de disfarçar a realidade. A verdade foi aparecendo, aos poucos, aos olhos de todos. Não se pode enganar todas as pessoas todo o tempo", atirou.
Esta é a segunda moção de censura que os centristas apresentam ao Executivo de António Costa, sendo que a primeira foi em outubro de 2017, depois dos incêndios que causaram dezenas de mortos. Nessa altura, a moção era justificada pelo partido pelo facto de o Estado ter falhado na proteção de pessoas.
Desta vez, contudo, o âmbito da moção de censura é mais alargado, abarcando aquilo a que o CDS apelida de "degradação dos serviços públicos", com especial enfoque para o caso da saúde.
“Os serviços públicos colapsaram”
Assunção Cristas justificou também esta moção de censura com o “colapso” dos serviços públicos, acusando o Governo de ser de “serviços públicos mínimos” e de “carga fiscal máxima”
“As pessoas aperceberam-se que ao início do mês têm um pouco mais de dinheiro, mas quando chegam ao fim do mês estão com muito menos do que tinham anteriormente”, argumentou, responsabilizando o Executivo de Costa de “má gestão”, de “excesso de promessas” e de ter criado um “sentimento de engano”.
Tal forma de atuação, continuou, gerou “o caos que vivemos neste momento, com uma insatisfação social crescente e uma contestação social que não para de crescer”.
Para o CDS, “o caso mais gritante do que se está a passar é a saúde”, constatando que “apesar do esforço de todos os profissionais, o SNS dá uma má resposta” (…) “não podemos aceitar que os doentes tenham de levar lençóis de casa”, exemplificou.
A par da má resposta do SNS, Cristas sinalizou na sua justificação o aumento das dívidas aos fornecedores e “o número assustador de médicos e direções clínicas” que se demitiram.
Enquanto isso, aos olhos de Cristas, “assistimos a uma deriva ideológica de Esquerda”. “Para o CDS, a ideologia não pode estar acima da saúde dos portugueses, nem pode ser arma de negociação partidária”, disse, acusando o Governo de “preconceito ideológico” na área da saúde.
“Por preconceito ideológico, o Governo quer retirar o setor social e o setor privado da prestação de cuidados públicos de saúde. Por preconceito ideológico, o Governo manda acabar com a PPP de Braga. Por puro preconceito ideológico, a Esquerda deixa a ADSE chegar a um estado de rutura e relega os interesses dos beneficiários, que são os financiadores do sistema, para segundo plano”, realçou.
Desafio aos partidos (PSD incluído)
Na exposição dos argumentos, Cristas desafiou os partidos políticos, incluindo o PSD, a clarificar posições quanto ao Governo no debate da moção de censura, que hoje anunciou, e disse ter informado o Presidente da República desta iniciativa.
Este é um "momento de clarificação para todas as forças partidárias", como PCP, BE e PEV, que apoiam o executivo, mas também para o PSD, admitindo que o CDS não tem medo de "ficar sozinho" no momento da votação da moção porque "tem liderado a oposição ao governo das esquerda unidas".
E quanto às expetativas do voto do PSD, partido que apoiou a moção centrista apresentada em 2017, pouco disse, a não ser que "cada um fará a sua análise".
Assunção Cristas garantiu ainda que informou previamente o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, antes de anunciar a apresentação da moção de censura.
"Dei nota ao Presidente da República desta iniciativa", afirmou, sem adiantar mais do que falou com o chefe do Estado, que tem defendido o princípio da estabilidade, e a quem, há uma semana, pediu que interviesse e mediasse o conflito entre o Governo e os enfermeiros em greve.
Esta moção surge numa altura em que o Governo se prepara para fazer uma remodelação no Executivo, coincidindo também com uma fase de contestação social.
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