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"Ameaçado", CDS agarrou em "arma" e disparou tiro contra PS(D)

Os politólogos António Costa Pinto e Adelino Maltez analisam a moção de censura ao Governo apresentada pelo CDS. Na prática, o que Assunção Cristas fez foi apontar canhões ao PSD, em vésperas de pré-campanha eleitoral.

"Ameaçado", CDS agarrou em "arma" e disparou tiro contra PS(D)
Notícias ao Minuto

08:00 - 16/02/19 por Melissa Lopes

Política Análise

O CDS avançou esta sexta-feira com uma moção de censura ao Governo, a segunda nesta legislatura. A primeira, em 2017, tinha como objeto os incêndios que ceifaram dezenas de vidas.

Agora, o âmbito é mais alargado e incide sobre a “degradação dos serviços públicos”, sendo a saúde o exemplo mais “preocupante” disso mesmo, justificou Assunção Cristas que acusou o Governo de se preocupar mais com o partido do que com o país.

A líder do CDS apontou ainda canhões aos partidos (incluindo o PSD) aos quais pediu que clarificassem a sua posição em relação ao Governo. Do lado dos parceiros do Governo, Bloco e PCP, a resposta não tardou. Sem demoras, logo após a declaração de Cristas, ambos os partidos anunciaram que votariam contra a moção, apelidando a iniciativa centrista de “encenação” com objetivos puramente de disputa eleitoral no terreno da Direita.

E é esse também o entendimento de António Costa Pinto. “Dada a incerteza à Direita do espectro político, com o aparecimento de dois novos partidos, trata-se de uma iniciativa política para, por um lado, dar saliência ao CDS, e por outro lado, testar a posição do PSD que é a única força ainda representada no Parlamento”, observa o politólogo ao Notícias ao Minuto.

Aliás, como refere o investigador, não é primeira vez que é apresentada uma moção de censura que não serve efetivamente para “ter um impacto nas instituições”, mas que serve mais para ter impacto “a nível discursivo em ambiente pré-eleitoral”. Ou seja, trata-se de um instrumento político para “dar a oportunidade de falar da onda de contestação social e (...) para salientar o abrandamento da economia portuguesa”, e outros fatores menos positivos desta governação.

Mesmo estando esta moção chumbada antes mesmo de nascer, irá esta iniciativa fragilizar o Governo? ‘Nim’. Na opinião de Costa Pinto, haverá alguma "saliência discursiva negativa" porque se dá numa conjuntura de crise na ADSE na relação com os privados, de greve dos enfermeiros, e de contestação social”, no entanto, “o impato é dificilmente mensurável”.

O presidente do PS, recorde-se, desvalorizou esta moção de censura e considerou que a iniciativa tinha como propósito atingir o PSD, partido que o CDS ambiciona ultrapassar. “Esta moção de censura não é uma iniciativa política do CDS que olhe de frente o país, é uma iniciativa que olha de lado o PSD”, acusou Carlos César, sublinhando que esta moção “procura sobretudo embaraçar o PSD, aproveitando-se da desorientação política que ocorre com a sua atual liderança e barrar caminho à ascensão de outros partidos considerados emergentes”.

Estamos mesmo perante um ataque ao PSD?

Costa Pinto diz que “não será um ataque”, mas sim uma reação de um partido que se sente “ameaçado”. “No campo da Direita, perante o que já está em marcha, o partido de Santana Lopes, e eventualmente a campanha de Ventura, trata-se de dar saliência fundamentalmente ao CDS, colocando o PSD numa conjuntura de opção”, constata, acrescentando que os ganhos dos centristas com esta iniciativa são apenas “simbólicos”.

Os estudos que temos apontam para que não há uma relação muito grande no crescimento do CDS tendo em vista a eventual descida do PSD. Mas convém não esquecer, e é sempre assim, perante um terceiro candidato a representar a Direita, obviamente que o pequeno partido de Direita é o mais ameaçado”, termina.

Objetivo do CDS é irritar e incomodar PSD

Adelino Maltez têm um entendimento semelhante. O politólogo encara esta moção de censura do CDS como algo perfeitamente normal num sistema democrático parlamentar. "É o exercício do direito de um partido de oposição", comenta ao Notícias ao Minuto, referindo que o CDS tinha esta "arma" à disposição - a moção de censura - e "disparou o tiro". 

Para este investigador, no fundo, Cristas quis com esta moção de censura agendar um debate, ter o poder de o marcar e ter tempo de antena.

Salientando que o "Governo tinha perfeita previsibilidade" em relação a esta iniciativa do CDS, Adelino Maltez defende que a moção já serviu para duas coisas: "Dizer que a coligação continua e para a [Assunção] Cristas dizer que factualmente é a líder da oposição para irritar o PSD". No que toca à rápida reação do PCP e do BE,  que vieram logo anunciar que votariam contra, o politólogo comenta que nem sequer criaram "suspense", confirmando a tomada de posição a continuidade da Geringonça. 

Todavia, o centro do alvo do CDS é, também na opinião de Maltez, o PSD, sendo um dos objetivos de liderança dos centristas incomodar o 'velho' amigo. "Esta moção é mais contra o PSD do que contra o PS", observa o politólogo e professor universitário, acrescentando que, desta forma, "não se fala tanto no Santana Lopes", cujo partido está a emergir no espectro político da Direita que se apresenta fragmentado. 

Apesar de a moção de censura não ter pernas para andar, Assunção Cristas "já ganhou", conseguindo penetrar no espaço mediático e na agenda política. "Um dos objetivos da moção é ter tempo de antena e conseguiu", simplifica Maltez, classificando esta iniciativa como uma moção política pré-eleitoral normal. "Tudo isto rotina", acrescenta ainda, lamentando que o Parlamento português seja "aborrecido":

"É muito sensaborão, muito apático, muito previsível. O Parlamento tem que ter uns aliciantes para nos entusiasmar, se não não tem notícia", finaliza. 

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