O cabeça de lista socialista no círculo eleitoral Fora da Europa falava num almoço-comício com muitos militantes e simpatizantes socialistas, em que esteve presente o antigo candidato a secretário-geral do PS e ex-eurodeputado Francisco Assis.
Na segunda parte do seu discurso, com cerca de 16 minutos, Augusto Santos Silva referiu-se ao caso de Tancos e visou diretamente os líderes do PSD e do CDS-PP, respetivamente, Rui Rio e Assunção Cristas.
"Nós não queremos trazer as instituições da República para a lama, nós sabemos que a justiça e a política são domínios diferentes, sabemos que as Forças Armadas são uma instituição representativa de todo o país, sabemos que as questões judiciais resolvem-se nos tribunais e que as questões políticas tratam-se no parlamento e na política", declarou.
Depois, o ministro dos Negócios Estrangeiros insurgiu-se contra "a degradação da linguagem política, contra as calúnias e ofensas pessoais".
"A doutora Assunção Cristas parece querer afundar o nível do debate político democrático em Portugal, mas é hoje evidente para todos, basta olhar para as sondagens, que quem se vai afundar é ela própria", sustentou, antes de falar no gosto de Rui Rio em "produzir belas teorias", como as do rigor financeiro e a clareza de decisões.
Porém, segundo Santos Silva, o presidente do PSD disse "uma coisa num dia e outra coisa em outro dia" a propósito da questão das carreiras dos professores, meteu "férias" no período de greve dos motoristas de matérias perigosas e esqueceu os seus princípios no caso de Tancos.
"Rui Rio pediu serenidade e elevação quando se trata de questões de justiça, disse com toda a razão que ser acusado não é ser condenado - e que só há um sítio em que tudo isso pode ser decidido: nos tribunais. Mas o doutor Rui Rio estava à espera da primeira oportunidade para desdizer a sua própria teoria", apontou.
Depois, Augusto Santos Silva questionou: "Pode o país pode tolerar essa volatilidade?"
A primeira parte do discurso do titular da pasta dos Negócios Estrangeiros serviu para advertir os eleitores sobre os riscos de um reforço da influência de algum dos parceiros parlamentares da esquerda, contrapondo que o PS "nunca pôs em dúvida a responsabilidade financeira, a pertença de Portugal à União Europeia e à zona euro".
Apesar de assegurar que, com os socialistas, manter-se-á o diálogo à esquerda.
"Aqueles que têm dúvidas sobre o respeito pelas condições do pagamento da dívida, aqueles que querem que Portugal gaste 30 mil milhões de euros em nacionalizações, aqueles que desvalorizam as contas certas, esses não podem ter um poder desmedido. Esses não podem ter uma influência desmesurada na próxima legislatura", declarou, sem se referir diretamente ao Bloco de Esquerda.
No seu discurso, Augusto Santos Silva defendeu que o PS "precisa de uma maioria parlamentar indispensável" para que Portugal possa manter o rumo dos últimos quatro anos "com uma orientação clara" e adaptada "à economia social de mercado própria da Europa".
O governante apontou até que foi o próprio líder do PS, António Costa, quem acabou com "a estúpida teoria do arco da governação", que excluía o Bloco de Esquerda e o PCP da esfera do poder.
"Mas basta olhar para a nossa vizinha Espanha para se perceber que, quando os socialistas não têm a força necessária, quando as forças que têm dúvidas sobre moderação e equilíbrio têm força desmedida, não há estabilidade política. E sem estabilidade política as condições da economia pioram e a vida torna-se mais difícil", considerou.
No primeiro discurso no almoço-comício, a presidente da Câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro, defendeu que nos últimos quatro anos o Governo conseguiu atingir objetivos "antes julgados impensáveis".
"Disseram que vinha o papão, que os empresários não acreditavam em nós, mas só aqui em Matosinhos foram criados sete mil postos de trabalho. No próximo domingo é o momento certo de pôr a cruzinha à frente da mãozinha", declarou Luísa Salgueiro.
A seguir, o eurodeputado e líder da Federação do Porto do PS, Manuel Pizarro, destacou a presença da antiga campeã olímpica da maratona Rosa Mota e, do ponto de vista político, referiu que o cabeça de lista socialista neste círculo eleitoral, Alexandre Quintanilha, é um cidadão independente.
Manuel Pizarro acusou "a direita do PSD e do CDS-PP de não resistirem a uma campanha de calúnias, deitando lama para a política".
"Nós não somos iguais a eles. Não fomos nós quem criou uma vaga de desemprego em Portugal", acusou, pedindo a mobilização dos socialistas até ao próximo domingo.