Depois da maratona desta terça-feira no Palácio de Belém, e depois de oficialmente indigitado primeiro-ministro, António Costa deu início esta manhã a uma ronda de reuniões com cinco partidos com representação parlamentar, dois dos quais membros da 'ex-geringonça'.
O primeiro encontro foi com o Livre, recém-chegado à Assembleia da República. À espera de Costa e da sua comitiva, composta por Carlos César (presidente do PS) e Ana Catarina Mendes (secretária-geral adjunta do PS), estavam Rui Tavares e a deputada eleita Joacine Katar Moreira.
Terminada a reunião, que teve início cerca das 11h00, a deputada do Livre destacou que "foi o início de um diálogo que consideramos absolutamente necessário à Esquerda". Ainda assim, acrescentou Joacine, “neste exato momento, não temos o interesse numa convergência bilateral com nenhum” partido mas, concluiu, "estamos disponíveis a participar numa união à esquerda que seja uma união multipartidária”.
À sua espera estava André Silva, e companhia, que findo o encontro esclareceu que "nada ficou fechado" mas que a intenção do PAN, agora com quatro deputados, é "aprofundar relação com o PS em apoios pontuais".
Uma conversa "muito útil para identificar uma vontade comum de aprofundar a relação” entre os dois partidos", destacou Costa, saudando o PAN por “conjuntamente com o PS ter sido o único partido parlamentar que teve um reforço eleitoral claro nestas eleições”.
E António Costa, o que disse? Que foram "identificados pontos que o PEV considera importante que tenham expressão e continuidade na próxima legislatura" e que o PS "faz uma avaliação positiva da colaboração conjunta da legislatura anterior".
A meio da tarde, foi a vez do PCP. Depois de quase uma hora de reunião, na sede do partido na Rua Soeiro Pereira Gomes, António Costa mostrou-se animado com os encontros, afirmando "até agora ninguém fechou portas" nas negociações - referindo-se a Livre, PAN, PEV e PCP - e que "há razões para encarar com confiança" a próxima legislatura.
Há contudo, uma conjuntura política diferente daquela que se verificava em 2015, destacou Jerónimo de Sousa. Há quatro anos, as "exigências do então Presidente da República [Cavaco Silva] levaram o PS a insistir na necessidade de uma base mínima de entendimento para ultrapassar as resistências presidenciais. O quadro hoje não é esse. O processo de indigitação para a formação do governo processou-se naturalmente. Não há nenhum obstáculo à entrada em funções do governo nem nenhum problema de estabilidade", prosseguiu Jerónimo.
Além disso, "o PCP tem o seu próprio programa e projeto", pelo que será a partir dos compromissos que o partido tem com os "trabalhadores e o povo" que irá "avaliar as opções e os objetivos que o PS e o seu governo venham a inscrever na sua ação".
Agora só falta o Bloco de Esquerda. O encontro está marcado para as 18h00 e marca o fim da ronda de António Costa. E, pouco depois das 19h30, o primeiro-ministro saiu da reunião dizendo que tem feito "uma avaliação do que os partidos têm dito", vincando que "a troca de impressões tem sido positiva no sentido de perceber o que é essencial para uns e para outros". Mas, destacou Costa, "ficou claro que há uma vontade mútua de continuar o trabalho feito até aqui".
"É muito positivo termos encontrado vontade clara que o país viva quatro anos de estabilidade política" e, acrescentou Costa, referindo que o que distinguiu os encontros desta quarta-feira foram os "graus de estabilidade de entendimento, uns [para] quatro anos, outros passo a passo". Porém, reforçou, há "confiança de que é possível formar Governo e assegurar a governação". Essa "vontade comum", aliás, foi revelou manifestada pelo Bloco de Esquerda, que está disponível para "prosseguir o trabalho feito até aqui".
E Catarina Martins, o que achou do encontro? Menos entusiasmada do que Costa, a coordenadora do Bloco revelou que foi uma "reunião importante, muito franca", na qual o Bloco reiterou "a disponibilidade para um entendimento inicial" com a inclusão de propostas do Bloco no programa do futuro Governo de Costa, mas "não fechou a porta" a, caso esse "processo negocial" não seja possível, o Executivo pode contar o Bloco, nomeadamente para a aprovação de Orçamentos.
Terminada a jornada, o primeiro-ministro foi questionado sobre quando tenciona apresentar o elenco do próximo Governo por si liderado, tendo o secretário-geral do PS explicado que, até à próxima semana, ainda terão de ser apurados os resultados dos círculos da emigração, que elegem quatro dos 230 deputados da Assembleia da República, pelo que, e não havendo percalços pelo meio, "a primeira reunião da Assembleia da República será dia 21 ou 22" deste mês.
E, acrescentou, "só na sequência dessa primeira reunião, o Governo pode ser constituído e, como tal, só nessa altura apresentarei a lista ao senhor Presidente da República. A minha ideia é ter tudo preparado para, assim que a Assembleia da República seja constituída, poder apresentar ao Presidente da República a composição do próximo Governo".
[Notícia atualizada às 21h37]