Ana Gomes, que apresentou esta semana a sua candidatura à Presidência da República, usou o seu espaço habitual de comentário, ao domingo, na SIC Notícias, para reagir às críticas que surgiram após o seu anúncio, em específico as de André Ventura, que a apelidou de "candidata cigana".
"Não ofende quem quer. Se era uma tentativa de ofensa contra mim e contra a Marisa Matias, falhou redondamente, no que me toca em particular. Dizer que eu era a candidata cigana... até as comunidades ciganas, já responderam a isso", começou por referir.
A ex-diplomata foi mais longe e vincou que terá "muito orgulho em ser candidata dos ciganos, dos negros, dos gays, dos pobres, dos excluídos, dos desfavorecidos", justificando que se candidata para "procurar unir todos os portugueses democratas, por respeito pelos direitos humanos, por defesa da igualdade para aqueles que são mais desfavorecidos".
A candidatura da socialista recebeu já o apoio do antigo líder parlamentar e ex-eurodeputado Francisco Assis e do líder da tendência minoritária na Comissão Política socialista, Daniel Adrião, mas a deputada do PS Isabel Moreira deixou bem claro que vai votar à esquerda, votando no candidato que o PCP apresentou este sábado, João Ferreira.
Questionada sobre esta posição da socialista, Ana Gomes referiu que "o PS é um partido de liberdade, em que cada um deve pensar pela sua cabeça e, sem dúvida, que a deputada Isabel Moreira é uma destacada socialista que pensa pela sua cabeça".
A candidata à presidência diz compreender o percurso de Isabel Moreira, "que trabalhou com Luís Amado e é amiga e defensora de Paulo Portas", mas estranha que apoie João Ferreira invocando o Estado de Direito. "O João Ferreira não é um grande defensor do Estado de Direito, quando, por exemplo, defende o regime de Maduro, na Venezuela, ou o regime de Putin, na Rússia", apontou.
Costa "escolheu entrar na comissão de um indíviduo que tem todo um percurso altamente questionável"
A participação do primeiro-ministro António Costa e do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, na comissão de honra de Luís Filipe Vieira às eleições do Benfica, está a ser alvo de polémica, com vários partidos e políticos a apontarem que não "pode existir cumplicidade entre a política e os negócios".
Questionada sobre esta atitude de António Costa, Ana Gomes admitiu: "Fico penalizada por ver o primeiro-ministro do meu país, que é também o secretário-geral do meu partido, metido nesta história".
A candidata às presidenciais referiu que este comportamento, como já foi apontado, "não só viola o próprio código de conduta que o Governo aprovou para impedir a promiscuidade e que a proximidade a determinadas pessoas ou empresas comprometa a imparcialidade das funções políticas de quem governa", como é ainda mais sério por se tratar do secretário-geral do principal partido e do primeiro-ministro.
A ex-eurodeputada ressalvou que não é o clube, nem o papel dos clubes que está em causa. O que está em causa, afirmou, é que, por um lado, trata-se de um clube de futebol, onde há paixões e, por isso, há uma tendência de assentuar o tribalismo. E, sobretudo, porque o primeiro-ministro escolheu entrar numa comissão de honra de um indíviduo em particular que tem todo um percurso altamente questionável.
"[Luís Filipe Vieira] Foi condenado em 1993 por roubo de um camião, está arguido na operação Lex por corrupção de um juíz, está, obviamente, envolvido nas operações E-toupeira, etc, e tem todo um historial de dívidas à banca, estranhamente perdoadas", criticou, referindo que as empresas do presidente do clube das águias deviam cerca de 600 milhões, que foram entretanto perdoados em cerca de 200 milhões, "de forma totalmente opaca e não explicada.
"É um dos grandes devedores em que a banca, não só o BES, como também o seu sucessor, Novo Banco, não explica", acrescentou. Por tudo isso, continuou, "se há perdões de dívida por um banco como o Novo Banco, que está a recorrer ao Fundo de Resolução e por isso está a levar dinheiro dos contribuintes, tenho muita pena, mas isso diz respeito diretamente ao primeiro-ministro".
Ana Gomes foi mais longe e recorda que trata-se da mesma pessoa que "fez sair do Governo João Soares, dizendo que mesmo à mesa do café, um governante é um governante". "Se se aplica a um ministro, aplica-se a um primeiro-ministro", vincou.
A socialista confessou que espera que esta atitude tenha consequências, antes de mais, "tiradas pelo próprio". Assumir publicamente que não pensou bem e que retiraria o seu nome da lista, "é o mínimo", rematou.