"Não vivemos obcecados com esse problema nem alteramos critérios por causa disso. Claro que gostávamos de ter mais militantes do que temos mas não vivemos obcecados com essa questão dos números", assegurou à Lusa Paulo Raimundo, membro do Secretariado do Comité Central do PCP.
Longe vão os tempos do pós-25 de Abril, em que as abundantes candidaturas para a militância do PCP obrigavam a uma "averiguação mais profunda" das condições de quem se quisesse juntar ao partido, admitiu.
Com um tempo médio de "uma semana, uma semana e qualquer coisa", raramente excedendo um mês, o processo de validação de uma candidatura à militância comunista exige apenas, de forma geral, "a concordância com o programa do partido e os estatutos", adiantou o dirigente, em declarações à Lusa à margem do XXI Congresso, que termina hoje em Loures.
O número 2 do 10º artigo dos estatutos do PCP estabelece que "a proposta de filiação de um novo membro deve ser avalizada pelo menos por um membro do partido que o conheça e abone da sua seriedade".
A "seriedade" de um candidato a militante, concretizou Paulo Raimundo à Lusa, está usualmente relacionada com uma possível conduta errada em contexto laboral: "por exemplo, será estranho que um trabalhador, por esta ou por aquela razão, tenha uma postura profundamente errada para com os seus companheiros de trabalho".
Nas intervenções do primeiro e segundo dias do XXI Congresso do PCP, que termina hoje, vários foram os delegados que referiram o número militantes recrutados desde a anterior reunião magna, em 2016, admitindo, no entanto, as dificuldades em levar novas caras para as "fileiras" comunistas -- como foi o caso de uma delegada de Palmela que referiu "o medo" de algumas pessoas em "assumir a militância no contexto de trabalho".
No projeto de resolução política apresentado ao XXI Congresso, pode ler-se que, atualmente, os efetivos do partido são 49.960, uma redução "ligada ao facto do número de recrutamentos não ter compensado o número de camaradas que deixaram de contar como membros do Partido, principalmente em consequência de falecimentos", sendo que nos últimos quatro anos foram recrutados 3245 novos militantes.
Quanto à composição etária, "11,4% têm menos de 40 anos, 39,5% têm entre 41 e 64 anos e 49% mais de 64 anos", verificando-se um aumento da proporção dos membros com mais de 64 anos e a percentagem de mulheres (32%).
Ainda quanto aos critérios para a adesão ao PCP, segundo Paulo Raimundo, a militância anterior noutras forças políticas não é um problema para os comunistas. Se existirem suspeitas de "objetivos obscuros" de um potencial militante, o PCP abre a possibilidade de uma espécie de período experimental, no qual a pessoa colabora durante uns meses com o partido até ser integrado como militante efetivo.
"Os nossos critérios de adesão ao partido, no fundamental, responsabilizam mais quem dá esse passo do que quem o recebe", apontou.
Questionado sobre a quantidade de pessoas que estão envolvidas em atividades do partido mas que acabam por não se filiar, Paulo Raimundo justificou essa realidade com o facto de algumas pessoas acharem que "não estão em condições de assumir essa responsabilidade" ou que não concordarem totalmente com o programa, sendo apenas simpatizantes.
Em 2018, uma resolução do Comité Central comunista já admitia como importante o "reforço do partido", estabelecendo como objetivo avançar com 5 mil contactos até ao final desse ano, ação que, mesmo passados dois anos, foi referida várias vezes nas intervenções dos 600 delegados.
Campanhas de recrutamento poderão ser, à partida, "linhas de trabalho" a seguir, disse Paulo Raimundo, que estabeleceu também como desafio para os próximos quatros anos uma "maior audácia" por parte dos militantes em convencer mais pessoas a juntar-se ao PCP.