No período de debate que antecedeu as últimas votações das conclusões do relatório da Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução, o deputado do PS João Paulo Correia usou a palavra para criticar as votações se segunda-feira relativas ao capítulo sobre a venda do Novo Banco.
"As votações de ontem, sobre a venda do Novo Banco, violam a linha factual do relatório e daquilo que foram os trabalhos deste inquérito e no nosso entender o relatório está ferido de factualidade no capítulo da venda do Novo Banco", condenou, apontando exemplos daquilo que disse ser uma "aliança BE/PSD".
Duarte Pacheco, do PSD, começou a sua resposta ao deputado do PS com a expressão "se o ridículo matasse".
"Caiu-lhe a máscara. Nós sabíamos qual era a vossa principal preocupação: era ilibar o Governo socialista da tragédia que foi a venda do Novo Banco nestas condições e aquilo que está a custar aos contribuintes e por isso é que foram ao passado. Não sei como é que não chegaram ao D. Afonso Henriques", atirou.
Para o social-democrata, "a realidade é factual" e "por ser tão factual e não ser 'partidarite' é que outros partidos" estiveram disponíveis para votar as propostas.
"O PSD não tem maioria e mesmo essa achega dizer que é PSD + Bloco, não temos maioria. Foi preciso que outros partidos viabilizassem essas propostas. Muitas dessas foram aprovadas única e exclusivamente com o voto contra do PS", contrapôs.
Já Mariana Mortágua, do BE, pretendeu deixar claro que o partido "não vota para omitir nenhum tipo de factos nem de responsabilidades".
"É verdade que o desespero do PS face às votações de ontem [segunda-feira] leva-o hoje aqui a admitir que tinha uma intenção que era ilibar o Governo das suas responsabilidades. Como qualquer pessoa que consiga juntar '2+2' conclui, o BE e o PSD não têm maioria para nada nesta AR nem nesta comissão", respondeu.
Pelo PCP, Duarte Alves assegurou que a intervenção dos comunistas "foi no sentido de não aligeirar responsabilidades do Banco de Portugal, da União Europeia, mas não deixar de apontar responsabilidades dos governos, tanto do governo PSD/CDS como do governo do PS, que estavam ausentes da proposta inicial".
"Maior responsabilização dos governos, que foi essa a nossa principal crítica à proposta inicial e por isso também interviemos não só com as nossas propostas como através do nosso sentido de voto para que essa responsabilização ficasse expressa, tanto no momento da resolução como no momento da privatização", explicou.
Cecília Meireles, do CDS-PP, atribuiu ao PS a responsabilidade por esta discussão que "não dignifica ninguém e fica mal a todos", afirmando que "a única proposta verdadeiramente opinativa" foi aprovada com os votos do PS, referindo-se ao texto dos comunistas que considera a resolução do BES uma "fraude política".
"Essa responsabilidade é exclusivamente do PS e do relatório que foi aqui apresentado e que abriu a porta a todo o tipo de propostas opinativas que se possa imaginar e a uma tentativa desesperada dos restantes partidos de conseguirem ter um relatório que muitas vezes não é a melhor conselheira, mas que infelizmente foi a única possível perante um relatório em que rigorosamente ninguém, para além dos senhores do PS, era capaz de se rever", lamentou.
Também o PAN, por Nelson Silva, devolveu as críticas vindas do PS, considerando que foram os socialistas que trouxeram "a partidarite para este relatório", com "uma tentativa de branqueamento de responsabilidade e manipulação daquilo que foram as audições e o trabalho desta comissão para apurar os factos".
O deputado único da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, manifestou a "tristeza" por aquilo pelo facto de aquilo que irá ficar desta comissão ser "mais um episódio de baixa guerrilha política".
"Concordo com Cecília Meireles: há um responsável por isso ter acabado aqui depois destes meses: é o relatório inicial que tentou de uma forma muito pouco subtil branquear as responsabilidades do PS, abrindo a porta às correções e aos pedidos de alteração que temos vindo a discutir", condenou.
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