Óbito/Sampaio: Marques Mendes recorda um "político de coragem"

O ex-líder do PSD Luís Marques Mendes recordou hoje o ex-presidente Jorge Sampaio, que faleceu aos 81 anos, como um "senhor na política", "um político de coragem" e um "homem generoso e solidário para com os outros".

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Lusa
10/09/2021 11:40 ‧ 10/09/2021 por Lusa

Política

Óbito/Sampaio

 

"Para além de o recordar como um amigo leal e solidário, eu recordo-o como uma pessoa que era um senhor na vida política, (...) uma referência política, uma referência moral e uma referência ética. Tinha princípios, tinha regras e tinha convicções", salientou Marques Mendes em declarações à Lusa.

O líder do PSD entre 2005 e 2007 refere que Jorge Sampaio era "solidário com os seus camaradas de partido", mas também "muito leal e amigo com os adversários", dando o exemplo da campanha autárquica de Lisboa, em 1989, em que Jorge Sampaio concorreu contra Marcelo Rebelo de Sousa, mas também a campanha para as eleições presidenciais, em 1995, contra Aníbal Cavaco Silva, tendo Jorge Sampaio, em ambos os casos, desenvolvido relações de "amizade e de cordialidade" com os seus adversários.

"Sampaio era assim: defendia as suas convicções, mas era de uma enorme lealdade e correção com os adversários e acabava a fazer, em cada adversário, um amigo", refere Marques Mendes.

Relembrando também um político de "coragem serena, tranquila" que não era a "coragem do murro na mesa ou de subir os decibéis", Marques Mendes salienta que esse traço de personalidade ficou visível tanto "antes do 25 de abril, como depois".

O ex-líder do PSD relembra assim que, aquando da candidatura de Jorge Sampaio à Câmara Municipal de Lisboa, "ninguém no Partido Socialista queria ser candidato" porque todos "achavam que era uma eleição perdida", tendo o ex-presidente "dado a cara, avançado, arriscado e ganhado".

No mesmo sentido, durante a sua primeira candidatura à Presidência da República, Jorge Sampaio demonstrou "muita coragem, segundo Marques Mendes, numa altura de guterrismo dentro do Partido Socialista, "quando, no país, Cavaco Silva estava em alta" e se achava que Sampaio "não tinha perfil, não tinha estatuto, não tinha condições para ganhar uma eleição dessa natureza".

"E a verdade é que ele arriscou, avançou, marcou posição com muita antecedência e ganhou", frisa.

Recordando também os dois mandatos de Jorge Sampaio enquanto Presidente da República, Marques Mendes destaca uma "presidência muito digna, mas cheia de dificuldades".

"Teve um governo minoritário (...) [com] um primeiro-ministro, António Guterres, que se demitiu na sequência do pântano, um problema que nenhum Presidente da República gosta de ter. Teve, poucos anos mais tarde, outro primeiro-ministro [Durão Barroso] que se demitiu para ir para um cargo europeu (...), outra dor de cabeça. Depois teve uma decisão dificílima com Santana Lopes em primeiro-ministro (...) porque desagradou sempre, à esquerda e à direita", refere.

Segundo Marques Mendes, "em todos estes momentos", destaca-se a "marca da coragem", que também se notabilizou aquando da crise de Timor Leste que teve, "no seu desfecho final favorável aos timorenses, uma enorme ajuda de Jorge Sampaio".

"Finalmente, destacaria ser homem muito generoso e muito solidário e acho que o exemplo máximo, a marca mais visível desta generosidade e solidariedade está na campanha que há anos a esta parte Jorge Sampaio tinha vindo a fazer em torno da integração de estudantes sírios em Portugal", conclui.

Enviando assim uma "palavra de condolência à família" e ao PS, Marques Mendes destaca que o falecimento de Sampaio é "uma grande perda para o país e para a democracia".

O antigo Presidente da República Jorge Sampaio morreu hoje aos 81 anos, no hospital de Santa Cruz, em Lisboa.

Antes do 25 de Abril de 1974, foi um dos protagonistas da crise académica do princípio dos anos 60, que gerou um longo e generalizado movimento de contestação estudantil ao Estado Novo, tendo, como advogado, defendido presos políticos durante a ditadura.

Jorge Sampaio foi secretário-geral do PS (1989-1992), presidente da Câmara Municipal de Lisboa (1990-1995) e Presidente da República (1996 e 2006).

Após a passagem pela Presidência da República, foi nomeado em 2006 pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas enviado especial para a Luta contra a Tuberculose e, entre 2007 e 2013, foi alto representante da ONU para a Aliança das Civilizações.

Atualmente presidia à Plataforma Global para os Estudantes Sírios, fundada por si em 2013 com o objetivo de contribuir para dar resposta à emergência académica que o conflito na Síria criara, deixando milhares de jovens sem acesso à educação.

Leia Também: Óbito/Sampaio: BE enaltece "figura central" que fez "pontes à esquerda"

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