Operação Miríade: PSD admite chamar Costa se necessário
O PSD condenou hoje o "comportamento errático e esdrúxulo" do ministro da Defesa Nacional e disse esperar que este "não desrespeite o parlamento" e explique a suspeita de tráfico por militares portugueses, admitindo chamar depois o primeiro-ministro caso necessário.
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Política Operação Miríade
Esta manhã, à agência Lusa, o presidente da bancada social-democrata, Adão Silva, já tinha anunciado o requerimento do PSD para chamar ao parlamento o ministro da Defesa Nacional para explicar o seu comportamento face ao processo de militares suspeitos de tráfico de diamantes, ouro e droga.
Esta tarde, em declarações aos jornalistas nos Passos Perdidos da Assembleia da República, Adão Silva reiterou a "extrema urgência" desta audição de João Gomes Cravinho, esperando que esta aconteça "no máximo no próximo dia 16 de novembro".
"Esperamos que o senhor ministro não desrespeite o parlamento. Já percebemos que desrespeitou o senhor primeiro-ministro, é lá com eles. Desrespeitou o Presidente da República que é o comandante supremo das Forças Armadas. É intolerável", criticou.
Para o social-democrata, o ministro tem que explicar ao parlamento e aos portugueses "como é que numa matéria tão conspícua e tão delicada omitiu informação da maior importância para o senhor primeiro-ministro e para o senhor Presidente da República".
Questionado sobre se o PSD pondera chamar o primeiro-ministro, António Costa, ao parlamento para dar explicações sobre este caso, Adão Silva admitiu essa hipótese porque "a comissão permanente vai continuar a funcionar mesmo depois do dia 26 de novembro".
"Nada pode impedir que numa situação dramática, que seja realmente decorrente da vinda do senhor ministro da Defesa à comissão, o senhor primeiro-ministro tenha que vir à comissão permanente. Não se prevê, de modo nenhum, que o senhor primeiro-ministro não venha às comissões permanentes. Pode vir e nós desejamos que assim seja, se for necessário. Vamos ver", afirmou.
O deputado social-democrata criticou o "comportamento errático, esdrúxulo" do ministro.
"Esta matéria é muito complexa, delicada e dá uma imagem muito negativa do Governo que manifestamente está a desfazer-se cada dia que passa. Não é bom", afirmou, considerando que Gomes Cravinho "está numa posição muito frágil e tem feito muitas asneiras nos últimos tempos".
O PSD gostaria de ter um ministro da Defesa "como deve ser, alguém que fosse respeitável e alguém que fosse competente", o que atualmente considera que não existe.
"O PSD neste momento não está a pedir a demissão do ministro. Nós preferíamos que o senhor ministro viesse no dia 16, se explicasse e nesse dia o PSD tomaria uma posição pública a respeito à sua permanência no Governo", ressalvou, apesar de evidenciar que a permanência no Governo deste ministro é "muito frágil, muito delicada, muito incerta, muito periclitante".
A Polícia Judiciária (PJ) confirmou em 08 de novembro a execução de 100 mandados de busca e 10 detenções, incluindo de militares e ex-militares, no âmbito da Operação Miríade, na sequência de um inquérito dirigido pelo Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa.
Em causa está a investigação a uma rede criminosa com ligações internacionais e que "se dedica a obter proveitos ilícitos através de contrabando de diamantes e ouro, tráfico de estupefacientes, contrafação e passagem de moeda falsa, acessos ilegítimos e burlas informáticas".
Em comunicado, o Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) revelou que alguns militares e portugueses em missões na República Centro-Africana podem ter sido utilizados como "correios" no tráfego de diamantes, adiantando que o caso foi reportado em dezembro de 2019.
O Presidente da República recusou na quarta-feira comentar as suas relações com o Governo depois de não ter sido informado do envolvimento de militares numa investigação judicial sobre tráfico de diamantes, ouro e droga.
Em Berlim, depois de um almoço com o vencedor das eleições na Alemanha e atual vice-chanceler Olaf Scholz, o primeiro-ministro justificou na quarta-feira não ter informado o Presidente da República sobre a rede de tráfico envolvendo militares e civis, porque ele também não tinha conhecimento.
"Eu não informei porque não estava informado, portanto isso é um tema que será de ser tratado, mas num sítio próprio que é em território nacional", revelou António Costa.
Na terça-feira, em Cabo Verde, o chefe de Estado relatou que o ministro da Defesa lhe tinha explicado que "na base de pareceres jurídicos tinha sido entendido que não devia haver comunicação a outros órgãos, nomeadamente órgãos de soberania, Presidência da República ou parlamento".
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