Na sessão de encerramento da conferência "Brasil e Portugal: Perspetivas de Futuro", no âmbito das comemorações do bicentenário da independência do Brasil, que se celebra este ano, Marcelo Rebelo de Sousa reiterou a sua "fé inquebrantável no futuro" das relações entre os dois países.
"Não é nem a estratégia, nem a economia, nem a ciência e tecnologia a razão principal do meu otimismo. Eu sou um simples mortal, um cidadão que tem como função representar um povo e para mim os povos são o mais importante. E os povos optam antes de optarem os líderes políticos, os líderes empresariais", apontou, no seminário que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
"Os povos já escolheram, estão a escolher todos os dias e é bom que os que são responsáveis pelos povos percebam isso, se perceberem tiram proveito disso", avisou.
Depois de várias vagas de emigração de portugueses para o Brasil, o chefe de Estado observou que "está agora em curso" uma grande vaga de imigração brasileira para Portugal, e que nem atribuiu a razões políticas ou económicas, mas ao aproveitar de mudanças legislativas e como "opção de vida".
Marcelo Rebelo de Sousa salientou que os mais de 200 mil brasileiros a residir em Portugal estão a mudar setores da sociedade como a religião -- "uma crescente comunidade evangélica" - e que "tem expressão política".
"Não sei se os políticos se dão conta disso, eu passo a vida a chamar a atenção para isso, mas as pessoas olham para mim com ar enfastiado achando que é um mero somatório de 'selfies' ou de encontros na rua, não é, é uma realidade social", afirmou.
E o chefe de Estado deixou uma dúvida, reiterando a sua qualidade de cidadão: "Será que os importantes dos dois países se dão conta disto e como isto muda a face das relações? Já não é unilateral, mas bilateral e em tenros quantitativos com peso maior brasileiro em Portugal, isso vai mudando a economia e a sociedade, hábitos e maneira de falar, entrosamento das crianças, funcionamento das escolas", enumerou.
Marcelo Rebelo de Sousa enfatizou que, neste ponto e em geral, "os povos mandam mais que os líderes".
"Eu sei isto não é muito ortodoxo, o ortodoxo é dizer-se que os líderes são fundamentais para fazer história, mas são se os povos quiserem essas lideranças, se as sustentarem duradouramente", disse.
E a poucos meses das eleições presidenciais no Brasil de outubro, nunca na sua intervenção o Presidente da República se referiu diretamente a esta disputa política, mas deixou 'recados'.
"Passam os políticos, passam os líderes empresariais, passam as organizações laborais (...) Há uma coisa que continua, os povos. Para aqueles que acreditam em democracia, é evidente que são fonte de legitimidade da democracia, para os que não acreditam, não têm outro remédio que não seja vergarem-se a ela", disse.
Marcelo Rebelo de Sousa elogiou os discursos nesta conferência de dois antigos Presidentes da República, Ramalho Eanes e Cavaco Silva, e o painel sobre estratégia, no qual o chefe de Estado viu discursos de "analistas, candidatos a serem protagonistas do futuro e os que são um pouco as duas coisas", e que teve entre os oradores Paulo Portas.
O Presidente da República recordou que, em breve, irá estar no Brasil -- entre 01 e 05 de julho visitará Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília -, país ao qual regressará em setembro para discursar nas comemorações do bicentenário.
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