O antigo dirigente do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, considerou esta sexta-feira, no seu habitual espaço de comentário na SIC Notícias, que a "acusação do governo ucraniano" acerca da possibilidade de "terem sido os russos a bombardear" a central nuclear de Zaporíjia (Zaporizhzhia) é "implausível".
Isto essencialmente porque "a central está dominada por forças militares russas". Ainda assim, o professor destacou que a ocorrência de "processos desse tipo" não é "impossível na guerra" - seja por "erro" ou até mesmo por "estratégia".
"O que é facto é que existiram ações militares no contexto desta central nuclear", o que "cria um perigo grande", prosseguiu Francisco Louçã - que se propôs depois a explicar a "estratégia do governo ucraniano" ao acusar Moscovo pelos bombardeamentos recentes que se têm registado nas proximidades da central de Zaporíjia.
"É procurar a internacionalização da guerra, com a presença de forças militares externas" no terreno próximo da central atómica, conclui o antigo dirigente bloquista - embora António Guterres, secretário-geral da ONU, já tenha vindo "responder que não" a tal possibilidade.
"Naturalmente o governo ucraniano pode pretender a internacionalização imediata do conflito, que em si próprio já é a expressão de uma tensão mundial", mas em que ainda não existem "tropas estrangeiras" a combater "ao lado de exércitos nacionais", elaborou ainda o professor.
Neste âmbito, o comentador da SIC Notícias quis lembrar que "vários governos têm recusado que se devia transformar a Ucrânia numa trincheira de uma guerra mundial", ainda que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, "queira fazê-lo" ou "tem, pelo menos, vantagem em fazer pressão política nesse sentido", perante o "longo impasse" registado nesta guerra.
"E é nesse impasse que o Zelensky procura uma operação política, em torno de Zaporíjia, e talvez isso tenha justificado as palavras cautelosas e diplomáticas de António Guterres a dizer que isso não deve acontecer", elaborou ainda Francisco Louçã.
A propósito da visita do secretário-geral da ONU à Ucrânia nestes últimos dias, o ex-líder do Bloco de Esquerda considerou que o "perigo nuclear" associado a uma "derrapagem do conflito militar" tenha "talvez justificado a viagem" do diplomata.
No mesmo momento de comentário, Francisco Louçã fez ainda questão de salientar que existiram "dois prognósticos muito afirmados por grandes especialistas que fracassaram por completo" a propósito desta guerra.
Uma destas teorias defendia que os "russos, dada a superioridade do seu exército, tomariam Kyiv em três dias ou a Ucrânia numa semana", o que "não se concretizou", apontou o professor. Aliás, prosseguiu, Moscovo até "retirou uma parte das suas forças que incidiram na capital ucraniana" para depois as concentrar "no Donbass e no sul da Ucrânia", com o objetivo de transformar esse território numa "extensão da Federação Russa".
Outra das previsões falhadas pelos especialistas apontava que a "Ucrânia, com os apoios militares e financeiros do Ocidente, poderia rapidamente lançar uma contraofensiva e transformar a frente do terreno", o que também "não aconteceu", ressalvou Louçã.
A guerra na Ucrânia, que já dura há quase seis meses, fez mais de 5.500 mortos entre a população civil, segundo os dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. No entanto, a mesma entidade alerta que o número real de óbitos deverá ser bastante superior.
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