Inflação. PCP exige "medidas corajosas" e pede fixação de preços
O PCP exigiu hoje "medidas corajosas" do Governo para contrariar a degradação das condições de vida dos portugueses, mas o primeiro-ministro retorquiu que este ano o executivo já apoiou "em tudo o que era possível".
© Lusa
Política Debate
"A situação que vivemos exige medidas corajosas, ao contrário do discurso encomendado por grupos económicos, o problema não está os impostos, está na possibilidade de aumentarem os preços como querem", sustentou o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, na primeira ronda do debate de política geral com o primeiro-ministro.
O dirigente comunista advogou que o Governo "até pode reduzir os impostos a zero", mas os grandes grupos económicos continuarão a aumentar os preços "se não forem tomadas medidas de controlo e fixação de preços" e de "combate às margens especulativas".
E acrescentou: "O povo a pagar e os lucros a engordar".
Mas mais "inadiável ainda" do que a fixação de preços máximos em bens essenciais, para o PCP é necessário aumentar os salários e as pensões que perderam poder de compra este ano "face a mais de sete por cento de inflação previstos".
"Não se admite que o Governo tenha recusado repor o poder de compra perdido em 2022 e ainda tenha acrescentado a decisão de cortar as pensões já em 2023, face aos aumentos que a lei prevê [...], o Governo vai continuar a ser cúmplice desta extorsão dos grupos económicos?", questionou.
Na resposta, António Costa referiu as medidas que o Governo adotou desde janeiro, ainda antes do início da guerra na Ucrânia, como a redução do IVA nos combustíveis, as medidas de "redução nas tarifas de acesso à rede", e o conjunto de "oito medidas muito poderosas", como a atribuição de mais meia pensão em outubro, e o pagamento de 125 euros a cada cidadão que esteja no ativo e que ganhe menos de 2.700 euros.
"Não há nenhum corte [nas pensões], há um aumento [...], há uma coisa que as pessoas sabem: é que em 2022 apoiámos em tudo o que era possível, em 2023 vão ter um aumento como nunca tiveram neste século e em 2024 cá estaremos para seguir a mesma política que temos seguido desde 2016", continuou o primeiro-ministro, acrescentando que "o Governo está bem consciente" das dificuldades pelas quais os portugueses estão a passar.
"Se pudesse fazer um pouco de ironia, depois do seu discurso, da sua intervenção, das medidas anunciadas, das promessas ainda não cumpridas, poderia concluir-se que os trabalhadores ainda ficam a dever dinheiro ao Governo, tal como os reformados e os pensionistas, mas pronto, é a sua verdade, fica assim", ironizou Jerónimo de Sousa.
O membro do Comité Central comunista também falou das dificuldades no acesso à habitação com que milhares de famílias estão confrontadas.
"Não basta agitar os milhões do Plano de Recuperação e Resiliência [PRR] e nada fazer para promover a habitação pública", argumentou Jerónimo de Sousa, exigindo a António Costa "medidas urgentes de disponibilização" de habitação pública para os jovens que querem "construir família" e impedir que acabem "na rua milhares de famílias".
António Costa foi telegráfico na resposta e referiu apenas a medida anunciada há poucas semanas de limitar a dois por centro o aumento das rendas e o "maior programa de política pública de habitação desde o programa de erradicação das barracas nos anos de 1990".
Este programa prevê a construção, reabilitação e aquisição de imóveis, mas o primeiro-ministro advertiu Jerónimo de Sousa de que "não se assenta o tijolo hoje e o telhado nasce imediatamente".
"É preciso tijolo a tijolo até chegar ao telhado", finalizou.
[Notícia atualizada às 16h59]
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