Luís Marques Mendes considerou, este domingo, dia em que teve início o Mundial de futebol no Qatar, que as "altas figuras de Estado portuguesas deviam dar um sinal de descontentamento e de discordância" face às polémicas que têm pairado sobre a organização do evento, devido às lacunas evidenciadas ao nível dos direitos humanos.
No seu habitual espaço de comentário no Jornal da Noite, da SIC, o social-democrata defendeu que a atitude a tomar "perante um legado desta natureza" passava pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, e o primeiro-ministro, António Costa, "não irem ao Qatar".
Na sua perspetiva, a "ideia" destas figuras de Estado "irem ao Qatar é igual a iniciativas anteriores, mas acho que desta vez não deviam ir. Devemos tratar de forma diferente aquilo que é diferente. Este Mundial é diferente dos anteriores, devido a esta polémica e à questão dos direitos humanos".
De recordar que, em fevereiro do ano passado, o jornal britânico The Guardian noticiou que mais de 6.500 trabalhadores migrantes perderam a vida, desde 2010, na construção das infraestruturas necessárias para levar a cabo o Mundial de futebol em território qatari. Mas, segundo as estimativas da mesma fonte, os números deverão ser bem mais elevados.
Questionando a justificação dada por estas autoridades para esta viagem, de que vão "apoiar a Seleção Nacional", Marques Mendes referiu que a "questão verdadeira não é essa". E acrescentou, perentório: "A seleção vai ser apoiada por milhões de portugueses que não vão ao Qatar".
Olhando, por outro lado, para a representação portuguesa na prova, Marques Mendes fez ainda questão de abordar o tema da entrevista recente dada por Cristiano Ronaldo a Piers Morgan, que apelidou de "surpreendente".
Na sua ótica, tal tratou-se de um "grande golpe de marketing" - pois, desta forma, CR7 "vai agora ser permanentemente falado até ao fim do Mundial", em conjunto com outras "estrelas" do futebol mundial, como Neymar e Mbappé.
Porém, essa tratou-se de uma decisão que comportou um "risco grande", considerou o comentador. Pois se o campeonato correr bem a Portugal, todo o contexto "vai ser excelente" para o capitão da Seleção Nacional. Mas, "se correr mal", Ronaldo "vai ser mais criticado ainda" e vão dizer que, "com esta entrevista, desestabilizou" a equipa das quinas.
"Saber sair é uma arte. No futebol, na política e em tudo na vida. E Ronaldo corre o risco de não sair a tempo e horas. Ele merece sair em grande, por cima. E assim corre o risco de, adiando [a decisão], não sair pela porta grande", apontou ainda o social-democrata.
Forças segurança? Não existem "para estimular o crime"
No que concerne o trabalho recentemente divulgada pelo Consórcio – Rede de Jornalistas de Investigação, e que expôs a divulgação, por parte de militares e agentes das forças de segurança, de mensagens de ódio racistas e xenófobas em grupos online privados, Luís Marques Mendes considerou que essas "situações são absolutamente inaceitáveis" e "não têm desculpa"- tendo pedido, por isso, "mão pesada" aos infratores.
"Isso não é próprio de profissionais da GNR e da PSP, não é próprio de servidores do Estado. Aquilo é próprio de energúmenos. De gente que não tem caráter nem idoneidade para fazer parte da GNR e da PSP", argumentou o comentador da SIC.
O social-democrata fez ainda questão de salientar que as "forças de segurança existem para combater o crime e não para estimular o crime" e que a "falta de condições" de trabalho oferecidas a estes profissionais não é justificação para tais atitudes.
Quanto à atuação do ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, Marques Mendes considerou que o mesmo "agiu muito bem". "Foi rápido a determinar a abertura de um inquérito independente. E disse que não se pode confundir a parte com o todo- há milhares [de PSP e GNR] que não têm este comportamento", elaborou.
"Perante a gravidade" deste caso, Marques Mendes asseverou ainda que o "Diretor Nacional da PSP e o Comandante-Geral da GNR já deviam ter colocado os seus lugares à disposição do Governo". Isto porque têm uma "responsabilidade objetiva" sobre a situação, visto que se passam "coisas gravíssimas nas instituições" que lideram.
Costa processa ex-governador? "Direito legítimo"
Já no que toca a uma outra polémica, a que tem colocado frente a frente o atual líder do Governo socialista e o antigo governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, Marques Mendes defendeu que a possibilidade de António Costa vir a instaurar um processo sobre ao outro interveniente neste caso é algo "legítimo" e um "direito que o primeiro-ministro tem".
Ainda assim, o comentador defendeu que "carece de uma explicação" o facto de António Costa ter ligado ao ex-governador por causa de Isabel dos Santos, numa altura em que se discutia o afastamento da empresária angolana do Banco Bic (atual Eurobic). E defendeu: "É dever do primeiro-ministro dar respostas".
"Se isto não for explicado, fica aqui a ideia de que houve um favorecimento [a Isabel dos Santos]. Estas são as questões que eu acho que é legítimo perguntar e que é um dever responder. Não são questões de esquerda ou de direita. São questões de transparência e de democracia", argumentou o social-democrata, que acredita ainda que o Ministério Público "acabará por investigar" todo este caso.
As declarações surgem na sequência da apresentação de um livro do jornalista Luís Rosa, em que Carlos Costa, ex-governador do Banco de Portugal, acusou António Costa de o ter pressionado para proteger Isabel dos Santos.
Isto depois de, mal ter assumido o cargo de líder do Governo, António Costa ter avançado com um decreto, imediatamente promulgado por Marcelo Rebelo de Sousa, que previa o desbloqueio dos estatutos do BPI - o que possibilitou a venda da participação de Isabel dos Santos aos espanhóis do La Caixa.
Atribuição de pensões? "Tempo de espera diminuiu"
Num momento mais adiantado do seu espaço de comentário, Luís Marques Mendes citou ainda uns "dados oficiais do Ministério da Segurança Social", referentes ao regime de atribuição de pensões intitulado 'Pensão na Hora', que arrancou em 2021. Em causa está um regime que funciona através de "pedidos feitos online" e onde acaba por existir uma "atribuição automática da pensão" por parte dos serviços do Estado.
"Com os dados que me foram facultados pelo Ministério, 50% das pensões foram atribuídas por este regime. Globalmente, o tempo de espera diminuiu: de 110 dias de espera em 2020, para 30 dias em 2022", fez questão de referir o comentador, que acrescentou: "Se isto for efetivamente assim, excelente".
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