A ex-ministra socialista, Alexandra Leitão, considerou que as "mais altas figuras do Estado português" não deveriam deslocar-se ao Qatar para assistir aos jogos de Portugal no Campeonato do Mundo, que começou no domingo.
No seu espaço de comentário na CNN Portugal, a ex-governante deixa duras críticas à realização da competição naquele país pela FIFA, referindo-se "às grandes suspeitas de corrupção e subornos" no processo de atribuição do Mundial ao Qatar.
"O Qatar é um estado que tem a lei islâmica, com tudo o que isso representa, como discriminação para as mulheres e para homossexuais, mas também, em particular, tem um sistema de castas, em que só são cidadãos os nacionais - que são cerca de 10% da população do país - e o resto são migrantes, que são tratados numa situação de servidão, praticamente escravatura. Aquilo a que assistimos é um estado autocrático, xenófobo e homofóbico, que, do ponto de vista dos direitos humanos, não merece nenhum respeito", afirma Alexandra Leitão.
O Mundial de futebol tem sido marcado por várias polémicas, entre as quais a exploração de migrantes, a quem são retirados os documentos e trabalham em situações muito precárias, sob calor extremo e longos horários.
Por tudo isto, afirma Alexandra Leitão, a competição não deveria realizar-se no Qatar, acrescentando que se estimam "segundo o The Guardian, ter morrido 6.500 pessoas na construção das infraestruturas do Mundial". No entanto, "a Amnistia Internacional tem um relatório em que chega a falar em 15 mil mortos, portanto, estamos a falar de uma situação muito grave".
"Por tudo isto, Portugal não deveria fazer-se representar ao mais alto nível. Isto não tem nada a ver com a seleção portuguesa, mas acho que o Presidente da República, o primeiro-ministro e o presidente da Assembleia da República não deveriam deslocar-se ao Qatar".
Recorde-se que, na semana passada, o primeiro-ministro afirmou que os responsáveis políticos portugueses estarão no Campeonato do Mundo de Futebol, no Qatar, a apoiar a seleção nacional e não a violação dos direitos humanos ou a discriminação das mulheres nesse país.
"O campeonato do mundo é onde é. Todos temos uma posição sobre o que é o Qatar, mas aquilo que faz com que a nossa seleção esteja no campeonato do mundo é por ser uma das poucas que conseguiu ser apurada", começou por alegar António Costa.
Depois, o primeiro-ministro separou política e futebol, mantendo a ideia de Marcelo Rebelo de Sousa, ele próprio e Augusto Santos Silva assistirem a jogos de Portugal no Qatar.
"O campeonato do mundo é lá [no Qatar] e quando formos lá não vamos seguramente apoiar o regime do Qatar, a violação dos direitos humanos no Qatar e a discriminação das mulheres no Qatar. Quando formos lá, vamos apoiar a seleção nacional, a seleção de todos os portugueses, a seleção que veste a bandeira", sustentou.
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