António Lobo Xavier considerou, no domingo, que há um "moralismo repentino" quanto às polémicas que têm vindo a desenrolar-se no âmbito do Mundial'2022, no Qatar, nomeadamente, em relação aos milhares de trabalhadores que morreram durante a construção dos estádios.
"O que são 6 mil pessoas mortas no Qatar associadas ao Estado? São os mortos confirmados de não locais durante um período de dez anos. E as embaixadas desses países já vieram confirmar, especialmente a Índia, que não há nenhuma ligação entre esse número e o número de mortos em acidente de trabalho nos estádios", referiu, durante o seu espaço de comentário na CNN, rematando: "É um número falso".
Questionado, durante o espaço 'Princípio da Incerteza', sobre se a veracidade desses números implica a recusa de que os estádios foram construídos em "condições desumanas", o antigo dirigente do CDS disse que não, mas não hesitou em considerar que esse "era o argumento dos populistas".
"Eu estou a destruir o número que os populistas usam: 6.500 mortos. Não estou a dizer que há condições de trabalho ideais. Estou a dizer que esse número é falso. Não há nenhuma comprovação de que morreram seis mil pessoas a trabalhar no estádio. Pelo contrário", afirmou, negando que as embaixadas das nacionalidades envolvidas negavam estes números. Voltando a citar a Índia, Lobo Xavier apontou ainda que os responsáveis diplomáticos deste país dizem que "trabalhadores foram tratados no Qatar muito melhor do que noutras áreas do Golfo Pérsico. A Organização Internacional de Trabalho e a Amnistia Internacional que [este número] é cem vezes inferior".
Além de exemplificar com países cujas nacionalidades estiveram envolvidas na construção dos estádios, o comentador foi ao encontro da opinião dos seus colegas de painel - Alexandra Leitão e José Pacheco Pereira -, usando dados mais próximos. "Quando vemos o número de acidentes de trabalho em Portugal durante o mesmo período de tempo, encontramos números parecidos, ou próximos. Existe uma mistificação sobre o número de acidentes de trabalho, que está por detrás deste moralismo", acusou.
Ainda durante a sua intervenção, o centrista referiu-se ainda às 'fake news' e às publicações que, na sua opinião, as publicavam. "Permite até tiradas eloquentes, grandiosas: 'Estádios feitos sobre 6.500 cadáveres", citou, generalizando: "Vem do Guardian, de que, em geral, não aceitamos nada. Nem à Direita, nem à Esquerda. É um tabloide sensacionalista com notícias e primeiras páginas absolutamente incomprovadas", atirou, debatendo-se, mais uma vez, com a opinião dos colegas. "Não é um bom exemplo", ripostou Pacheco Pereira, que, à semelhança de Alexandra Leitão, tem vindo a criticar esta polémica.
Para lá da discordância no que diz respeito ao número de trabalhadores mortos - no âmbito do que alguns responsáveis de direitos humanos chamam de 'escravatura moderna' -, o comentador reconheceu ainda que no mundo do futebol há "impunidade, violência, promoção de valores errados", entre outras.
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