Durante este debate em plenário, o presidente do Chega associou o ataque de 28 de março, em que um homem refugiado matou duas mulheres com uma arma branca, ao extremismo islâmico, o que o ministro da Administração Interna considerou ser "um ataque descabelado às instituições" que afastaram essa ligação.
André Ventura referiu-se ao refugiado afegão Abdul Bashir como "suspeito de matar a própria mulher, suspeito de ligações ao Estado Islâmico, suspeito de ligações aos talibãs", e alegou que isso está a ser investigado pelos serviços de informações, invocando fontes não identificadas citadas pelo jornal Nascer do Sol.
"Temos suspeitas credíveis e fundadas ditas pela própria imprensa", disse Ventura, que perguntou ao ministro da Administração Interna se "isto é verdade ou é mentira".
Ressalvando que todas as hipóteses têm de ser objeto de investigação, José Luís Carneiro afirmou que "se houvesse qualquer indício" de ligações a movimentos terroristas "com certeza que a Unidade de Coordenação Antiterrorismo teria alterado os níveis de alerta do país", como é sua obrigação até no quadro internacional.
O ministro sugeriu a André Ventura que, "se porventura tem informações que não sejam do conhecimento das autoridades judiciárias, pois deve dirigir-se ao Ministério Público e apresentar os factos".
Ao longo deste debate de atualidade, os deputados do Chega Rui Paulo Sousa, André Ventura e Pedro Pinto contestaram a política de imigração promovida pelo Governo, que qualificaram como sendo "de portas abertas" e de "bandalheira", sem porém avançar propostas concretas de alterações nesta matéria.
O ministro da Administração Interna contrapôs que Portugal é "um país acolhedor", mas com "fronteiras reguladas e seguras", elencando as entidades envolvidas no processo de verificação dos refugiados e mencionando, por exemplo, que "em 2022 foi recusada a entrada a 1.749 cidadãos".
José Luís Carneiro foi confrontado pelo Chega com a afirmação do diretor nacional da PSP, Magina da Silva, de que já se estava "de certa forma à espera" de uma "ocorrência com um atacante ativo" como a de 28 de março no Centro Ismaili.
"Por que é que foi possível dizer que já estávamos à espera que pudesse acontecer? Por uma razão muito simples: porque todos os dias desde há muito que as nossas forças de segurança trabalham nos cenários das ameaças e dos riscos", argumentou o ministro.
PS, PSD, Iniciativa Liberal, Bloco de Esquerda, PCP, Livre e PAN criticaram a mistura entre os temas da segurança e da imigração, a confusão entre migrantes e refugiados e acusaram o Chega de aproveitamento do ataque no Centro Ismaili e de incitamento ao ódio.
Pelo PSD, a deputada Andreia Neto defendeu, no entanto, que deve haver "uma regulação forte e adequada, segura e ordenada" da imigração, com "condições de acolhimento digno para a segurança de quem cá está e pela dignidade da pessoa humana", e que dê preferência a certos "tipos de migrantes".
"Se podermos acolher e integrar jovens num percurso universitário, tanto melhor, sim, se podermos acolher famílias que mais facilmente se integrem, tanto melhor", considerou a social-democrata.
Andreia Neto distinguiu nestes termos o seu partido do Chega: "O que o PSD não faz e não fará é passar a linha do oportunismo e da decência, é confundir as pessoas com discursos populistas e demagógicos que muitas vezes incitam o ódio. O PSD é um partido responsável, é o partido que vai governar Portugal, não é um partido de protesto, nem de repentismos ou fogachos".
O deputado do PS Pedro Anastácio declarou que "não será o ódio que ficará para a história num qualquer agendamento oportunista".
Patrícia Gilvaz, da Iniciativa Liberal, demarcou-se "do discurso xenófobo, racista e populista" e da tentativa de "criar sentimentos de medo e de ódio".
O líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, considerou que o Governo nem devia ter estado neste debate, para não "legitimar esta ideia xenófoba, esta ideia preconceituosa de que em cada imigrante temos um potencial criminoso".
"Deixemos os populistas a falar sozinhos, porque de facto o ódio e a discriminação nesta Assembleia não podem continuar a passar", afirmou Inês de Sousa Real, do PAN.
Alma Rivera, do PCP, apontou "o discurso de ódio", ele sim, como "um problema de criminalidade" prioritário em Portugal.
Rui Tavares, do Livre, aproveitou para insistir que o PSD deve acabar com "a ambiguidade ou o silêncio" e recusar em absoluto qualquer futuro entendimento com o Chega.
O debate prolongou-se durante perto de duas horas e meia e acabou com o grupo parlamentar do Chega a sair do hemiciclo pouco antes do fim, após a Mesa ter concedido a palavra à ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, para defesa da honra do Governo.
A ministra protestou por André Ventura ter responsabilizado também o Governo pelo duplo homicídio no Centro Ismaili. O presidente do Chega respondeu: "Mantemos cada palavra que dissemos e mantemos cada uma das insinuações e das acusações que fizemos".
[Notícia atualizada às 19h15]
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