Enquanto que o anúncio da organização do Mundial de Futebol de 2030 em Portugal foi acolhida com muitos elogios por vários partidos, especialmente pelo PS e pelo PSD, o Bloco de Esquerda criticou o anúncio, considerando que organizar um evento com Marrocos é "ajudar" a ocupação do Saara Ocidental.
Através da rede social Twitter, agora X, o líder do grupo parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, acusou a organização de ser um exemplo de 'sportwashing' - um conceito aplicado muitas vezes sobre o Mundial do Qatar, por usar o evento para desviar atenções a violações a direitos humanos -, e avisou que "desta vez é Marrocos a usar o futebol para lavar a imagem da contínua violação de direitos humanos e da ocupação ilegítima do Saara Ocidental".
"Ter Portugal a ajudar a esta farsa é vergonhoso e um desrespeito pela ONU e pelo direito internacional", afirmou o deputado.
Sportwashing: Desta vez é Marrocos a usar o futebol para lavar a imagem da contínua violação de direitos humanos e da ocupação ilegítima do Saara Ocidental.
— Pedro Filipe Soares (@PedroFgSoares) October 4, 2023
Ter Portugal a ajudar a esta farsa, é vergonhoso e um desrespeito pela ONU e pelo direito internacional#FreeWesternSahara
Já Isabel Pires, também do BE, reiterou que Marrocos "ocupa ilegalmente o território do Sahara Ocidental, incumprindo todas as resoluções da ONU sobre o tema".
"Com esta decisão, Portugal compactua com um estado agressor, que prevê a construção de um estádio em território ocupado. Não em meu nome", disse, aludindo para a possibilidade de a candidatura marroquina no Mundial incluir a construção de um recinto em Dakhla.
A região do Saara Ocidental, uma zona desértica, tem sido cada vez mais abordada no âmbito geopolítico, à medida que o governo local, liderado pelo movimento Frente Polisário, têm intensificado os seus pedidos de autodeterminação.
O Saara Ocidental é uma antiga colónia espanhola, situada a sudoeste do resto do território marroquino, tendo sido anexado em 1975 contra um decreto pelo Tribunal Penal Internacional. O governo nacional tem sido constantemente acusado por organizações internacionais, incluindo pela Organização das Nações Unidas, de recusar a autonomia do povo indígena Sahrawi.
Após uma longa guerra entre 1975 e 1991, a ONU conseguiu mediar um cessar-fogo e exigiu que Marrocos aceitasse um referendo para a independência do Saara Ocidental, algo que ainda não aconteceu.
O Mundial de Futebol de 2030 passará por Marrocos, por Espanha e por Portugal, numa candidatura conjunta que chegou a incluir a Ucrânia. Esta quarta-feira, a FIFA anunciou que a candidatura dos três países iria acolher a competição, sendo que os três primeiros jogos ocorreriam ainda na Argentina, Paraguai e Uruguai, para comemorar os 100 anos do evento.
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