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Ferro Rodrigues critica "cultura justicialista e de desconfiança" do MP

O antigo presidente da Assembleia da República considerou que a saída de Costa do Governo foi "precipitada", tanto pelo primeiro-ministro como por Marcelo, e disse que é "normal" haver mais do que um candidato à liderança dos socialistas.

Ferro Rodrigues critica "cultura justicialista e de desconfiança" do MP
Notícias ao Minuto

14:24 - 22/11/23 por Notícias ao Minuto

Política Eduardo Ferro Rodrigues

Eduardo Ferro Rodrigues fez duras críticas à forma como o Ministério Público (MP) tem gerido a investigação que levou à demissão do primeiro-ministro e à queda do Governo, considerando esta quarta-feira que existe uma "cultura justicialista e de desconfiança a figuras que têm importância" e criticando a "impunidade" de "ataques a pessoas que são inocentes".

Em entrevista à Rádio Observador, o anterior presidente da Assembleia da República, que foi sucedido por Augusto Santos Silva, afirmou que existe um "padrão justicialista que se mantêm" desde os tempos em que foi escutado no processo Casa Pia, apesar de não ter sido feito arguido, e recordou as mediáticas buscas à casa de Rui Rio, o anterior presidente do PSD.

"Uma coisa é autonomia, outra é balcanização do Ministério Público", disse, atirando uma farpa ao Partido Socialista por não ter aproveitado para reformar a justiça portuguesa. "Com maioria absoluta do PS, é pouco aceitável que não se tenha melhorado essa proposta e avançar com verdadeira reforma da justiça", disse.

O MP tem sido muito criticado pela forma como foi conduzida a Operação Influencer; depois da implicação de António Costa na investigação e nas escutas, que se centraram em torno de um centro de dados em Sines e de negócios do lítio e hidrogénio. Soube-se mais tarde que houve erros na transcrição de algumas escutas, com os responsáveis a confundirem o nome do primeiro-ministro com o do ministro da Economia, António Costa Silva, além de um erro sobre uma portaria associada ao então secretário de Estado da Energia, João Galamba, sendo que a portaria em nada tinha a ver com o assunto.

As críticas foram exacerbadas quando o juiz de instrução, Nuno Dias Costa, aplicou medidas de coação muito leves aos arguidos do caso, quando o MP pedia prisão preventiva. Diogo Lacerda Machado, um dos melhores amigos de António Costa, e Vitor Escária, chefe de gabinete do primeiro-ministro, foram apenas proibidos de se ausentarem do país, sendo que Lacerda Machado ficou ainda obrigado a pagar uma caução de 150 mil euros.

Convocar eleições foi decisão correta, apesar de "precipitação" de Costa e Marcelo

Para Eduardo Ferro Rodrigues, a inédita "ofensiva do Ministério Público e policial na residência oficial do primeiro-ministro" levou a uma "precipitação" do Presidente da República em aceitar a demissão de António Costa, mas houve também a mesma precipitação em Costa apresentar a demissão. "Não me parece que tenha sido uma atitude refletida", disse.

No entanto, apesar da pressa e da ineficácia em torno da queda do Governo, o antigo presidente da Assembleia da República constatou que a decisão de dissolver o Parlamento foi a melhor, tendo em conta as circunstâncias.

"Não foi por vontade própria que António Costa se demitiu. Feito o mal, a demissão e a dissolução, não havia outro caminho sem ser eleições antecipadas", disse.

"Depois das eleições haverá unidade no PS"

Sobre o 'seu' Partido Socialista, Ferro Rodrigues comentou ainda os últimos meses da governação socialista, vincando que houve muita gente "irritada com a maioria absoluta" do PS, acusando a pressão sobre o seu sucessor, Augusto Santos Silva.

"A pressão sob Presidente da República foi muito grande, feita por partidos de direita e extrema-direita. Agora as circunstâncias levaram à necessidade de ativar a bomba atómica", atirou.

Olhando para a luta pela liderança do PS, entre Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro, Ferro Rodrigues disse que, apesar de ter estado na comissão política nacional do partido, optou por "não tomar posição" e não se "envolver na luta interna", mas saudou a existência de mais do que um candidato - um contraste com a sua própria chegada à liderança como recordou.

"A situação é completamente diferente. (...) Foi tão normal haver candidato há 20 anos como é normal haver mais candidatos em 2023", disse, acreditando que "depois das eleições haverá unidade no PS".

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