O antigo primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva acusou Mário Soares de ter sido uma “força de bloqueio” do Governo que dirigiu entre 1985 e 1995, num segundo texto divulgado na terça-feira e assinado pelo também ex-Presidente da República, no Observador.
Começando por esclarecer que, no texto anterior, a expressão “Governo arrogante” se referia ao “orgulho” revelado pelo Executivo “não só pela obra realizada, mas também pela inteligência que demonstrara na resposta aos ataques políticos da oposição”, Cavaco Silva apontou que “Mário Soares muito se esforçou para desgastar a imagem do Governo através do seu comportamento e atitudes”.
“Anormal nesse período foi a ação do Presidente da República, Mário Soares, certamente incomodado com a dimensão da obra realizada pelo Governo. Abandonou explicitamente a posição de isenção e independência em relação às forças político-partidárias e passou a ser parte ativa do jogo político, assumindo mesmo uma atitude destacada no ataque ao Governo, como foi reconhecido por toda a comunicação social”, concretizou, justificando o porquê que o Executivo e o próprio Partido Social Democrata (PSD) terem sido “forçados a encarar o Presidente como um adversário político e uma ‘força de bloqueio’”.
Na ótica do antigo primeiro-ministro, a Presidência da República tinha “uma estratégia de desgaste do Governo cuidadosamente delineada, que as manifestações de grupos descontentes eram estimuladas e se lhes assegurava boa cobertura mediática”.
Nessa linha, Cavaco mostrou-se arrependido por ter afirmado, perante o PSD, que era necessário ajudar Soares “a acabar o seu mandato com dignidade”.
“Na parte final do meu tempo como primeiro-ministro, numa tentativa de acalmar os críticos de Mário Soares dentro do PSD, fiz uma afirmação que muito o irritou: ‘Temos de ajudar o senhor Presidente da República a acabar o seu mandato com dignidade’. Não a devia ter feito”, confessou.
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