Depois de no início de janeiro se ter comprometido a negociar um acordo para uma maioria de esquerda após legislativas antecipadas de 10 de março, Mariana Mortágua, em entrevista à agência Lusa, assume que ainda não teve uma resposta do novo líder do PS, Pedro Nuno Santos, e recusa a ideia de haver "jogo escondido antes das eleições" de qualquer partido.
"A prioridade é um acordo para soluções e para medidas concretas", assegura.
Questionada sobre se o horizonte temporal para um eventual acordo pós-eleitoral deveria ser o de uma legislatura, tal como aconteceu na Geringonça, a líder do BE defende que sim porque é "essa capacidade de planear um futuro a médio prazo, de planear soluções para o tempo de uma legislatura" que "dá capacidade e músculo de resposta aos problemas do país".
"A crise na habitação não se resolve com um estalar de dedos", sustenta.
Recordando que o entendimento à esquerda "que as pessoas no país chamam carinhosamente de Geringonça foi um acordo escrito para uma legislatura que durou entre 2015 e 2019", Mariana Mortágua entende que essa é a solução porque é "o dever de clareza e de compromisso" que se tem para com os eleitores.
Na opinião da líder do BE, "não pode haver jogo escondido antes das eleições" porque não se pode acusar a Aliança Democrática "de ter um acordo escondido com o Chega, como aliás tem e já se viu nos Açores o pouco que valem as promessas que não haverá acordo nenhum", e depois "não haver nas eleições legislativas clareza por parte dos diferentes partidos que querem fazer uma maioria com a esquerda".
Questionada se num novo entendimento com o PS a ida do BE para o Governo será uma condição, a deputada sublinha que o partido "governará quando tiver votos e apoio popular para isso", ressalvando que qualquer força partidária, quando se apresenta a eleições, é porque "é capaz e se sente capaz de governar".
"O mais importante e a prioridade para o Bloco de Esquerda é ter compromissos sobre propostas e sobre soluções. São propostas e soluções que queremos negociar, é sobre elas que queremos chegar a um acordo. Não sobre lugares. Nunca foi, nunca será sobre lugares", assegura.
Para Mortágua, é fundamental que "os partidos que podem fazer uma maioria com a esquerda digam ao que vêm, apresentem as suas propostas e sejam claros com os compromissos que querem fazer".
"A única hipótese de estabilidade no país tem que ser alicerçada em medidas que possam mudar as coisas, que possam resolver o problema das pessoas, essa única hipótese é de uma maioria com a esquerda", defende.
Convicta de que não haverá uma maioria absoluta em 10 de março, a coordenadora do BE defende que "em vez de ser as tricas e as lutas da direita", o que pode dar "um horizonte de esperança e de mobilização" para as eleições é a capacidade de se falar sobre propostas.
"O que é que cada partido quer para a habitação, para a saúde, para os salários, para o trabalho e que o debate seja feito sobre as propostas, sobre os entendimentos para o dia 11 de março. Isso é não só transparência e respeito pelos eleitores, como é em si um projeto mobilizador para levar as pessoas a votar", justifica.
Sobre o posicionamento do PCP, que em recente entrevista a Lusa disse estar aberto a convergência à esquerda mas proposta a proposta, Mortágua escusou-se a comentar as posições dos comunistas, que considera serem responsáveis pela sua linha política e decisões.
"O que posso dizer é que não vai haver uma maioria absoluta e por isso o Bloco de Esquerda entendeu e entende que é melhor haver clareza com os eleitores e é melhor que cada partido diga exatamente ao que vem, para que as pessoas, quando vão votar, poderem saber com o que contam e o que vai acontecer, sem surpresas no dia a seguir e acho que essa é uma condição da democracia", reitera.
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