O presidente do Chega, André Ventura, considerou, esta quinta-feira, que ocorreu uma "pressão" sobre a Justiça com o objetivo de "ilibar António Costa" no âmbito da Operação Influencer, algo que "não aconteceu com outros políticos", chegando mesmo a comparar Costa a José Sócrates.
O líder do Chega reagia assim ao facto de o Tribunal da Relação de Lisboa (TRL) ter rejeitado ontem o recurso do Ministério Público (MP) no processo Operação Influencer e ter decidido que os arguidos ficam com Termo de Identidade e Residência. Além disso, o TRL concluiu também que "os factos apurados não são, só por si, integradores de qualquer tipo criminal", o que significa que afastou os indícios do crime de tráfico de influências.
Em declarações aos jornalistas, em Lisboa, André Ventura começou por ressalvar que "a decisão que foi conhecida é uma decisão sobre medidas de coação e não sobre o fundo da questão da Operação Influencer".
"Nós não sabemos o que é vai acontecer com a Operação Influencer, eu acho que há aqui um sinal - esse sim que é preocupante - há uma pressão enorme na sociedade civil, quer de setores ligados ao PS, quer de setores ligados a várias coisas, a várias instituições, de ilibar António Costa, coisa que não aconteceu com outros políticos envolvidos e com outros processos envolvidos", referiu.
"Parece que há uma pressão, uma espada sobre o tribunal a dizer: 'Absolvam-no lá rápido porque ele tem de ir para o Conselho Europeu'. Nós ou temos uma Justiça igual para todos ou não temos. Há pessoas que estão há espera há 10 anos e há seis anos", acrescentou ainda.
Confrontado, contudo, de ter sido esta operação que levou à demissão de António Costa do cargo de primeiro-ministro, André Ventura defendeu que a renúncia não ocorreu apenas "com base no processo".
"António Costa não se demite só pelo processo em si, é encontrado dinheiro no gabinete ao seu lado. Torna-se público que um dos advogados que fez o projeto-lei sobre Sines era, ele próprio, ligado aos interesses de Sines. A empresa do lítio e do hidrogénio contratou o melhor amigo de António costa para os assessorar. Isto não desapareceu ontem", atirou.
"É evidente, o Tribunal tomou esta decisão, vamos ver como é que corre agora o processo que baixou agora ao DCIAP, mas eu acho que é preciso, por um lado, que a Justiça trabalhe, e não ter sempre esta espada a ver se o Dr. António Costa pode ir para o Conselho Europeu. Eu não vi esta pressão em nenhum outro processo com políticos. É a primeira vez que isto acontece. É 'decidam lá rápido que o homem tem de ter a vida dele decidida'. Todos os outros políticos também têm de ter a vida resolvida, não é só António Costa", reforçou.
Face ao facto de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter afirmado ontem que "começa a ser mais provável" haver um português no Conselho Europeu, Ventura rejeitou que haja "tentativa da Presidência, muito menos do Tribunal, de fazer branqueamento", mas sim "uma pressão civil nesse sentido".
E acabou mesmo por comparar António Costa ao também antigo primeiro-ministro José Sócrates.
"Também há suspeitas sobre outro primeiro-ministro que esta há 10 anos à espera de ser julgado e não vejo ninguém a dizer que tem de andar. Tem de andar aqui porque há pressão política para andar", atirou. Interrogado sobre se estava a comparar Costa a Sócrates, confessou: "Porque não? Foram os dois primeiros-ministros, estão dos dois sob investigação".
O presidente do Chega defendeu ainda que continua a "achar que o Parlamento deve fazer uma investigação profunda sobre os negócios do lítio e do hidrogénio" e que, caso a Assembleia da República não tome essa "iniciativa", o Chega irá propor uma comissão parlamentar de acompanhamento, considerando que o caso "levanta suspeitas políticas".
Ventura recusa a ideia de pedir esclarecimentos ao MP, mas defende que o MP "deve comunicar o que aconteceu". "Estou certo que o fará porque é principal interessado", rematou.
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