Estas posições foram assumidas por José Pedro Aguiar-Branco no primeiro discurso que proferiu enquanto presidente do parlamento numa sessão solene comemorativa do 25 de Abril de 1974.
De acordo com o antigo ministro da Defesa, meio século após a revolução de Abril, "o país quer mais, exige mais saúde, mais educação, mais justiça, mais habitação, mais desenvolvimento".
"É essa pesada herança que explica tantos e tantos portugueses desiludidos, tantos e tantos portugueses zangados, tanta e tanta polarização, tanta radicalização e tanto populismo. Devemos culpar os portugueses por isso? Devemos culpá-los pelas suas escolhas nas urnas?", questionou.
O presidente da Assembleia da República assinalou depois ter "genuínas dúvidas" de que a resposta a esses portugueses zangados "seja mais ideologia, mais guerras culturais, mais partidarização, mais tática política ou mais jogos parlamentares".
"A desilusão de uns resolve-se com boa governação. A polarização de outros resolve-se com soluções. Com ações concretas e não com palavras e discursos mais ou menos inflamados. E notem a expressão que propositadamente utilizei. Resolver. Não combater", acentuou.
José Pedro Aguiar-Branco completou esta ideia, dizendo que "a casa da democracia" não pode ser encarada como um "castelo fechado em si mesmo, protegido atrás de grades que, por conforto ou segurança, simbolicamente fomos deixando ficar".
"A casa da democracia não pode servir para defender o regime. Isso era a outra, a dita Assembleia Nacional. E muito menos a casa da democracia serve para defender a democracia. Serve sim para construir a democracia. Todos os dias, com mais políticas que política, com mais coragem que jogos ou preocupações com popularidade", contrapôs.
Neste contexto, o social-democrata José Pedro Aguiar-Branco evocou a ação do antigo Presidente da República, fundador e primeiro líder do PS, Mário Soares, considerando mesmo que "foi a personificação maior de um espírito de bom senso e sabedoria que hoje, em política, se chama de moderação".
"O homem que combateu o PCP nas ruas foi o mesmo que não permitiu a sua ilegalização. O homem que amnistiou Otelo foi o mesmo que trouxe Spínola para junto de si. O que alguns podem chamar de contradições ideológicas e políticas, ele chamaria de reconciliação. De respeito pela diferença de pensamento, pela diversidade das ideias", salientou.
Uma atitude que, de acordo com o presidente da Assembleia da República, Mário Soares adotou "não por uma casta noção de tolerância, mas pela certeza de que o país só cresce e se desenvolve com a diferença e pela diferença". Na bancada do PS, houve novamente palmas.
"A certeza de que a diferença exige mais de nós. Que a diferença soma e acrescenta. Isso é sabedoria. É bom senso. Como português, cidadão e eleitor só posso esperar o mesmo para esta casa: O respeito maior pela diferença, de que a composição desta assembleia é, hoje, exemplo, fruto da afirmação livre da vontade dos portugueses", acrescentou.
Leia Também: Aguiar-Branco pede a deputados que derrubem grades entre eleitos e eleitores