"Da parte do Chega, não haverá qualquer aproximação ou pacto numa situação como esta", disse, referindo-se ao facto de o líder regional social-democrata e chefe demissionário do executivo PSD/CDS-PP, Miguel Albuquerque, ser arguido num processo que investiga suspeitas de corrupção na Madeira.
André Ventura falava numa ação de campanha para as eleições antecipadas de 26 de maio, que arrancou hoje, na freguesia do Santo da Serra, no concelho de Santa Cruz, onde visitou o mercado local acompanhado pelos candidatos do Chega.
"Miguel Albuquerque nunca devia ser candidato nestas eleições. Isto não tem que ver com estatutos processuais, tem a ver com o que se sabe, com o que se viu, com o que se ouviu", disse, criticando o facto de o PSD regional ter optado por o indicar para cabeça de lista e de o líder nacional do partido, Luís Montenegro, ter apoiado a decisão.
Ventura considerou que assim ficou "bem clara" a opção dos dirigentes social-democratas.
"O Chega seria absolutamente incoerente se, depois disto tudo, fizesse qualquer espécie de acordo com este PSD e com Miguel Albuquerque", declarou, para logo reforçar: "Nós não pactuamos com histórias mal contadas, com suspeitas graves sobre as instituições e sobre o dinheiro das pessoas".
O líder do Chega, que segunda-feira participará em mais uma iniciativa de campanha e regressará à região na semana antes das eleições, admitiu, no entanto, que o partido poderia ponderar um cenário de entendimento com os social-democratas "se o PSD fosse outro e se a liderança fosse outra".
"Miguel Albuquerque está isolado e da nossa parte continuará isolado, por uma razão simples, é que esta situação da Madeira não tem nada a ver com a situação da República", disse, para depois explicar: "O que se passa aqui é que há um poder que está incrustado nas instituições há anos de mais [...] e ou se faz um corte, ou nós não conseguiremos nunca evoluir".
"Ora, o Chega não faria esse corte se for para o Governo com o Dr. Miguel Albuquerque. Temos que ter valores e princípios e não cedemos neles", reforçou.
André Ventura disse ainda que o Chega "não quer contribuir para a ingovernabilidade", mas também não vai ceder na corrupção.
"Nós temos mesmo de fazer o corte com a corrupção que tem minado as instituições e muita da nossa campanha vai ser a apelar aos madeirenses, aos porto-santenses e, através deles, ao país inteiro, da importância de fazer esse corte com a corrupção", disse, vincando que estas eleições são uma oportunidade para "começar essa mudança" e que, depois, o partido vai promover na Assembleia Legislativa uma "auditoria completa" aos últimos anos da governação social-democrata.
André Ventura descartou também a possibilidade de entendimentos com o PS, o maior partido da oposição madeirense.
"Aliança com o PS, nem na Madeira, nem nos Açores, nem em Marte, nem em Júpiter, nem em lado nenhum do mundo", afirmou.
As legislativas da Madeira decorrem com 14 candidaturas a disputar os 47 lugares no parlamento regional, num círculo eleitoral único: ADN, BE, PS, Livre, IL, RIR, CDU (PCP/PEV), Chega, CDS-PP, MPT, PSD, PAN, PTP e JPP.
As eleições antecipadas ocorrem oito meses após as mais recentes legislativas regionais, depois de o Presidente da República ter dissolvido o parlamento madeirense, na sequência da crise política desencadeada em janeiro, quando o líder do Governo Regional (PSD/CDS-PP), Miguel Albuquerque, foi constituído arguido num processo em que são investigadas suspeitas de corrupção.
Em setembro de 2023, a coligação PSD/CDS venceu sem maioria absoluta e elegeu 23 deputados. O PS conseguiu 11, o JPP cinco o Chega quatro, enquanto a CDU, a IL, o PAN (que assinou um acordo de incidência parlamentar com os sociais-democratas) e o BE obtiveram um mandato cada.
Leia Também: Ventura: "Nós não podemos continuar a ter estes níveis de imigração"