Durante o debate quinzenal na Assembleia da República, André Ventura referiu que estão a existir agendamentos feitos "não por médicos, não pelos serviços clínicos, mas por ordem política". O presidente do Chega leu o que disse ser uma troca de comunicações relativas à marcação da cirurgia de um utente, mas recusou identificar qual o serviço em causa, "por questões de dados pessoais".
"Por ordem do seu Governo estão a ser feitos agendamentos que não são de critérios médicos nem clínicos, com único objetivo de reduzir listas de espera e reduzir cirurgias que aparentemente continuam em falta. Isto não é gerir bem a saúde, é uma fraude política", acusou.
Na resposta, o primeiro-ministro disse não poder referir-se ao caso concreto referido por Ventura, por não saber de que hospital se tratava nem mais pormenores, e pediu ao Chega que faça chegar ao Governo mais informação, prometendo averiguar a situação.
Ainda assim, afirmou que o Governo "não deu instrução nenhuma a nenhum serviço para ultrapassar a legalidade, o funcionamento regular das instituições de saúde que agendam atos clínicos".
"Não estamos a fazer nenhuma operação de cosmética com os números", indicou.
André Ventura acusou o primeiro-ministro de não cumprir as promessas, nomeadamente no que toca ao tempo de espera para cirurgias oncológicas.
"O senhor primeiro-ministro prometeu há uns meses que ia reduzir substancialmente as listas de espera, os tempos de espera e acabar com o acesso demorado, para lá do tempo esperado, no caso das cirurgias oncológicas. Em agosto 8.000 doentes oncológicos estavam em lista para cirurgia e neste momento mais de 1.250 continuam", afirmou.
"Far-lhe-emos chegar casos como este que são graves e que mostram uma operação cosmética que está a ser levada a cabo para fingir que as listas de espera estão a diminuir", afirmou.
O presidente do Chega desafiou também o líder do executivo a reconhecer "que falhou nas promessas" no que toca à saúde, referindo que "o serviço de saúde está péssimo", mas Luís Montenegro recusou-se a fazê-lo.
"Não, não reconheço. Aconteceu precisamente o contrário, todos os tempos de espera estão a diminuir", afirmou, indicando que os doentes oncológicos que tivessem ultrapassado o tempo máximo de resposta garantido "foram intervencionados ou agendados" para cirurgia.
Ainda assim, admitiu que "pode haver alguns casos, serão sempre muito poucos, que estando agendados, a cirurgia não se tenha realizado", sustentando que há muitas razões para isso acontecer, desde razões "de saúde, vontade do próprio ou incapacidade momentânea do serviço".
O primeiro-ministro indicou que os dados sobre as listas de espera na saúde serão transmitidos "à Assembleia da República para fazer esse acompanhamento".
"Estão a ser feitas mais consultas e mais cirurgias, portanto a diminuir tempos de espera", indicou, afirmando que o Governo conseguiu "recuperar a lista dos doentes que tinham ultrapassado o tempo que, do ponto de vista clínico, é o limite para poderem ser intervencionados" e que "99,2% destas cirurgias realizaram-se dentro do Serviço Nacional de Saúde".
Luís Montenegro assinalou que há uma "espera dentro do tempo que é admissível do ponto de vista clínico, isso haverá sempre", e defendeu que "aquilo que é relevante é que não haja listas que excedam o tempo máximo de resposta que devemos garantir", assegurando que o Governo vai continuar a tentar diminuir estes casos.
[Notícia atualizada às 17h34]
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