No debate quinzenal com Luís Montenegro, foi o líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, a trazer à discussão o episódio passado na Comissão de Economia, em que o Chega pediu para adiar a votação do relatório sobre o indigitado para vice-presidente da Autoridade da Mobilidade e dos Transportes, alegando que o documento entregue, onde conclui que Ricardo Reis "reúne condições" para o cargo, tem erros.
Hugo Soares apontou este recuo do Chega como mais um exemplo de "cumplicidade estratégica, uma espécie de coordenação à vista" desta bancada com a do PS, o que levou a líder parlamentar socialista, Alexandra Leitão, a pedir a defesa da honra da bancada.
"A posição do PS nessa matéria sempre foi a mesma, nunca falou com ninguém. Ou o senhor deputado tem provas do que está a dizer, de um conluio entre bancadas, ou vai ter de pedir desculpas", disse, considerando a intervenção de Hugo Soares "uma tentativa inaceitável de condicionar" os votos do PS.
Na resposta, Hugo Soares disse que aguardaria pela votação do PS do futuro relatório do Chega sobre Ricardo Reis, apontou exemplos de outros matérias em que as duas bancadas aprovaram diplomas contra a vontade de PSD e CDS-PP, e acabou a citar a definição do dicionário de "conluio", com Alexandra Leitão a ripostar ser "uma grande vergonha" pôr em causa a honra de uma bancada sem o provar.
Em seguida, o primeiro-ministro disse que não queria imiscuir-se em questões parlamentares, mas afirmou-se "preocupado enquanto democrata" por, "aparentemente, critérios partidários estarem a sobrepor-se ao interesse geral".
Montenegro deu primeiro o exemplo de um "chumbo" recente da personalidade indicada pelo PSD para o Tribunal Constitucional e, agora, o da AMT, lembrando que o nome de Ricardo Reis já passou pelo crivo da Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública (Cresap) e do Governo.
"O parlamento dirá o que é que entende na sua pronúncia não vinculativa e no parecer que nos vai endereçar. Nós temos todo o respeito pela pronúncia da Assembleia da República, mas eu quero-lhe garantir em nome do Governo que (...) não vamos acatar um parecer negativo que não tenha uma fundamentação suficientemente forte e consolidada e tomaremos em conformidade a nossa decisão de designação", assegurou.
Na audição da semana passada, o Chega, que ficou encarregue de elaborar o relatório, tinha anunciado que não viabilizaria a escolha do Governo para vogal do Conselho de Administração da AMT.
No entanto, no relatório que o partido entregou à comissão, a que a Lusa teve acesso, o Chega refere que "o candidato indigitado apresenta não só um excelente curriculum a nível académico, mas também uma visão estratégica relativamente as atividades prosseguidas pela AMT", e, assim, "reúne as condições para o exercício do cargo para que se encontra indigitado".
"Errar é humano, o Chega admitiu que errou na elaboração deste relatório porque fez 'copy paste' de outro documento, [...] errar e não reconhecer é estupidez", afirmou o deputado Filipe Melo, no seguimento da discussão acesa, com várias defesas da honra, que o pedido de adiamento provocou.
O presidente da comissão, o deputado Miguel Santos (PSD), apontou que o "adiamento é uma faculdade que cabe ao relator" e concluiu que a apresentação do documento vai ser feita na próxima semana.
Na audição da semana passada, PSD e CDS elogiaram o currículo de Ricardo Reis e PS e Chega salientaram a falta de experiência no setor.
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