Numa intervenção no 22.º Congresso do PCP, Bernardino Soares avisou que há uma "fortíssima batalha ideológica em curso" em que se procura convencer "que o Estado deve fazer menos e pagar mais aos privados e que deve garantir a chamada liberdade de escolha".
"Mas não há nenhuma liberdade de escolha se o serviço público não atende ou tem uma lista de espera de meses ou anos", advertiu, considerando que "o negócio privado da saúde é um negócio ganancioso e oportunista".
"É um negócio que quer fazer muitos partos, mas só os que não têm complicações, e os faz maioritariamente por cesarianas, método que não é indicado para a maioria das situações, mas é mais lucrativo para a ganância dos acionistas da saúde privada", disse.
O membro do Comité Central do PCP considerou que os privados são um "negócio que só quer tratar a doença e não quer a prevenção e a promoção da saúde, porque isso não dá lucro".
"A saúde privada só trata quem quer, enquanto quer e pelo preço que decide. E do que nós precisamos é que todos sejam tratados e atendidos no tempo certo, com qualidade e humanidade. O Serviço Nacional de Saúde (SNS) é o garante do direito à saúde para todos", disse.
No entanto, o ex-autarca de Loures frisou que "um SNS a funcionar bem é também o maior obstáculo ao negócio privado da saúde, ao negócio do lucro com a doença".
"É por isso que os governos do PS e do PSD têm vindo a tomar medidas para o enfraquecer. É isso que está a fazer o atual Governo que, tal como o anterior, não respondendo às justas reivindicações dos trabalhadores da saúde, incentivando-os a sair e repelindo os que se vão formando e que em grande número rumam à imigração e ao setor privado", referiu.
Bernardino Soares criticou o Governo do PSD e CDS por, "tal como o anterior, negar a revisão justa das grelhas salariais, afastar a progressão das carreiras, carregar nos horários de trabalho e manter a precariedade".
"É o Governo que tem como único programa arranjar negócio para os privados: quer entregar 800 mil utentes sem médico de família ao setor privado, em vez de contratar mais médicos para os centros de saúde", disse, antes de acrescentar que "ameaça aos hospitais públicos terem de pagar aos privados as cirurgias em atraso, mas não lhes dá meios para aumentar a sua capacidade".
"É o Governo que em vez de reforçar os serviços públicos, se prepara para responder aos problemas do inverno com a contratação de camas aos privados, com o impedimento de acesso à urgência filtrado pela linha Saúde 24, gerida pela Altice", criticou.
Para Bernardino Soares, "com o atual Governo, tal como com o anterior, faltam profissionais e, por causa disso, faltam cuidados à população", a "saúde está mais cara e a população paga 30% do total dos gastos em saúde".
Em contraponto, Bernardino disse que tem sido "forte a luta dos profissionais e das populações pelos direitos".
"É a luta que defende o SNS, é com esta luta, intensa mas ainda insuficiente, com o seu reforço e alargamento, que vamos também na saúde conquistar a política patriótica de esquerda de que o nosso país precisa, com um SNS forte e modernizado", referiu.
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