Francisco Louçã analisou a decisão de Maria Luís Albuquerque ao aceitar a proposta de trabalho na Arrow Global, intitulou a escolha de “imprudente” e garantiu que existe uma “virtude” na escolha da antiga ministra: “vem-nos lembrar de um dos gravíssimos problemas da democracia portuguesa”.
No programa ‘O Tabu de Louçã’, na SIC Notícias, o antigo líder do Bloco de Esquerda relembrou que o caso de Maria Luís não é único entre os governantes portugueses, até pelo contrário.
Para o justificar, o economista mostrou um gráfico em que revelou as ligações entre os ministros e secretários de Estado dos governos, desde o início da democracia portuguesa, e empresas em que trabalharam antes ou depois das funções públicas.
Dos 776 governantes – ministros e secretários de Estado – dos executivos nacionais, 230 têm ligações às áreas da banca e finança, 140 a empresas do PSI 20, e 107 a parcerias público-privadas.
“A norma, em Portugal, é que os governantes vão para o setor financeiro, para administrações. Nunca se tocará nas parcerias público-privadas a não ser que acabe esta regra de ligação”, concluiu o ex-deputado.
Ainda sobre Maria Luís Albuquerque, Louçã acredita que a consulta da comissão de ética é “banal” e “é uma iniciativa que só se toma porque está garantida”.
“A comissão de ética não avalia ética, avalia estritamente o cumprimento da lei e a lei está feita para permitir casos destes, não para os dificultar”, atira o bloquista.
Mais ainda, o comentador crê que a antiga ministra terá “duas vulnerabilidades”, primeiro porque se irá saber “exatamente quanto ganha” e depois porque será uma “deputada zombie” que vai ser observada sempre que haja questões como “crédito imobiliário, dívidas hipotecárias ou entrega da casa por parte das pessoas que não conseguem fazer o pagamento”.
Apesar disso, “Maria Luís Albuquerque vai conseguir que lhe digam que o que fez é normal, mas o normal está errado”, conclui.