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"Só não me leva a sério quem tem interesse em não me levar a sério"

Tornou-se (mais) conhecido quando deu um forte abraço a Guterres, mas rapidamente provou que veio para ficar. Falamos de Tino de Rans, ex-candidato à Presidência da República e atual candidato à chefia da Câmara de Penafiel. Sem medo de mostrar aquilo que é, foi com o Vozes ao Minuto que mostrou um lado mais pessoal, não deixando nunca de parte o tom de campanha eleitoral a que já se e nos acostumou.

"Só não me leva a sério quem tem interesse em não me levar a sério"
Notícias ao Minuto

08:30 - 21/12/16 por Inês Esparteiro Araújo

Política Tino de Rans

A filha Catarina parece ser o seu grande apoio. É o seu “semáforo”, diz. Depois de receber o seu aval, não hesitou em tentar vingar na classe política. Diferente daquilo que estamos habituados a ver, Tino de Rans parece querer revolucionar o ‘rótulo’ atribuído aos políticos.

Numa conversa exclusiva com o Vozes ao Minuto, Vitorino da Silva falou sobre a sua candidatura à Câmara de Penafiel, não se mostrou inibido com as suas facetas de músico ou de celebridade, mas garantiu que Tino de Rans e Vitorino da Silva são a mesma pessoa.

Escritor, calceteiro, músico… Quer explicar-nos um pouco este seu percurso diferente de um político 'normal'?

Sou um homem feliz e nunca tive uma depressão porque estive sempre ocupado a fazer coisas. Nasci sem obra. Uma coisa que me entristece é que há muita gente que diz: “Olha o gajo vai criar uma banda. Olha ele vai fazer um livro’”- olham para quem nunca fez como se não possa vir a fazer. Não. Há muita gente que nunca fez e se às vezes fizer um esforço consegue e não tem medo de ficar a meio. Quando eu chego a meio, não dou a volta  para trás. 

Porquê a profissão de calceteiro? Amor à profissão? Ou foi a primeira oportunidade que surgiu?

Os meus irmãos eram calceteiros, Rans é uma terra de calceteiros, é uma terra de pedra. Nas férias da escola gostava de ir trabalhar com eles porque comia nos restaurantes - nunca tinha comido - e também conhecia novas terras. E não me posso esquecer de que no primeiro dia de trabalho, quando chegámos a uma aldeia, tinha 14 ou 15 anos, começaram a lançar foguetes e eu perguntei qual a razão. Responderam-me “que tinham chegado os calceteiros”.

Normalmente quando as pessoas têm ideias numa terra conservadora chamam-lhe louco

Se lhe perguntarem aquilo que verdadeiramente é, o que diria?

Sou uma pessoa com muita margem de progressão. Tenho a certeza absoluta de que vivo intensamente, que não tenho medo de viver, de respirar o ar que procuro. Sou uma pessoa normal, com uma vida normal. Uma pessoa que faça o mesmo a vida inteira, acho que é um analfabeto. Hoje em dia as pessoas não devem ter medo de experimentar. 

Existem diferenças entre o Vitorino da Silva e o Tino de Rans?

Um é outro. Eu era conhecido por ‘Tino Covilhão’. Era o apelido do meu pai. O meu irmão Neca, antes de morrer, tinha-me dito que queria ver Rans no mapa e a única maneira de eu o conseguir fazer era entrando para a política. Em homenagem ao meu irmão. Como sozinho não me safava, tive de criar uma personagem para poder ter defesas. Mas quem criou o Tino foi a comunicação social. 

Não teme que as pessoas não o levem a sério?

Só não me leva a sério quem tem interesse em não me levar a sério. As pessoas minimamente inteligentes sabem que tudo o que eu faço é com lógica, sou uma pessoa equilibrada. E a prova é que cheguei até aqui com uma estrutura, sou um homem estruturado. Todos têm a sua forma de passar a mensagem e esta é a minha forma de passar a mensagem, com simplicidade, com alegria.

A morte do seu pai e do seu irmão mudou muito a sua visão da vida? Sei que foi o seu irmão que o incentivou para a política.

O meu pai era um homem de horizontes. Teve oito filhos e na altura fez uma casa e a cozinha era quase do tamanho da casa. E toda a gente dizia: “Então Toneco, uma cozinha tão grande e quartos tão pequenos?” E ele respondia sempre que a cozinha era a parte mais importante da casa, era o sítio onde as pessoas se olhavam nos olhos. O meu irmão era uma pessoa que estudava no Porto, que viveu intensamente o 25 de Abril e que era de Esquerda. Era uma pessoa com ideias e normalmente quando as pessoas têm ideias numa terra conservadora chamam-lhe louco. 

Se o seu irmão tivesse tido oportunidade, acha que teria sido político?

Teria. O meu irmão era muito mais político do que eu e ao pé dele sou o seu discípulo. Ele era um iluminado. 

E a sua filha, não se importa que opte pela vida política?

A minha filha é a pessoa que melhor me conhece. É o meu semáforo. Obriga-me a parar e a arrancar. Às vezes está amarelo, outras vezes verde, outras vermelho.

Quando estava na corrida às presidenciais qual foi o melhor conselho que ela lhe deu?

Para ser candidato à Presidência da República tive de começar por algum lado e comecei pela minha mãe.E ela perguntou-me o que é que eu era menos do que o Ramalho Eanes ou Mário Soares. Depois fui ter com a Catarina e perguntei-lhe o que é que ela achava do pai e ela respondeu: “50% de louco e 50% de génio e há pessoas que nem 1% de génio têm e pensam que tu és louco”. E pronto, daí muita gente pensar que eu sou um louco. Ou por apenas olharem para os nossos defeitos. Há muita gente que diz: “Olha não tem dois dentes”, mas não repara que tem outros 30. 

Também participou em vários programas de celebridades…

Quando fui, foi por convite. Foi sempre o diretor da TVI que me ligou a dizer que precisava de audiências. E eu impus uma condição: Haver calçada portuguesa. Uma coisa que é muito nossa. Às vezes não damos importância ao que é nosso.

Nas sondagens nem tinha o meu nome, chamavam-me o outro, quando a dignidade começa pelo nome

Mas tinha sido presidente da junta. Não temeu que a imagem que as pessoas tinham de si mudasse?

Não me posso esquecer de que as pessoas que viam o 'Big Brother' eram as mesmas que ouvem o atual Presidente da República. Não era por acaso que o Marcelo falava ali. Eu estava num canal de televisão onde também estava o Marcelo, que é hoje Presidente da República.

Mas continuemos a falar sobre a Junta. Conseguiu-a. Qual a razão para não ter conseguido depois a Câmara de Valongo?

Valongo foi um percurso. Em Penafiel tivemos um grande presidente. Fui a Valongo porque era um percurso. O Marcelo também não ganhou a Câmara de Lisboa e é Presidente da República. O Passos Coelho não ganhou a Câmara da Amadora e foi primeiro-ministro. O António Costa não ganhou a Câmara de Loures e é primeiro-ministro. Eu precisava de perder.

Mas porquê?

Para ganhar experiência. Eu ia a votos contra o Alberto Santos. Ajudei-o quando saí do partido e nunca iria votos contra ele. Valongo foi uma grande vitória porque fiquei à frente da CDU e do Bloco de Esquerda.

Quando se candidatou à Presidência, alguma vez acreditou verdadeiramente que iria mesmo chegar a chefe de Estado?

Claro que nós temos muros. Imagine um rio e uma pessoa que não sabe nadar, mas que quer chegar à outra margem. Para isso, precisa de colocar pedras. E eu trato as pedras por tu. E pus uma pedrinha na Junta, depois na Câmara e depois como Presidente da República.

Então e no meio, não havia o cargo de primeiro-ministro, por exemplo?

Não não, porque depois a base é diferente. Já estou a chegar à margem, que sempre foi o meu objetivo. Eu na minha terra sabia que tinha votos, mas também queria provar à gente da minha terra que também tenho votos em todo o país. Este é o meu percurso.

Não é preciso ter um grande currículo, porque há muita gente que só tem tempo para ter currículo e nunca fez nada, não tem obraAcha que os políticos menores acabam por ser desprezados nesta 'grande Liga Europa'? Só consegue quem entra em partidos?

A prova [disso] é que os partidos tiveram mais cobertura. As pessoas hoje em dia não votam em quem põe cartazes. Eu passei na autoestrada e vi lá um cartaz que não tiraram. Uma das razões para eu não ter posto cartazes é que depois podia não ter tempo de os tirar. E tinha vergonha se tivesse sido candidato e ainda houvesse cartazes. Só se deixarem já para daqui a quatro anos. Eu fui candidato à Presidência da República e deram mais cobertura à eleição de Trump. O que é que é mais importante para os portugueses? É ver o que se passa na América, na casa do vizinho, ou ver o que se passa aqui, em Portugal? É o cargo mais importante que existe na política e devem todos ser tratados por igual. Nas sondagens nem tinha o meu nome, chamavam-me o outro, quando a dignidade começa pelo nome. A primeira coisa que o meu pai e a minha mãe fizeram foi registar-me. E chamavam-me outro? Só por aí é uma falta de respeito.

O que é que quis provar com esta campanha?

Quis provar que as pessoas devem participar e que é possível participar. Não é preciso ter um grande currículo, porque há muita gente que só tem tempo para ter currículo e nunca fez nada, não tem obra. Eu posso não ter muito currículo, mas quero deixar obra.

Acha que houve um antes e pós-presidenciais?

No dia a seguir às eleições as pessoas vieram abraçar-me e diziam “Tu ganhaste, tu ganhaste” e eu não ganhei. Acho que mudou a reação das pessoas para com o Tino, hoje levam-me muito mais a sério e percebem que o Tino tem algo a acrescentar.

E pensa em recandidatar-se quando Marcelo não puder mais?

Não, Marcelo é o meu Presidente. Enquanto tivermos um Presidente à maneira… A minha ideia agora é Penafiel. Há uma coisa que é o tempo. E eu vou acompanhando o tempo e os tempos.

Que obra gostaria de deixar?

Quero ficar conhecido como o pai da Catarina. A obra mais importante é a minha filha.

E no país?

Como um homem que não teve medo de incomodar, que percebeu que tinha espaço.

Imaginemos que agora ficava à frente dos destinos de Portugal, qual seria uma medida concreta que tomaria?

Portugal é um pais a que todos os dias chegam milhares de pessoas. E se nós soubermos acolher bem as pessoas… Gostaria que fosse defendida a marca de Portugal, o turismo. Aquilo que se fez no turismo, que se faça igual nas outras áreas. 

E a Câmara de Penafiel, já está ganha?

Não não, não está ganha. Apareci na feira de São Martinho onde estive com a minha gente, vou jogar em casa, com um apoio da massa associativa. Sei que o terreno vai ser muito duro, mas eu conheço muitas pessoas.

O que quer mudar na sua terra?

Quero ouvir as pessoas. Todos os penafidelenses têm muito a dizer e eles sabem o que é que faz falta e o que é preciso mudar.

Fale-me sobre o seu partido, com o qual se está a candidatar. Já mudou de nome várias vezes.

Fiz uma consulta popular e havia três hipóteses: o Partido Ânimo, o Povo Acordado e a opção de ‘outra sugestão’, que aparecia no boletim. Na altura quem teve mais votos foi o Povo Acordado, mas quando fui para o terreno não ficou decidido. Só que depois as pessoas dizia-me: “O P.A? Vais para os partidos dos animais?” E depois começámos a ver que nos podiam confundir com outro partido. Fomos ver às outras sugestões e uma delas era T.O.P, que era ‘Todo o Português,’ e decidimos ficar com este nome.

E se não ganhar a Câmara de Penafiel?

O T.O.P está criado. Eu não estou sozinho, tenho muita gente. O partido está vivo e vai continuar.

*Pode ler a segunda parte desta entrevista aqui.

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