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A tragédia como arma de arremesso político? Este é "um teste importante"

Extintos os incêndios na região Centro, Governo e oposição vão aproveitar a 'oportunidade' para o combate político? O Notícias ao Minuto ouviu a opinião de dois especialistas depois da polémica criada esta segunda-feira com as 'incendiárias' declarações de Pedro Passos Coelho, prontamente desmentidas.

A tragédia como arma de arremesso político? Este é "um teste importante"
Notícias ao Minuto

08:05 - 27/06/17 por Carolina Rico

Política Politólogo

Pouco mais de uma semana depois da tragédia que assolou a região Centro e deixou o país de luto, estalou o verniz no discurso, até agora polido, dos agentes políticos.

Esta segunda-feira, após uma visita ao quartel dos bombeiros de Castanheira de Pera, o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, acusou o Estado de estar a falhar no apoio psicológico que estava a prestar às vítimas, garantindo ter conhecimento de casos de pessoas que "em desespero se suicidaram".

Desmentida a informação pela Administração Regional de Saúde do Centro e autarcas locais, Passos acabou por pedir desculpa aos portugueses por ter "usado informação não confirmada".

Assegurando que não quis utilizar esta informação como "arma de arremesso político", o líder social-democrata limitou-se a reiterar que "há uma situação a que é preciso responder".

O mesmo entendimento não teve a oposição. De imediato, vários deputados socialistas recorreram às redes sociais para criticar a atuação de Passos, classificando-o de "abutre com fato" e sublinhando que "o desespero não justifica tudo". Quem desde logo recusou alimentar polémicas foi o primeiro-ministro António Costa que, ao invés, pediu "prudência".

Mas servirá ou não a tragédia em Pedrógão Grande, que matou 64 pessoas e feriu mais 250, de arma política? Servirá como o 'diabo' que tantas vezes se anunciou e até hoje não chegou?

"Este vai ser um bom momento para a classe política demonstrar na prática os valores de serviço à causa pública que afirmam (…) será um teste importante", defende o professor Carlos Jalali, em declarações ao Notícias ao Minuto.

"Seria muito grave se esta tragédia fosse usada para marcar pontos políticos, creio que a opinião pública portuguesa não ia compreender um cenário desses", reforça o professor da Universidade de Aveiro, doutorado em Ciência Política pela Universidade de Oxford.

Para bem do debate público em Portugal, e aproximação dos cidadãos à política, é importante que esta tragédia não se torne um campo partidarizado"

Até porque, nota o politólogo, "a magnitude da tragédia é tal que coloca grande responsabilidade sobre todos os agentes políticos", quer no Governo quer na oposição. "Política não é apenas competição, é também colaboração e as duas têm de coexistir", destaca.

Já o analista político Adelino Maltez considera que a “dialética” não é o principal problema da política nacional no que respeita a incêndios florestais. Tanto António Costa como Pedro Passos Colho são responsáveis pelo estado a que chegamos”, após anos de uma “política de florestação com erros crassos”.

A tendência dos partidos no poder para não trabalhar em reformas a longo prazo levou a “uma pesada herança explosiva” e até que esta mentalidade mude, “o país vai continuar a arder”, considera.Não digo que os políticos sejam os incendiários mas… gerem muitos dos interesses instalados que vivem dos incêndios”

Quer esteja no poder um partido à Esquerda ou à Direita, no Governo lidera um “bloco central de interesses em que se passa de um lado para o outro com o mesmo patrão: privado”.

O Governo vai tentar uns bodes expiatórios, considera Adelino Maltez. “Até podem cair ministros” para demonstrar que o Governo nunca foi “manipulado por certas redes” mas a oposição “é mansa”.

Se a classe política não tem a coragem de ir ao fundo das questões e de pôr os nomes aos bois poderemos continuar a ser enganados por certos discursos de fazer chorar as pedras da calçada”

Saliente-se que para a próxima quinta-feira, dia 29, está agendado um debate na Assembleia da República sobre os incêndios que atingiram a região Centro do país. A previsão é que a tensão suba e o clima 'aqueça' no Parlamento, com pedidos de esclarecimentos ao Governo por parte da oposição e criticas à imprudência do líder do maior partido da oposição, Pedro Passos Coelho.

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