Resultado das autárquicas foi “mau e pesado”, “não há margem de manobra”
Pedro Passos Coelho confirmou, esta noite, que não se recandidata ao cargo de líder do PSD, justificando a sua decisão com os resultados autárquicos.
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Política Passos Coelho
Depois de uma reflexão sobre os resultados das eleições autárquicas, que diz ter sido “madura e rápida”, Pedro Passos Coelho decidiu não se recandidatar ao cargo de líder do Partido Social Democrata (PSD) e pediu eleições diretas para o mês de dezembro.
Em declarações proferidas na reunião do Conselho Nacional do PSD, o ainda líder do principal partido da oposição admitiu ter ficado surpreendido com o resultado do sufrágio do passado domingo, que foi “mau e pesado”, e considerou que “não há margem de manobra” para se manter na liderança.
“Só temos um resultado comparável em 1982 na sequência de uma solução muito complexa, em que a solução de Governo liderada pelo PSD estava em dificuldades e viria a conhecer o seu termo”, lamentou Passos Coelho, garantindo que gosta “de assumir responsabilidades”.
“Como não saio ileso deste resultado, não posso deixar de tirar dele consequências para futuro. Essa consequência exprime-se na minha decisão de não me apresentar a uma recandidatura no PSD”, afirmou, reiterando que não se demite do cargo e que “o partido não ficará em gestão”.
“Ao resultados autárquicos mostram que temos de encontrar um caminho diferente para futuro. A nossa ação política precisa de ser ambiciosa, o país precisa dela, e eu creio sinceramente que não estou em condições de oferecer essa perspetiva ao PSD. Sinto esta decisão como lúcida e não como o resultado de uma conveniência ou um desejo”, explicou o ainda líder social-democrata.
Passos Coelho explicou ainda que “a afirmação de uma nova liderança terá melhores possibilidade de progressão e sucesso do que uma que [o próprio] pudesse encabeçar”.
No discurso proferido na reunião do Conselho Nacional, o social-democrata propôs que as eleições diretas fossem realizadas no mês de dezembro e recordou que os últimos oito anos “foram intensos” e que “a todos” deve “uma palavra de reconhecimento”.
Pedro Passos Coelho rematou o seu discurso dizendo que, apesar desta saída, não se vai calar e deixar de lutar por aquilo que acredita ser o melhor para o país. Salvaguardou, porém, que não ficará "por cá a rondar" e que o próximo líder do PSD poderá contar com a sua "lealdade".
"O facto de não me recandidatar à liderança do PSD não significa que me vá calar para sempre, não deixarei de lutar pelo meu país da melhor maneira que souber", prometeu, numa passagem muito aplaudida da sua intervenção perante o Conselho Nacional.
Autárquicas ditaram fim de um ciclo de quase oito anos
Passos Coelho foi, até esta terça-feira, o segundo presidente do PSD mais duradouro, logo atrás de Cavaco Silva, dez anos líder do partido, e à frente de Durão Barroso, que exerceu essas funções por cinco anos.
À frente do PSD desde 26 de março de 2010, e reeleito em 2012, 2014 e 2016, sem nunca ter tido oposição interna organizada, Passos Coelho exerceu o cargo de primeiro-ministro entre junho de 2011 e novembro de 2015, em dois Governos sucessivos em coligação com o CDS-PP, embora o segundo tenha durado menos de um mês, na sequência do 'chumbo' do programa do executivo no parlamento pela esquerda.
No primeiro executivo, o líder do PSD governou a maior parte do tempo sob assistência financeira externa, na sequência do pedido de resgate de 2011, ainda por um Governo socialista. Essa coligação voltou a ser a força mais votada nas eleições legislativas de 04 de outubro de 2015, com 38,5% dos votos, mas PSD e CDS-PP perderam a maioria absoluta na Assembleia da República, o que acabou por ditar o destino desse Governo minoritário.
Já na oposição, Passos Coelho foi reeleito líder do PSD em março de 2016, com 95% dos votos, novamente sem adversários, embora ao longo dos últimos dois anos tenham sido vários os críticos assumidos à estratégia da direção, nomeadamente o ex-presidente da Câmara Rui Rio que já era dado como certo na disputa da liderança antes das autárquicas.
Nos últimos dois anos, a relação do líder do PSD com o primeiro-ministro socialista, António Costa, foi sempre tensa, com Passos a atribuir os resultados económicos favoráveis do país em grande parte à herança que recebeu, e acusando o executivo de ter prosseguido a austeridade sem o assumir, através do aumento dos impostos indiretos, do travão no investimento e da degradação dos serviços públicos.
Também pouco próxima foi a relação com Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República desde março de 2016. Apesar de este ter contado com "uma recomendação de voto" do PSD na sua eleição, Passos referiu-se sempre ao chefe de Estado como o "dr. Rebelo de Sousa" e realçou, por diversas vezes, que o Presidente tem de ser uma figura independente dos partidos.
Na última campanha autárquica, o líder do PSD manifestou, por três vezes, o desejo de voltar a ser primeiro-ministro em 2019, mas os piores resultados de sempre em eleições locais levaram Passos Coelho, de 53 anos, a optar por se afastar da presidência do PSD.
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