Vitória do PS em 'bastião' comunista surpreende e marca conversas
O apelo 'Vota CDU' pintado numa rocha à entrada de Castro Verde não convenceu a maioria dos votantes do concelho, que tirou o poder na câmara que sempre tinha confiado aos comunistas para o dar aos socialistas.
© Wikicommons
Política Castro Verde
No rescaldo das eleições autárquicas deste ano, a vitória socialista em Castro Verde, que acabou com o último ´bastião` comunista no Baixo Alentejo, surpreendeu quase todos e marca as conversas na vila, divididas entre a tristeza e a alegria.
Na lógica do ditado popular "Não se pode agradar a gregos e troianos", uns, tristes, lamentam a derrota dos comunistas, que, através da CDU ou outras coligações encabeçadas pelo PCP, lideravam a Câmara de Castro Verde desde as primeiras autárquicas em 1976, outros, alegres, celebram a vitória do PS, que pôs fim a um domínio comunista de 41 anos.
Na Praça da Liberdade, ponto de encontro para convívio entre habitantes da vila, a mudança na "cadeira do poder" da câmara é assunto entre dois comunistas, Manuel Gonçalves e António Felício.
"Achei ruim, o meu partido [o PCP, que integra a CDU junto com o PEV] não ganhou e estou aborrecido, tal como sou do Sporting e quando não ganha fico aborrecido à mesma", desabafa à agência Lusa Manuel, de 76 anos, "nascido e criado" em Castro Verde.
A vitória do PS "para mim foi surpresa", confessa Manuel, que diz não poder explicar o que a motivou, porque não sabe, e remata: "O que vou dizer? Votaram neles [PS] e foram eles que ganharam, mais nada".
Já António, de 63 anos, militante do PCP, arrisca explicações para o que aconteceu.
"É o mesmo que aconteceu a nível do país. A política nacional da geringonça [acordo entre PS, PCP, BE e PEV], que trouxe muitas coisas boas aos trabalhadores portugueses e ao PS, trouxe esta mudança" e as pessoas em Castro Verde "foram muito mal esclarecidas, principalmente as de mais idade", diz António.
"Houve um aproveitamento do PS, que soube trabalhar, não há dúvida, foi isso que aconteceu", afirma António, frisando: "A maior parte das pessoas não está contente, porque as pessoas surpreenderam-se, até eles se surpreenderam quando ganharam, porque não estavam à espera. Agora, espero que eles [eleitos socialistas] façam aquilo que prometeram".
Numa pastelaria perto da praça, Elvira Gonçalves e Maria Monteiro da Cunha, ambas com 68 anos, também comentam a vitória do PS, enquanto uma se entretém a fazer palavras cruzadas e a outra a tomar café.
"Não estava à espera [da vitória do PS], não sei o aconteceu", diz à Lusa Elvira e, prontamente, Maria responde: "Os jovens abriram os olhos e foram todos votar".
Natural de Lisboa, mas a viver em Castro Verde há 17 anos, Maria conta que "há alguns anos que não votava, porque julgava que não valia a pena", porque ganhavam "sempre os mesmos", mas este ano decidiu votar.
"Afinal valeu a pena", desabafa Maria, referindo que ficou "feliz", mas também "surpreendida" com a vitória do PS, porque a CDU "estava muito integrada" em Castro Verde e nunca pensou que os socialistas conseguissem "dar a volta à situação".
Em declarações à Lusa, Carlos Vitoriano, de 63 anos, dirigente da Cortiçol - Cooperativa de Informação e Cultura de Castro Verde, dona da Rádio Castrense, diz que "toda a gente estava cansada" do poder da CDU, que já estava "um bocado envelhecido" e "desgastado" e "sentia-se nas pessoas que queriam uma mudança".
"Embora soubesse que era difícil, não me surpreendeu grandemente, porque tinha uma certa noção de que um dia o PS ia ganhar e a vitória aí está", conta Carlos, que espera que o novo executivo socialista "trabalhe bem".
A Lusa tentou falar com os presidentes da Associação de Cante Alentejano "Os Ganhões" de Castro Verde, Filipe Pratas, que integrou uma lista de candidatos da CDU, e da Associação de Agricultores do Campo Branco, sedeada na vila, José da Luz, mas ambos escusaram-se a prestar declarações sobre a mudança política no concelho.
Nas autárquicas do dia 01 deste mês, o socialista António José Brito foi eleito presidente da Câmara de Castro Verde, com maioria absoluta e 50,86% dos votos, acabando com o domínio da CDU, que obteve 42,40% e passou a segunda força política, seguida da coligação PSD/CDS-PP com 2,57%.
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