"Caridade é deixar os ricos decidirem a que têm direito os pobres"
Polémica em torno da associação Raríssimas continua a suscitar reações. O deputado Miguel Tiago é uma das vozes a reagir, lembrando que o cerne da questão é saber, entre outras coisas, "porque é que é preciso associações privadas fazerem o que o Estado devia fazer”.
© Global Imagens
Política Miguel Tiago
A polémica está instalada, depois de uma investigação jornalística, que acusa a presidente da associação Raríssimas de ter usado o dinheiro da instituição para usufruto próprio. Paula Brito e Costa não tardou a defender-se, alegando estar a ser vítima de "uma emboscada" e defendendo que a reportagem da TVI “não corresponde à verdade dos factos”.
Desde a emissão da reportagem, muitas têm sido as reações. Miguel Tiago, deputado do PCP foi uma das vozes que se manifestou nas redes sociais.
“Eu quero lá saber para onde vai o dinheiro da Raríssimas. Nunca lhes dei nada”, começa por escrever o deputado, sublinhando que se trata de uma instituição privada de caridade que faz com o dinheiro “aquilo que os seus sócios decidirem”.
“É a lógica do privado”, lembra, acrescentando: “Se queremos a lógica do público, não privatizemos tudo e mais alguma coisa”.
O que Miguel Tiago “quer saber” é porque é que “num país com 43 anos de ‘democracia’ é preciso associações privadas fazerem o que o Estado devia fazer”.
“Quero é saber porque é que muitas vezes o Estado não faz e dá dinheiro a verdadeiras empresas para fingirem que fazem”, posiciona-se, prosseguindo na lista de coisas que, quanto a si, importam neste caso. Como por exemplo, “saber porque é que os meus impostos não pagam o apoio às crianças com todas as doenças do mundo”; “porque é que o dinheiro dos meus impostos não é investido no Serviço Nacional de Saúde para acolher quem não tem saúde mental, para apoiar quem não tem casa, para tratar quem tem doenças degenerativas, prolongadas ou crónicas”; “saber por que é que os ricos não pagam os impostos que devem para depois poderem dar apenas o que querem a associações geridas por eles próprios”.
“Caridade é deixar os ricos decidirem a que têm direito os pobres”, atira.
Em suma, para Miguel Tiago, “apurar para onde foi o dinheiro que tem origens públicas é meio caminho andado apenas se não tirarmos a consequência política: as funções do Estado são para ser feitas pelo Estado e não por amigos em associações ou empresas”.
“Ao Estado o que deve ser do Estado. Não podemos dar dinheiro público a privados e depois queixarmo-nos porque eles o gerem como privados!”, conclui.
De acordo com a reportagem da jornalista Ana Leal, em causa, está, por exemplo, a utilização do dinheiro da Raríssimas para deslocações fictícias, a compra de vestidos de alta costura e de gastos pessoais em supermercados.
Na reportagem, é referida ainda a deputada Sónia Fertuzinhos, como tendo feito uma viagem alegadamente custeada pela Raríssimas. A deputada socialista já veio defender que a viagem "não constituiu despesa" para a instituição em causa.
Por outro lado, o deputado do PSD Ricardo Baptista Leite - que foi convidado para integrar a direção da Raríssimas há duas semanas -, pediu um "cabal esclarecimento" da situação.
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