Das "trapalhadas" de Santana ao "problema" de Rio, o debate foi aceso
Primeiro de três debates entre Rui Rio e Pedro Santana Lopes ficou marcado pelos ataques constantes entre os dois candidatos. Rui Rio fez um discurso mais virado para fora do partido, atacando, sobretudo, o passado de Santana Lopes enquanto primeiro-ministro, ao passo que este último falou mais para os militantes, reiterando que Rio ataca, frequentamente, o PSD e não António Costa.
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Política PSD
No final de um debate político, analistas e espectadores costumam procurar resposta à questão: quem foi o vencedor? O frente a frente entre Rui Rio e Pedro Santana Lopes, os dois candidatos à liderança do PSD, não é exceção, mas encontrar uma resposta assertiva e exata para esta pergunta não é fácil.
Do debate de quinta-feira à noite, transmitido na RTP e moderado pelo jornalista Vítor Gonçalves, uma coisa salta à vista. Quem esperava um debate enfadonho entre dois candidatos muito próximos ideologicamente terá sido surpreendido por um confronto (bastante) aceso, em que tanto Rio como Santana passaram grande parte do 'duelo' ao ataque.
Mas, antes das divergências e quezílias, os consensos. Começando pela questão da lei do financiamento dos partidos, aprovada no Parlamento mas vetada pelo Presidente da República, os dois candidatos foram unânimes em condenar a trapalhada – palavra que iria marcar o debate mais à frente, mas lá chegaremos – de todo o processo.
Os partidos devem, explicar aos portugueses que precisam de dinheiro para sobreviver“Numa matéria como esta, julgo que os dirigentes políticos têm de aprender, de uma vez por todas, que tem de ser tratada com total abertura, com toda a transparência”, começou por dizer Santana Lopes, que no entanto não considera o financiamento dos partidos como uma “prioridade”. “Os partidos devem, com toda a frontalidade, explicar aos portugueses que precisam de dinheiro para sobreviver”, sublinhou Rio, que considerou que “o subsídio público não deve ser aumentado”.
Ainda a propósito da questão do financiamento, os dois candidatos revelaram também quanto tencionam gastar na campanha para a presidência do partido. Rui Rio fala em 90 mil euros, Santana em 70 mil. A origem do dinheiro? “Donativos, naturalmente, de pessoas que estão na campanha e que me querem ver a presidente do partido”, concordaram.
As "trapalhadas" de Santana e o "problema" de Rio
O debate começou a aquecer quando os dois candidatos decidiram começar ao ataque. Rui Rio não hesitou em recuperar os meses em que Santana Lopes foi primeiro-ministro, antes de Jorge Sampaio dissolver o Parlamento e convocar eleições legislativas, em 2005. “Oh Pedro, tu foste primeiro-ministro durante cinco meses e mais uns dois ou três em gestão. Naquela primeira parte, por que é que o Presidente da República atuou como atuou?", questionou o antigo presidente da Câmara Municipal do Porto. “Oh Rui, foste meu primeiro vice-presidente e nunca me disseste isso?”, respondeu, sem hesitar, o seu oponente, que acusou o rival de ter ficado mais de dez anos em silêncio relativamente a este assunto.
Depois de um momento de alguma atrapalhação, Santana Lopes passou ao ataque e encostou Rui Rio à parede. E chamou António Costa para o debate. "Dupont e Dupont és tu e o doutor António Costa", ironizou Santana Lopes, considerando que o seu adversário está demasiado colado ao primeiro-ministro e insinuando uma espécie de conluio entre ambos para um futuro bloco central. “O teu problema, sabes qual é? Na moção, em todo o lado, passas o tempo a dizer mal de mim e do PSD. Até das bases, porque eu ouvi os militantes do partido a ler a moção. Tu não tens, na moção, uma palavra de crítica, praticamente, para a frente de Esquerda" , atirou ainda.
O teu 'compagnon de route' é o Pacheco Pereira, toda a gente sabeA estas acusações, Rui Rio ia abanando a cabeça em desacordo e sussurrando um “olha que não, olha que não”. Santana Lopes aproveitou o momento e continuou a acusar Rio de passar o tempo a dizer mal do PSD. “O PSD tem de se reencontrar, o PSD corre o risco de acabar, o PSD tem uma crise de representativadade... Porque não dizes isto tudo do doutor António Costa?” , prossegiu Santana.
Os ânimos estavam tão acesos que até o 'enfant terrible' do PSD, perdão, 'compagnon de route', nas palavras de Santana, José Pacheco Pereira foi chamado para o debate, tal como Manuela Ferreira Leite. "O teu 'compagnon de route' é o Pacheco Pereira, toda a gente sabe", atacou o antigo primeiro-ministro.
De olhos postos no futuro
Chegado o momento de discutir as propostas dos candidatos, não só para o futuro do partido como também do país, os consensos voltaram, em parte, mas as divergências também se fizeram ouvir.
Santana Lopes disse que é preciso “apostar num modelo completamente novo”, uma vez que “o país precisa de entrar numa via de grande crescimento económico”. Por seu lado, Rio defendeu menos impostos para as empresas e referiu que o crescimento económico do país tem de ser superior à medida europeia. Relativamente ao papel do Estado, pareceram estar de acordo, com o antigo autarca do Porto a falar mesmo em “Estado abusador”.
Bloco central? Só em situações extraordináriasQuem se candidata à liderança do PSD sabe que se está a candidatar também às eleições legislativas e, consequentemente, ao cargo de primeiro-ministro. Como deve o PSD ir a eleições: sozinho ou coligado? "Idealmente, sim, vou sozinho", respondeu, sem hesitações, Santana Lopes, rejeitando qualquer coligação pré ou pós eleitoral com o PS. Rui Rio também prefere ir sozinho, mas é mais contido na intransigência relativamente a coligações e não excluiu da equação uma eventual coligação com o PS – o tal bloco central -, mas só em “situações extraordinárias” e “em nome do interesse nacional”. E com o CDS? “Não é muito provável”.
Vamos trabalhar para construir uma alternativa a esta frente de esquerdaNo minuto final, em que os candidatos se dirigiram aos militantes, Santana Lopes aproveitou para engrandecer o partido, ao passo que Rui Rio voltou a atacar as “fragilidades” do seu oponente.
“Vamos trabalhar para construir uma alternativa a esta frente de Esquerda, a António Costa e ao seu Governo suportado por comunistas e pela extrema-esquerda”, disse Santana Lopes. “Se for ele candidato do PSD a primeiro-ministro, todas essas fragilidades virão ao de cima. Escolher o que tem mais condições para vencer o doutor António Costa é dar um passo em frente”, contra-atacou Rio.
Este foi o primeiro de três debates entre os dois candidatos à liderança do PSD. O próximo está marcado para dia 10 de janeiro, na antena da TVI. No dia seguinte, Rio e Santana debatem na rádio, na Antena 1 e na TSF.
As eleições diretas no PSD estão marcadas para 13 de janeiro.
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