Rio, o homem que agarrou o PSD para criar “alternativa à frente Esquerda”
Rui Rio venceu as eleições internas do PSD. Promete seguir o "verdadeiro ADN" do PSD e "construir uma alternativa à frente de Esquerda" neste novo ciclo que se abre.
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Política Diretas
Está desfeita a incógnita: Rui Rio é o novo líder do Partido Social Democrata. Venceu as eleições diretas no PSD por 53,4% dos votos, com uma diferença de cerca de 10 pontos percentuais para Pedro Santana Lopes.
Ainda não eram 21 horas quando começaram a ser desvendados os primeiros resultados das eleições diretas no PSD que apontavam logo vantagem ao ex-autarca do Porto. Uma atrás da outra, foram-se somando distritais para Rio. Por esta altura, os resultados ainda não eram oficiais, mas o caminho para a vitória parecia traçado.
Os resultados oficiais chegaram por volta das 23h30 e confirmavam aquilo que já era dado como certo: Rui Rio foi o escolhido pelos militantes para ser o 18.º presidente do PSD desde o 25 de Abril de 1974.
O anúncio dos resultados provisórios foi feito na sede do PSD, em Lisboa, por Jorge Pracana, membro do Conselho de Jurisdição Nacional do partido. Rui Rio, com 22.611 votos e 54,37%, ganhou com uma vantagem de 3.637 votos sobre Pedro Santana Lopes, que recolheu 18.974 (45,63%). Nesta altura, faltavam apurar apenas 11 secções de voto das 325 envolvidas. Dos 70.692 militantes com quotas em dia, votaram 42.254, o que corresponde a uma taxa de participação de 59,77%. Registaram-se 440 votos em branco e 229 votos nulos.
O discurso e o aviso: PSD "não nasceu para ser um clube de amigos"
No seu discurso de vitória, no Porto, perante a euforia dos seus apoiantes, Rio lembrou a “matriz” do PSD e a “bússola” que vai sempre seguir como meta. E avisou: “O PSD não foi fundado para ser um clube de amigos, nem foi pensado para ser uma agremiação de interesses individuais ou de grupo”.
Em fevereiro, depois do Congresso do partido, dá-se início a uma “nova etapa da vida do PSD” e, com ela, sublinhou, vai fechar-se um ciclo da vida do partido que foi muito exigente para todos nós portugueses”, fez sobressair, não deixando de fazer uma referência a Passos Coelho, que "tirou o país da bancarrota".
“A partir de fevereiro, iniciaremos a construção de uma alternativa de governo à atual frente de esquerda que se formou no Parlamento”, garantiu, vincando que será uma alternativa capaz de dar a Portugal uma governação mais firme e corajosa, capaz de enfrentar grandes problemas estruturais", bem como capaz de "restituir a vontade, a alma e a esperança".
Para o interior do partido, Rui Rio afirmou que "há condições de unidade" e garantiu que conta com o seu adversário nas diretas, Pedro Santana Lopes, "como conta com todos os militantes" para os próximos desafios eleitorais.
Antes do discurso da vitória, ouviu-se, em Lisboa, o discurso da derrota de Santana Lopes. "Peço que não fiquem tristes", disse, visivelmente emocionado, afirmando estar "calmo, sereno e tranquilo". "Estou de consciência tranquila, demos tudo o que tínhamos e fizemos aquilo que é importante em política: lutar pelos nossos ideais", afirmou, assegurando que vai continuar a combater politicamente. "Como alguém disse um dia, só é derrotado quem desiste de lutar", firmou. "Continuo a ser Pedro Santana Lopes e a assumir tudo o que fiz", disse ainda.
A vitória de Rui Rio causou de imediato reações. Entre felicitações do primeiro-ministro e de Assunção Cristas e os discursos, André Ventura, social-democrata apoiante de Santana Lopes, anunciou, ao Notícias ao Minuto, a sua saída do Conselho Nacional do PSD e que, por isso, não vai estar presente no Congresso, que se realiza em fevereiro. Em causa estão "diferenças profundas" entre os dois quanto "ao futuro do partido e ao conjunto de valores que o PSD do século XXI deve defender".
Rio, o economista com perfil austero que toca bateria
Economista com perfil austero, o antigo vice-presidente do PSD e secretário-geral do partido sob a liderança de Marcelo Rebelo de Sousa avançou aos 60 anos para o seu maior desafio: o de ser líder do PSD.
A candidatura de Rui Rio à liderança do PSD chegou a ser pré-anunciada várias vezes, mas acabou por nunca se concretizar, para não interromper o seu mandato no Porto. Por isso, era considerado por muitos o "eterno candidato" que nunca o era. Mas foi. Foi e ganhou. Como o próprio foi avisando nos últimos instantes da campanha, Rio nunca perdeu eleições. Essa tradição manteve-se este sábado nas diretas do PSD.
Nascido no Porto em 6 de agosto de 1957, Rui Rio ganhou notoriedade e visibilidade nacional durante os três mandatos, entre 2001 e 2013, como presidente da autarquia portuense, mas o percurso político do militante do PSD já tinha começado bastante antes, na Juventude Social Democrata. Foi vice-presidente da Comissão Política Nacional da JSD entre 1982 e 1984 e entre 1996 e 1997 foi secretário-geral do PSD, quando era presidente do partido o atual chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa.
Nesse período, o social-democrata travou algumas guerras internas devido ao processo de refiliação de militantes que levou a cabo, gerando muitos anticorpos no aparelho do partido - chegou a propor colocar um relógio de ponto na sede do partido para controlar as entradas dos funcionários.
Marcelo Rebelo de Sousa foi mantendo Rui Rio no cargo, mas este acabaria por sair pelo seu próprio pé, depois das autárquicas de 1997, em divergência com o presidente do partido, numa relação que não voltou a ser próxima.
O ex-autarca do Porto foi vice-presidente do partido com três líderes: de 2002 a 2005, com Durão Barroso e Pedro Santana Lopes, e mais tarde, entre 2008 e 2010, com Manuela Ferreira Leite.
Estudou no Colégio Alemão e licenciou-se em Economia pela Universidade do Porto -- tendo sido eleito pela primeira vez presidente da Associação de Estudantes da faculdade em 1981 --, Rio manteve sempre um percurso profissional como economista, tendo chegado à Assembleia da República em 1991, onde foi deputado durante 10 anos.
Adepto do Boavista e praticante de vários desportos na sua juventude, opôs-se enquanto deputado ao chamado 'totonegócio', que previa que parte das receitas do totobola fossem entregues aos clubes de futebol, e foi um rosto quase isolado na sua bancada a favor da interrupção voluntária da gravidez.
Com a chegada - na altura inesperada, já que nas sondagens era dado como derrotado face ao socialista Fernando Gomes - à presidência na Câmara do Porto em 2001, Rio iniciou 12 anos durante os quais foi fortemente criticado pela falta de apoio à Cultura, tendo dossiês como o Mercado do Bolhão, o Túnel de Ceuta, o Bairro do Aleixo e as corridas de carros na Boavista marcado os três mandatos, sempre em coligação com o CDS-PP.
O equilíbrio e rigor das contas da autarquia e a aposta na requalificação dos bairros do Porto foram grandes bandeiras de Rui Rio à frente do segundo município do país.
Ao longo do seu percurso político, foram inúmeros os conflitos e divergências com o ex-presidente da Câmara de Gaia Luís Filipe Menezes e, apesar das pontes que ligavam ambos os concelhos, foram bem mais as desavenças do que os entendimentos entre os dois sociais-democratas. Aliás, sem apoiar expressamente Rui Moreira, Rio fez questão de dizer que não votaria no PSD nas autárquicas de 2013, quando Menezes se candidatou à sua sucessão no Porto.
Rui Rio manteve também distância do presidente do Futebol Clube do Porto, Pinto da Costa, com o clube a festejar sempre os campeonatos em Gaia e não no Porto, como até aí era habitual.
No seu percurso profissional, Rio começou por trabalhar na indústria têxtil e, na década de 80, iniciou o seu percurso no setor bancário, no Banco Comercial Português. Depois de ter interrompido a atividade política, voltou à banca, assumindo um cargo não executivo no Comité de Investimentos do Millenium BCP e é atualmente consultor da empresa de recursos humanos Boyden.
Casado e com uma filha, Rui Rio sempre teve uma vida pessoal recatada, conhecendo-se a educação rígida que teve e a morte do irmão quando tinha sete anos como marcas da sua infância. Ao longo da vida foi praticante de diversas modalidades desportivas e inclusivamente foi federado em atletismo, tendo revelado à agência Lusa que admira na história mundial personalidades como Gandhi e Mandela.
Agnóstico, tem como hobbies as corridas de automóveis, a astronomia e a bateria, instrumento que tocava quando integrou uma banda na sua juventude.
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