Primeira baixa na direção de Rui Rio um mês depois do Congresso do PSD
A primeira baixa na direção do novo presidente do PSD, Rui Rio, aconteceu um mês depois do Congresso do partido, com a demissão hoje do secretário-geral Feliciano Barreiras Duarte.
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Política Demissão
No entanto, as polémicas com membros da direção de Rui Rio começaram ainda antes da reunião magna dos sociais-democratas, que se realizou entre 16 e 18 de fevereiro, em Lisboa.
Dos nove membros da Comissão Permanente, o núcleo duro da direção, três foram alvo de inquéritos abertos pelo Ministério Público: os vice-presidentes Salvador Malheiro e Elina Fraga, e o até hoje secretário-geral Feliciano Barreiras Duarte.
Em comunicado, Barreiras Duarte anunciou hoje que apresentou a sua demissão de "forma irrevogável" a Rui Rio, depois de uma semana de notícias sobre o seu currículo e a morada que indicou no parlamento, considerando que os "ataques" de que estava a ser alvo o prejudicaram gravemente e à sua família, bem como à direção do PSD.
A 10 de março, o semanário Sol noticiava que Feliciano Barreiras Duarte teve de corrigir o seu currículo académico para retirar o item que o indicava como professor convidado ('visiting scholar') na Universidade de Berkeley, na Califórnia, Estados Unidos.
Na terça-feira, a Procuradoria-Geral da República (PGR) anunciou ter aberto um inquérito sobre este caso, remetendo para o Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa os elementos recolhidos.
Sobre este caso, Rio falou por duas vezes: no final do Congresso do CDS-PP, há uma semana, confirmando que Barreiras Duarte lhe tinha comunicado que havia um aspeto do seu currículo "que estava a mais, não era preciso, e corrigiu". Na terça-feira, em entrevista à RTP2, recusou-se a voltar a comentar a polémica à volta do currículo académico do seu secretário-geral, limitando-se a sugerir que os detentores de cargos públicos estão sempre expostos a acusações, utilizando o seu próprio exemplo quando esteve na presidência da Câmara do Porto.
No sábado, o jornal 'online' Observador noticiou que Feliciano Barreiras Duarte, teria, durante pelo menos nove anos, recebido ajudas de custo e despesas de deslocação do parlamento como se morasse no Bombarral (distrito de Leiria), quando habitava em Lisboa.
No comunicado de hoje, Barreiras Duarte defende-se de ambas as acusações, dizendo-se de "consciência tranquila": "Nunca ganhei nada, nem com uma, nem com outra situação; não tirei qualquer proveito da Universidade de Berkeley -- nem financeiro, nem de grau académico, nem profissional, nem político; não procurei qualquer benefício material ou outro, antes pelo contrário, com a questão da morada no Parlamento", refere.
A primeira polémica com pessoas próximas de Rui Rio envolveu Salvador Malheiro, que até então apenas tinha desempenhado funções como seu diretor de campanha: no final de janeiro, o jornal 'online' Observador noticiava que, enquanto presidente da Câmara de Ovar, Malheiro tinha feito adjudicações no valor de 2,2 milhões de euros relativas à instalação de relvados sintéticos em clubes locais à empresa de um militante do PSD.
Depois das denúncias, a PGR confirmava a abertura de um inquérito, após a receção de uma denúncia anónima, a correr no DIAP de Aveiro, sem arguidos constituídos até ao momento.
Salvador Malheiro negou qualquer tipo de intervenção na escolha da adjudicação de colocação de relvados sintéticos a sete clubes locais, sublinhando que as suspeitas de irregularidades ou favorecimento não tinham "qualquer fundamento".
No Congresso, Rui Rio escolheu-o como um dos seis vice-presidentes do PSD, tal como à ex-bastonária da Ordem dos Advogados, Elina Fraga.
Fraga foi vaiada no próprio Congresso do PSD por alguns delegados -- como bastonária instaurou uma queixa-crime aos ministros do anterior Governo PSD/CDS-PP que aprovaram o mapa judiciário -- e, no dia seguinte a ser eleita, a PGR anunciava a abertura de um inquérito na sequência de uma auditoria às contas da Ordem dos Advogados, que abrange o seu mandato.
Elina Fraga deu explicações quer à Comissão Política do PSD quer à comunicação social, nas quais disse estar "absolutamente tranquila" em relação ao seu mandato, e Rui Rio manteve a confiança política na sua vice-presidente.
Em reação às polémicas à volta de Salvador Malheiro e Elina Fraga, a 20 de fevereiro, o presidente do PSD antecipou que iriam aparecer "mais histórias", dizendo estar habituado a este tipo de polémicas e até gostar que assim fosse, mas não concretizou de onde partiriam as denúncias: "Vêm de vários sítios".
Esta sucessão de casos levou o vice-presidente do PSD Manuel Castro Almeida a admitir, em entrevista à Antena Um, divulgada este sábado, que "as coisas não estão a correr bem" no primeiro mês em funções da nova direção do PSD.
"Eu assumo que as coisas não estão a correr bem, estamos num período de adaptação e este arranque é um período de adaptação que tem tido alguns incidentes dispensáveis, alguns são naturais de um período de arranque, de adaptação, e outros eram dispensáveis", admitiu.
Quando anunciou a sua candidatura à liderança do PSD, Rui Rio defendeu que a política em Portugal precisa de "um banho de ética": "Se há coisa de que, hoje, a política precisa em Portugal é justamente de um banho de ética. Não pode valer tudo", afirmou a 11 de outubro do ano passado, em Aveiro.
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