O foguetão Falcon 9, transportando a cápsula Dragon, ambos da empresa privada SpaceX, descolou à hora prevista, 20:02 horas locais de quarta-feira (23:02 em Portugal), do Centro Espacial Kennedy, na Florida, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).
Minutos depois, o foguetão separou-se da cápsula com sucesso, levando a bordo, pela primeira vez, apenas civis como tripulantes, que permanecerão três dias no espaço.
"Poucos lá foram e muitos vão seguir-se. A porta abre-se agora", disse o multimilionário Jared Isaacman, de 38 anos, que fretou o "cruzeiro espacial" e comanda a missão.
Isaacman, de 38 anos, fundador e presidente da empresa Shift4 Payments, amante da aviação, financiou a travessia espacial dos outros três tripulantes, com um custo que não foi divulgado, mas que deverá rondar as dezenas de milhões de dólares, segundo a AFP.
A acompanhá-lo está Hayley Arceneaux, de 29 anos, uma sobrevivente de cancro e assistente médica no Hospital de Investigação infantil de St. Jude, que se tornou na pessoa mais jovem a voar para o espaço orbital.
Há também a professora universitária Sian Proctor, de 51 anos, a quarta mulher afro-americana a chegar ao espaço, e o engenheiro aeroespacial e veterano da Força Aérea Chris Sembroski, de 42.
Os tripulantes são todos civis e receberam durante cerca de seis meses treinos na base da SpaceX em Hawthorne, na Califórnia, que incluía manobras de gravidade zero e práticas com as forças gravitacionais que vão experimentar no espaço.
Foram também preparados para exercícios de emergência, de entrada e saída de naves espaciais, e fizeram simulações de missões parciais e completas.
A Dragon tem uma cúpula de observação "amplamente testada e qualificada para voos", de acordo com a SpaceX, que promete vistas inimagináveis de 360 graus.
Na viagem orbital, a cápsula alcançará uma altura de quase 575 quilómetros, mais do que a Estação Espacial Internacional (EEI) e que o Telescópio Espacial Hubble.
Cada dia, dará uma volta ao planeta a cada 90 minutos, perfazendo um total de 15 voltas diárias ao globo.
Batizada Inspiration4, a primeira missão espacial totalmente civil pretende representar um passo rumo à "democratização" do espaço, mostrando que o cosmos não é reservado a astronautas selecionados e formados durante vários anos, mas para já a viagem tem custos só acessíveis a milionários.
A missão, que será tema de uma série na plataforma Netflix, tem uma componente de solidariedade, uma vez que servirá para angariar fundos a favor do Hospital Infantil de St. Jude, uma campanha iniciada pelo próprio Isaacman com uma doação de 100 milhões de dólares (84,6 milhões de euros) e que espera duplicar com outras contribuições.
Depois de passar três dias no espaço, a cápsula Dragon atravessará a atmosfera terrestre para aterrar ao largo da costa da Florida.
A SpaceX, fundada pelo magnata Elon Musk, acrescenta assim mais um marco ao transporte espacial operado por empresas privadas, depois de ter começado em 2020 a fazer voos tripulados do solo norte-americano até à Estação Espacial Internacional.
A missão conclui um verão marcado por viagens ao espaço de multimilionários, primeiro o britânico Richard Branson, fundador da Virgin, em 11 de julho, e alguns dias mais tarde o magnata norte-americano Jeff Bezos, fundador da empresa de comércio online Amazon, a bordo do foguetão New Shepard, da empresa Blue Origin, que fundou.
Aqueles voos, no entanto, duraram apenas alguns minutos.
Antes da Inspiration4, já houve outros "turistas" no espaço, personalidade abastadas que se deslocaram à EEI a bordo de naves russas, entre 2001 e 2009, mas o lançamento de voos privados representa um novo marco.
"A descolagem da Inspiration4 recorda-nos o que pode ser conseguido quando nos associamos à indústria privada", escreveu o responsável da NASA, Bill Nelson, na rede social Twitter.
A SpaceX tem previstos outros voos de turismo espacial, devendo o próximo realizar-se a partir de janeiro de 2022, com três homens de negócios a bordo.
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