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"Não nos interessava Dahmer o monstro mas quem foi cúmplice"

A série da Netflix sobre o assassino em série Jeffrey Dahmer procurou "abordar o racismo sistémico e a homofobia", disse esta madrugada o criador Ryan Murphy num evento na sede da gigante do 'streaming', em Los Angeles.

"Não nos interessava Dahmer o monstro mas quem foi cúmplice"
Notícias ao Minuto

17:27 - 30/10/22 por Lusa

Tech Netflix

"Não estávamos realmente interessados em Jeffrey Dahmer, o monstro, mas em quem o criou e foi cúmplice", afirmou Ryan Murphy. "Ia sempre ser uma história humana muito complicada, mas uma das coisas que quisemos foi abordar o racismo sistémico, a homofobia. Estávamos sempre a pensar nas vítimas".

As declarações do criador abordaram indiretamente as críticas feitas por familiares das vítimas à série "Monstro: A história de Jeffrey Dahmer", que é neste momento a segunda mais vista na Netflix em todo o mundo.

"Fizemos a nossa diligência. Contactámos cerca de vinte familiares das vítimas e não recebemos qualquer resposta", indicou Murphy. "Tentámos ser o mais verdadeiros possível".

Murphy afirmou que a criação da série e a forma como foi escrita serviu objetivos concretos, não apenas a exploração da história de um assassino que matou 17 homens entre 1978 e 1991.

"Tínhamos algo a dizer. Queríamos explorar a ideia do privilégio branco: este homem foi apanhado dez vezes e escapou sempre", descreveu Murphy. "É uma história sobre o policiamento, homofobia e racismo", continuou. "Tivemos muitas conversas sobre como esta era uma peça sobre isso e o motivo pelo qual estávamos a contar esta história".

A atriz Niecy Nash, que interpreta a vizinha de Dahmer que tentou alertar as autoridades para o que se passava na casa dele, disse que saiu muitas vezes das filmagens de lágrimas nos olhos.

"Rezo para que onde quer que a alma de Glenda Cleveland esteja a descansar, ela finalmente sinta que foi ouvida", afirmou a atriz, que estava presente no evento. "Ela é todas as mulheres, todas as pessoas que nunca foram ouvidas".

Glenda Cleveland, uma afro-americana que na época dos crimes tinha 36 anos, fez inúmeras queixas à polícia e nunca foi levada a sério.

"O dia mais pesado foi quando fizemos a cena em que a polícia levou aquela criança de volta para o apartamento do Dahmer", disse Nash, referindo-se a Konerak Sinthasomphone. O jovem de 14 anos escapou, mas Dahmer convenceu os agentes de que era o seu namorado, acabando por matá-lo no seu apartamento.

"Isto aconteceu mesmo. Porque era uma mulher negra a fazer as queixas, e porque havia uma relação homossexual, esta criança foi levada de volta para a casa onde seria morta", disse a atriz. "E isso podia não ter acontecido".

O peso das ações de Dahmer foi algo que o ator Evan Peters considerou antes de aceitar desempenhar o papel do assassino. Depois de ter trabalhado com Ryan Murphy na primeira temporada de "American Horror Story", Peters estava "indeciso" sobre se o devia fazer, mas aceitou quando leu o guião e começou a pesquisar.

"Estava fascinado e queria mergulhar na psicologia desse lado extremo do comportamento humano", afirmou. A preparação incluiu andar com pesos nos braços para imitar a postura de Dahmer, um treinador de dialeto, o uso do mesmo tipo de roupas e óculos e até andar sempre com um cigarro na mão.

"Queria que todas estas coisas externas se tornassem uma segunda natureza quando começássemos a filmar", explicou. "Fizemos quatro meses de preparação e seis meses de filmagens".

A "escuridão e negatividade" do papel tiveram impacto no ator, que usou comédias românticas e música animada para contrabalançar os efeitos do papel.

"Dahmer" vai atingir nos próximos dias mil milhões de horas visualizadas pelos assinantes da Netflix, o que levou Ryan Murphy a dizer que este é "o maior sucesso" da sua carreira.

Um trabalho que demorou dez anos a concretizar, a série tem "um tema de ativismo" embebido, reiterou o produtor.

"Em todos os episódios há momentos em que alguém diz que algo está mal e é ignorado pelo patriarcado", afirmou. "Isso ainda acontece, mas hoje temos muito mais consciência".

Murphy também disse que espera que a série tenha efeitos positivos: "Esperamos que as pessoas que vejam a série aprendam algo sobre o policiamento, as dinâmicas familiares e a saúde mental".

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