Tesla. Funcionários partilhavam vídeos privados para "quebrar monotonia"
Uma investigação revelou que os funcionários da Tesla partilham entre si vários clips de vídeo e imagens captados pelos carros da empresa, aos quais têm acesso.
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"As pessoas que compram o carro, acho que não sabem que a privacidade delas não é respeitada… podíamos vê-las a lavar roupa e a fazer coisas realmente íntimas. Pudemos ver os seus filhos."
Assim descreveu um ex-funcionário da Tesla o facto de os seus colegas partilharem, entre si, imagens captadas pelas câmaras dos veículos vendidos um pouco por todo o mundo.
Numa grande investigação da agência Reuters, que entrevistou 12 ex-funcionários da empresa detida por Elon Musk, foi descoberto que os vídeos, que supostamente servem unicamente para ajudar a empresa a otimizar os seus serviços, são fonte de entretenimento interno dos funcionários.
"Foi uma violação de privacidade, para ser honesto. E eu sempre brinquei que nunca compraria um Tesla depois de ver como tratavam algumas destas pessoas", disse outro ex-funcionário à Reuters.
O tipo de vídeos variava, disseram estas fontes, entre questões "mundanas" - como imagens de cães ou situações engraçadas - e casos mais íntimos, como um homem a correr nu em direção ao seu carro. Também foram partilhados vídeos de acidentes rodoviários, destacando a Reuters um em particular em que é possível ver o carro a conduzir a alta velocidade numa zona residencial na Califórnia, embatendo numa criança que seguia na sua bicicleta.
No seu 'Aviso de Privacidade do Cliente', na Internet, a Tesla declara que as "gravações de câmara permanecem anónimas e não estão vinculadas ao proprietário ou ao seu veículo", mas os ex-funcionários disseram que o programa de computador que utilizam para trabalhar pode mostrar a localização das gravações, o que pode levar a revelar onde vive o proprietário daquele veículo.
Mais: a Reuters ficou também a saber que alguns destes vídeos terão sido gravados enquanto o carro se encontrava desligado.
"Podíamos ver o interior das garagens das pessoas e das suas propriedades particulares. Digamos que um cliente da Tesla tivesse algo na sua garagem que fosse diferente, as pessoas partilhariam esse tipo de coisa", explicou um dos antigos funcionários da Tesla.
Um deles disse, no entanto, não ver nada de errado na partilha de imagens, mas descreveu uma função que permitia aos analisadores de dados visualizar a localização das gravações no Google Maps como uma "invasão maciça de privacidade".
Segundo a investigação da Reuters, a partilha destas imagens aconteceu entre 2019 e 2022, não sendo possível confirmar se ainda decorre. A agência diz também não ter tido acesso a nenhum dos vídeos em questão, que os funcionários alegaram não guardar.
"Quebrar a monotonia"
Questionado sobre o porquê de partilhar com os antigos colegas de trabalho estas imagens, um ex-funcionário disse que era para "quebrar a monotonia". "Se visse algo interessante que gerasse reações, partilhava e depois, nas pausas, as pessoas vinham ter contigo e diziam: 'Ah, vi aquilo que mandaste, que engraçado'", alegou o mesmo, falando na "notoriedade" que estas pessoas ganhavam.
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