Apesar de defender que ainda há espaço para crescer de forma orgânica no mercado de infraestruturas de telecomunicações, mesmo com a consolidação em curso das operadoras, Marco Patuano revela que a gestora de torres olha para o negócio de satélites com interesse.
"Vemos o serviço de satélite de internet como algo complementar ao serviço telefónico tradicional, até porque o serviço móvel é uma mistura de quantidade e qualidade, ou seja, depende da largura de banda que recebo da antena", apontou.
O responsável da empresa detentora de 110 mil sites (torres) em 10 países europeus, onde as operadoras instalam as suas antenas, exemplificou que para fazer uma chamada telefónica tradicional não é preciso grande quantidade de largura de banda, mas para uma videochamada ou para as reuniões de trabalho virtuais é preciso bastante tráfego.
Os satélites de internet, desenvolvidos precisamente para possibilitar altas taxas de transferência de dados em qualquer parte do planeta, incluindo em zonas remotas, dão resposta a este desafio.
"O objetivo é tentar cobrir todos os pontos da terra com satélites que serão muito eficientes em zonas não densas e não urbanas. Claro que há algumas situações em que a rede terrestre e a rede de satélites vão competir, mas na maior parte das circunstâncias vão coexistir", detalhou.
Nesse sentido, Marco Patuano adianta que o objetivo passa por complementar o negócio através de parcerias.
Instado a comentar se poderia estar em causa um acordo com gigantes da área como a Starlink, empresa da SpaceX que está a desenvolver constelações de satélites, respondeu: "Somos agnósticos. Eu gosto do Elon Musk como dos concorrentes. Mas sou a favor disso".
O responsável acredita ainda que o cenário da oferta generalizada deste serviço à população poderá não estar assim tão longe no horizonte, podendo acontecer dentro de 5 a 10 anos. Mas lembra que o "lançamento de um satélite continua a ser bastante caro".
Até ao momento, as medidas implementadas pela Administração Trump, como o aumento de tarifas, não tiveram qualquer impacto na Cellnex. E Marco Patuano descarta que venham a ter em termos operacionais uma vez que não têm relações comerciais com os EUA.
"Não compramos muita tecnologia aos EUA, os nossos principais fabricantes são a Nokia e a Ericsson. Mas a verdade é que temos muitos investidores norte-americanos", como o fundo de investimento Blackrock e o Fundo de Pensões do Canadá.
"Veremos o que farão com o seu dinheiro", apontou.
A maioria do capital da Cellnex - 63,2% - está disperso em bolsa. A Edizione, da família Benetton, é a maior acionista com participação qualificada de 9,9%.
À semelhança dos seus clientes, Marco Patuano defende que a consolidação das empresas de infraestruturas de telecomunicações "seria uma ótima ideia".
"As infraestruturas são negócios de escala, é preciso ser grande", alertou o responsável da líder europeia do segmento de torres.
Questionado sobre se a empresa seria compradora ou vendedora neste cenário, o comentou que nos mercados onde querem estar presentes seriam os compradores.
A Cellnex, sediada em Espanha, opera em 10 países europeus, incluindo em Portugal, onde entrou em 2020, quando comprou as torres móveis da Altice Portugal, alargando meses mais tarde a sua operação com a aquisição das antenas da NOS. Em Portugal, soma 6.703 sites.
Leia Também: Universidade de Aveiro estuda potencial de células solares em satélites