'Grande' Firewall da China reforçou controlo sobre a Internet
Pode-se viver sem Facebook, Google, Youtube ou Twitter? Pode, mas não é bem a mesma coisa, como sabem milhões de chineses forçados a usar a Internet com as restrições impostas pelo governo.
© Reuters
Tech Restrições
"Parece que estamos noutro mundo", disse uma professora de Nova York que visitou Pequim no início do ano e cujo computador não tinha instalado uma VPN (Virtual Proxy Network), a única maneira de aceder aos milhares de sites bloqueados pelas autoridades chinesas em nome da "segurança nacional" e da "estabilidade social".
Na semana passada, o controlo de Pequim sobre a internet aperfeiçoou-se, segundo anunciou um jornal do Partido Comunista Chinês a propósito da "atualização" da chamada "Grande Firewall da China", que interrompeu parcialmente o serviço fornecido por servidores localizados no estrangeiro.
Descrita na imprensa oficial chinesa como um ato de "soberania ciberespacial", a "atualização" afetou sobretudo o sistema operativo dos 'smartphones', 'tablets' e outros dispositivos móveis.
"Devido ao aumento de censura na China, protocolos usados em dispositivos iOS (nomeadamente nos produtos Apple) estão bloqueados", informou a Astrill, um conhecido fornecedor de serviços de internet, num alerta enviado aos clientes.
O presidente de outra empresa do setor, citado pela agência Associated Press, disse que "este ataque às VPN é mais sofisticado dos que aqueles que vimos no passado".
O "ataque" parece seletivo: "No emprego, no PC como no telemóvel, a VPN funciona. Em casa, não", contou uma técnica europeia que trabalha num torre de escritórios com dezenas de empresas, chinesas e estrangeiras.
A população online da China aumentou quase 200 milhões nos últimos quatro anos, atingindo 648 milhões no final de 2014. Cerca de 30% têm entre 20 e 29 anos e mais de dois terços acedem à internet através de dispositivos móveis.
A assinatura de uma VPN custa o equivalente a seis dólares por mês (cerca de 40 yuan) - menos do que um bilhete de cinema.
"Há cada vez mais chineses a procurar alternativas para 'surfar' a internet fora da Grande Firewall", referiu na sexta-feira passada o Global Times, sem precisar quantos.
Um perito ouvido por aquele jornal defendeu que "as autoridades não podem ignorar os serviços fornecedores de VPN porque eles afetam a soberania ciberespacial" do país
"Um atalho (no acesso à internet) deve ser bloqueado porque pode ser usado com segundas intenções, embora isso afete pessoas que o usam de maneira correta", afirmou Qin An, do China Institute for Innovation and Development Strategy.
Facebook e Twitter, por exemplo, foram bloqueados em julho de 2009, depois de violentos tumultos étnicos no Xinjiang, noroeste da China, que, segundo o governo chinês, foram "instigados" através da internet por "separatistas e extremistas religiosos radicados no estrangeiro".
Nas redes sociais, nem todos partilham o mesmo sentimento acerca da última "atualização" da Grande Firewall da China: "Será que vamos voltar à política de porta fechada?", questionou um internauta chinês.
"Se é uma forma de controlar o contacto entre o povo e o mundo exterior, então é melhor proibir também o ensino de línguas estrangeiras", comentou outro.
Também na semana passada, as autoridades encerraram 133 contas do Weixin (WeChat, em inglês), a mais popular rede social do país, por alegadas "distorções da história do Partido Comunista e do Estado".
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