Ovos podem substituir ensaios com técnicas invasivas em mamíferos

Uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra (UC) desenvolveu um sistema inovador que permite a utilização de ovos em alternativa aos ensaios com técnicas experimentais invasivas em mamíferos, como ratinhos ou coelhos.

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Lusa
27/11/2017 10:40 ‧ 27/11/2017 por Lusa

Tech

Investigação

Uma equipa de investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da UC desenvolveu "um sistema inovador que permite a utilização de aves através de técnicas experimentais não invasivas", como a simples recolha de ovos, em "alternativa aos tradicionais ensaios realizados com mamíferos", como, por exemplo, ratinhos, coelhos ou cabras, anunciou hoje a UC, numa nota enviada à agência Lusa.

O novo equipamento -- Sistema de Alojamento Modular de Aves -- já com pedido de patente internacional submetido, aloja "codornizes poedeiras em condições experimentais, personalizado para investigação e desenvolvimento de soluções biomédicas baseadas no potencial biotecnológico dos seus ovos", refere a UC.

Alinhado com as diretivas europeias e com a "política dos três 'rr' (reduzir, reutilizar e reciclar)", o sistema permite "a investigação e desenvolvimento de novos biofármacos e produtos de diagnóstico biomolecular, nomeadamente vacinas e anticorpos".

Estes produtos são "a base para o desenvolvimento de terapias de combate a infeções bacterianas, fúngicas ou virais, de alternativas aos antibióticos tradicionais e de métodos inovadores de diagnóstico de doenças".

A criação de compostos derivados do ovo e suplementos para soluções farmacêuticas também poderão ser explorados, acrescenta a UC.

Ricardo Vieira-Pires, investigador e coordenador da unidade experimental de aves do CNC, explica que este equipamento "é único em Portugal" e, tanto quanto sabe, no resto da Europa.

"Estamos interessados na capacidade natural das aves em acumular anticorpos na gema dos seus ovos e na sua valorização", sublinha o investigador, referindo que "a codorniz é a ave de eleição para uma investigação que precisa de customizar e processar os anticorpos de forma versátil, algo que não é tão linear com ovos de outras aves".

A tecnologia de base utilizada recolhe anticorpos da classe imunoglobulina Y (IgY), equivalente à imunoglobulina da classe G humana com propriedades imunológicas de defesa do organismo, incorporados especificamente na gema de ovos, explica a UC, referindo que "a abordagem é conhecida há mais de 100 anos como forma de produzir anticorpos terapêuticos com propriedades neutralizantes".

O investigador, citado pela UC, esclarece que, deste modo, basta "recolher ovos", eliminando-se "a necessidade de colher sangue do animal, como acontece para todos os outros casos que recorrem a ratinhos, coelhos ou cabras".

Uma galinha "produz até cinco vezes mais anticorpo que um coelho ao fim de um ano, e apenas se tem que recolher ovos diariamente, ao contrário de recolher 40/50 mililitros de sangue a cada 15 dias", exemplifica Ricardo Vieira-Pires, indicando que o novo sistema "permite a utilização de codorniz em ensaios preliminares que serão num segundo momento reproduzidos em galinha".

O projeto foi financiado por fundos nacionais e europeus, designadamente através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e dos programas operacionais Fatores de Competitividade (COMPETE) e Regional do Centro (no âmbito do Quadro de Referência Estratégico Nacional 2007-2013) e do Projeto CNC Biotech (investigação em biotecnologia e capacitação do setor empresarial).

 

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