© Reconquista
Cerca de uma centena de pessoas associadas ao grupo neonazi Reconquista esteve reunida na sede da Assembleia Municipal de Lisboa (AML), a 2 de novembro. Ainda assim, e de acordo com um comunicado divulgado pelo órgão autárquico, na quinta-feira, o aluguer do Fórum Lisboa foi solicitado por um "coletivo de jovens (partido Chega)". Entretanto, a Juventude Chega já se demarcou do evento.
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A proposta, que terá sido "apresentada por uma pessoa singular – uma senhora cujo nome não suscitou qualquer alerta", teria como objetivo levar a cabo um "conjunto de discursos sobre a atualidade, a imprensa e a sociedade e cultura europeias", alguns deles "realizados por figuras de relevo do cenário nacional e internacional".
No campo da entidade e do teor do evento, a responsável pelo pedido detalhou tratar-se de um "coletivo de jovens (partido Chega)", que pretendiam fazer uma "Conferência [sobre a] Relação entre modernidade e coletivismo e os seus efeitos na sociedade portuguesa".
"Com base no teor da proposta, a senhora presidente da Assembleia Municipal autorizou a cedência, tendo exarado o respetivo despacho em 24 de outubro de 2024", disse a AML, que assinalou que "a responsabilidade pelo que é dito e feito nos eventos é dos seus promotores".
Contudo, e de acordo com o Expresso, a Juventude Chega não reservou o espaço e, "se alguém o fez, foi de forma abusiva". À Lusa, o dirigente do grupo, Rui Cardoso, demarcou-se "categoricamente desse tipo de eventos".
"Se os jovens em causa são ou não militantes, não faço ideia, porque num universo de 60 mil pessoas é impossível saber quem são as pessoas. Portanto, das estruturas da Juventude do Chega ou do partido Chega posso assegurar que não tivemos qualquer tipo de envolvimento na marcação desse evento", disse.
O evento foi, afinal, autoria do grupo neonazi Reconquista, que se mostra abertamente contra a presença de imigrantes em Portugal, além de contestar os direitos das mulheres e da comunidade LGBTQ+. O ‘II Congresso Reconquista’ terá sido inclusivamente vigiado, de forma discreta, pela Unidade Nacional de Contraterrorismo da Polícia Judiciária e pelo Serviço de Informações de Segurança (SIS), uma vez que três dos principais oradores estrangeiros que marcaram presença na iniciativa são considerados "pessoas de interesse" pelas autoridades e serviços de informações europeus.
Referimo-nos ao inglês Steve Laws, introduzido no site do congresso como "ativista identitário", e que, de acordo com a associação não-governamental (ONG) Hope Not Hate, era membro do partido antimuçulmano For Britain. O autodenominado "caçador de migrantes" deu os primeiros passos no extremismo ao "filmar, assediar e intimidar refugiados, requerentes de asilo e migrantes" na costa de Dover.
Também esteve no evento o irlandês Keith Woods, descrito como "intelectual e ativista nacionalista", que é considerado a mais importante "estrela em ascensão" da extrema-direita, além de ser frequentemente ligado à milícia racista norte-americana Ku Klux Klan.
Por seu turno, Dries Van Langenhove, apelidado de "ativista político/ex-deputado" pelo grupo neonazi português, foi considerado pelo jornal Politico como uma "figura-chave da extrema-direita belga". O líder do movimento juvenil nacionalista Schild & Vrienden foi, em março, foi condenado a um ano de prisão e ao pagamento de uma multa por incitar à violência e negar o Holocausto.
Thierry Baudet, fundador do partido neerlandês Fórum pela Democracia (FVD) e conhecido difusor de teorias da conspiração, foi outro dos oradores da iniciativa.
Entretanto, a deputada municipal do Bloco de Esquerda (BE) Leonor Rosas reforçou a necessidade de apurar se a presidente da AML "sabia deste evento e do cariz desta política de ódio", tendo em conta que se tratou de "um congresso de um grupo de extrema-direita racista, supremacista branco, homofóbico, misógino, que veicula uma política de ódio contra imigrantes e contra pessoas racializadas, que veicula até ideias que as mulheres não deveriam ter direito ao voto, que são inferiores aos homens".
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