Cabo Verde corta em carros e consultoria para equilibrar contas públicas

A crise económica provocada pela pandemia de covid-19 levou o Governo cabo-verdiano a fazer cortar em várias despesas públicas em 2021, suspendendo a compra de viaturas e de novos contratos para arrendamento de imóveis ou de consultoria.

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Lusa
09/10/2020 11:13 ‧ 09/10/2020 por Lusa

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Covid-19

As medidas constam dos documentos de suporte à proposta de lei do Orçamento do Estado para 2021, o último elaborado pelo Governo na atual legislatura, face à previsão de realização de eleições legislativas até março próximo.

O défice das finanças públicas de Cabo Verde deverá atingir -8,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021, devido à crise provocada pela pandemia de covid-19, após um máximo histórico de 11,4% em 2020, segundo o Governo.

Para o exercício orçamental do próximo ano, entre outras medidas de equilíbrio das contas públicas, o Governo prevê que fiquem "suspensas as despesas públicas decorrentes" de atividades como a celebração de novos contratos de arrendamento de imóveis e de aluguer de veículos.

Igualmente suspensa em 2021 fica a "contratação de consultoria e renovação dos contratos existentes", embora "admitindo-se a prorrogação em casos excecionais, devidamente justificados e submetidos à apreciação do Ministério das Finanças", o mesmo acontecendo com a aquisição de imóveis e de veículos.

Está prevista ainda a "redução da frota automóvel" do Estado, cujas viaturas passam a ser atribuídos "apenas por órgão de soberania, membros do Governo, serviços de fiscalização e de resposta sanitária".

Nas previsões de cortes em 2021 o Governo inscreveu o objetivo de reduzir 40%, em relação ao Orçamento Retificativo deste ano, aprovado em agosto, as "verbas previstas com honorários, consultoria, estudos e outras assistências técnicas".

"Procurando usar a capacidade existente na administração pública, ao nível de recursos humanos", lê-se no documento.

De igual forma fica suspensa a contratação pelo Estado de cursos, seminários ou simpósios para formação de servidores públicos, que envolvam "pagamento de inscrições, aquisição de passagem aérea, nacional e internacional, e concessão de diárias e verba de deslocação", passando a ser "priorizada" a formação à distância.

Contudo, o Governo assume que estes cortes "não se aplicam aos serviços públicos que atuam em reposta à covid-19", mas condicionando essas eventuais despesas "à existência de disponibilidade orçamental e à capacidade financeira do Estado".

Numa análise feita nos documentos aos últimos dez anos, o saldo das contas públicas foi sempre deficitário, com picos em 2012 (-10,3% do PIB) e 2013 (-9,3% do PIB), descendo até ao mínimo de -1,8% do PIB em 2019, já com o atual Governo, antes da crise provocada pela pandemia.

"No que toca às finanças públicas, vale frisar que o défice global deverá situar-se em torno de 11,4% e 8,8% do PIB em 2020 e 2021, respetivamente, refletindo uma forte diminuição das receitas públicas, fiscais e não fiscais. As despesas deverão incorporar as medidas de políticas económicas em face à crise, nomeadamente para o setor empresarial privado, protegendo emprego e rendimento, bem como o reforço das medidas de inclusão social", justifica o Governo, nos documentos de suporte à proposta de Orçamento, que nos próximos dias começa a ser debatida no parlamento.

Tendo em conta a revisão em baixa da previsão do PIB de Cabo Verde para 2020, no Orçamento do Estado Retificativo em vigor desde agosto, que passou a ser de 183.748 milhões de escudos (1.674 milhões de euros), um défice de 11,4% do PIB corresponde a quase 21 mil milhões de escudos (189,5 milhões de euros).

Já para 2021, o Governo estima um PIB -- toda a riqueza produzida no país -- de 194.320 milhões de escudos (1.761 milhões de euros), ainda em níveis anteriores a 2019, a recuperar dos efeitos económicos da pandemia. Daí que um peso défice de 8,8% do PIB representa, em valores absolutos, 17.100 milhões de escudos (154,2 milhões de euros).

Segundo a previsão do Governo nos mesmos documentos de suporte, a dívida pública, por sua vez, "deverá situar-se em torno de 145,6% do PIB e 145,9% do PIB em 2020 e 2021, respetivamente", o que impõe "uma estratégia para a contínua gestão da dívida interna e externa".

"É imperativo controlar a expansão das despesas obrigatórias e recolocar a dívida pública numa trajetória sustentável, de forma a conseguir o equilíbrio das contas públicas a médio e longo prazo", alerta o Governo.

Cabo Verde conta com um acumulado de 6.717 casos diagnosticados de covid-19 desde 19 de março e 71 óbitos associados à doença, no mesmo período.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de um milhão e cinquenta e sete mil mortos e mais de 36,2 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

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