'Os anos Trump. O mundo em transe' vai ser lançado na quarta-feira, em Lisboa, e pretende, segundo o professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e analista político, alertar para a "ameaça" que o presidente norte-americano representa não só para os próprios Estados Unidos e para "o modelo de civilização" atual.
Paz Ferreira teme que as ações americanas contribuam para ajudar a instaurar regimes autoritários que façam o mundo regressar aos anos 30, quando na Europa teve início a II Guerra Mundial e apelando, por isso, à resistência dos que defendem a democracia.
Uma resistência que já está a ser levada a cabo nos Estados Unidos seja por desportistas, jovens que sofreram ataques com armas e juízes que expressam a sua oposição às políticas de Trump ou até por proprietários de restaurantes, como o que recentemente se recusou a servir a assessora do presidente Sarah Huckabee Sanders, um episódio que Trump aproveitou para se "vitimizar".
Nada disto foi uma "surpresa", já que Trump deixou os seus objetivos claros na campanha eleitoral, mas as medidas só começaram a avançar depois da saída dos seus colaboradores mais moderados.
Sobre a guerra comercial que Trump trava atualmente contra a União Europeia, China e Canadá, o autor disse à Lusa que se trata de um "desastre para a economia mundial", que vai implicar um retrocesso significativo do comércio e do PIB, e admite até que venha a ter efeitos negativos para o próprio governante.
No entanto, a evolução da economia acontece num tempo bastante lento, tornando mais difícil avaliar quais poderão ser as consequências.
Outra das polémicas recentes do Trump, a separação de crianças imigrantes das suas famílias, é descrita por Paz Ferreira como "uma situação de verdadeiro horror" e "vergonhosa para a Humanidade" mas pode também não chegar a "beliscar" o presidente que continua a encontrar apoio numa "vasta camada da população que parece querer humilhar os pobres".
Neste cenário, o especialista defende que a Europa se deve apresentar unida e apostar no desenvolvimento económico.
A grande questão, acrescentou, é "saber quando é tarde demais para resistir", lembrando a ascensão de Hitler ao poder perante a tolerância dos dirigentes europeus.
Questionado sobre a oportunidade do encontro entre o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa e o seu homólogo norte-americano, agendado para quarta-feira, considerou que se insere no âmbito de "marcar uma presença mais ativa junto das comunidades de portugueses", o que é positivo, mas defendeu que Marcelo deve refrear o excesso de entusiasmo que poderia ser confundido como um apoio a Trump.
O livro da editora Gradiva vai ser apresentado por Maria Emília Brederode Santos, atualmente presidente do Conselho Nacional de Educação, o ex-ministro e atual deputado socialista, João Cravinho e João Marecos.