Além de ter sido um dos dez livros finalistas do Prémio Oceanos de literatura, 'A noite da espera' venceu o Prémio Juca Pato, atribuído anualmente pela União Brasileira de Escritores, e recebeu elogios da crítica, que considerou este um "romance potente, que remexe a história política dos anos sinistros da ditadura, ao mesmo tempo que vasculha infernos íntimos de uma história de família".
'A noite da espera' é o primeiro volume de uma trilogia intitulada 'O lugar mais sombrio', e retrata a formação sentimental, política e cultural de um grupo de jovens na Brasília dos anos de 1960 e 1970.
A história é narrada de forma fragmentada, alternando trechos de diários e cartas do jovem protagonista Martim, que, em 1978, já a viver em Paris, procura, através desses textos, recuperar a memória dos tempos que viveu em Brasília.
"Submerso em cadernos, fotografias, folhas soltas, guardanapos rabiscados, cartas e diários de amigos, vai revivendo e recompondo os anos da sua formação, anos plúmbeos de feroz ditadura, anos auspiciosos de novidade", descreve a editora.
As memórias recuam até à década de 1960, quando, muito jovem, Martim vê os pais separarem-se, sem que chegue a conhecer o verdadeiro motivo para a separação.
Muda-se então de São Paulo para Brasília com o pai e, na cidade recém-inaugurada, trava amizade com um grupo de adolescentes de contextos sociais e familiares diversos - desde filhos de altos funcionários da burocracia estatal, até migrantes desfavorecidos -, unidos por um projeto cultural e pela luta contra o cerco do regime.
Com estes jovens, e graças a eles, vai descobrindo o amor, o sexo, a amizade, a poesia, a literatura, a política e o medo.
Há, no entanto, duas nuvens negras que ensombram a vida de Martim: a da repressão política dos anos mais duros da ditadura, e a dor da separação da mãe.
O vazio aberto pelas cartas que a mãe não lhe escreve, pelos gestos de amor que não lhe estende, pelo reencontro ansiado e adiado, não pode ser preenchido pelo pai, com quem vive uma relação problemática, fria, entrecortada.
O fardo desta ausência - noite longa de vigília - acompanhará Martim mesmo quando ele procurar o consolo do exílio em Paris, não ficando claro, no final deste primeiro volume, os motivos que levaram a mãe a abandonar o filho.
"Neste que é sem dúvida um dos melhores retratos literários de Brasília, Hatoum transita com a habilidade que lhe é própria entre as dimensões pessoal e social do drama, e faz de uma rutura familiar a outra face de um país dividido", descreve a editora.
Milton Hatoum nasceu em Manaus, Amazónia, em 1952. Estudou Arquitetura em São Paulo, viveu em Madrid e Barcelona e fez pós-graduação na Sorbonne, em Paris.
Regressou a Manaus em 1984, onde passou a lecionar literatura francesa na Universidade Federal do Amazonas, tendo sido também professor convidado na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Regressou a São Paulo em 1999.
Na ficção, estreou-se em 1989 com 'Relato de um certo Oriente', a que se seguiu 'Dois irmãos', ambos vencedores do Prémio Jabuti de melhor romance, o mais importante galardão literário atribuído no Brasil.
Com o romance 'Cinzas do Norte', mereceu mais um Jabuti, além do Prémio Portugal Telecom de literatura e do APCA, atribuído pela Associação Paulista de Críticos de Arte.
Tem ainda publicados uma novela - 'Orfãos do Eldorado' - e um livro de crónicas - 'Um solitário à espreita'.
Na Companhia das letras Portugal estão publicados 'Relato de um certo Oriente', 'Dois irmãos' e, a partir de janeiro do próximo ano, 'A noite da espera'.
O autor começou a ser publicado em Portugal pela Livros Cotovia, que lançou 'Relato de Um cero Oriente', em 1999.
Em 2002, o Centro Português de Fotografia editou 'À superfície do tempo: viagem à Amazónia', com fotografias de Duarte Belo e texto do Hatoum.